Foto: Tania Rego/Agência Brasil| Foto:

Esta é a última coluna antes da tão esperada definição das eleições de 2018. Domingo que vem, entrarei na fila para votar novamente contra o PT. Pela evolução das intenções de voto nas últimas pesquisas, a não ser que Bolsonaro torture um bebezinho em praça pública, ele deverá ser eleito presidente com a maior votação da história brasileira. Seu maior mérito: conseguir captar o sentimento geral de indignação do povo brasileiro, multiplicá-lo durante os últimos quatro anos e personificar a figura de anti-establishment, anti-PT e salvador da pátria.

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Dito isso, não acredito que as coisas mudem radicalmente com a sua eleição. Obviamente, haverá muitas mudanças, mas a essência de nosso sistema político continuará a mesma. E, por isso mesmo, arrisco minhas previsões políticas para 2019 mesmo antes de Bolsonaro divulgar a composição de seu gabinete ou qualquer outra informação de governo que só se tornará pública depois de sacramentada sua vitória no segundo turno. Seguem algumas abaixo.

Composição de maioria nas casas legislativas: Bolsonaro tem dito que abandonará a velha política do toma-lá-dá-cá. Isso é muito bonito de se falar na campanha, mas simplesmente impossível de realizar no Brasil real. A grande maioria dos deputados elege-se com um único propósito: reeleger-se. Todo mundo quer suas emendas parlamentares aprovadas e financiadas para aparecer bonito nas fotos de seu curral eleitoral. Achar que a nova composição da Câmara é espetacularmente abnegada e republicana, focada nas mazelas do povo brasileiro, é de uma ingenuidade sassamutemística. O PSL elegeu uma bancada grande, é verdade, mas nem mesmo essa bancada é a trupe dos sonhos, longe disso. Muita gente entrou no vácuo dos puxadores de voto e o fato de terem sido eleitos pelo PSL não atesta de forma alguma sua qualidade como parlamentares. Aliás, estou certo de que muitos deputados da nova legislatura terão desempenho pior que alguns da legislatura atual que não foram reeleitos.

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Minha previsão: vai ter toma-lá-dá-cá, e não vai ser pouco.

Condução da economia:  Qualquer comparação com os anos Dilma seria injusta, pois Dilma foi a pior governante que já viveu neste setor da galáxia, desde o início dos tempos. A comparação correta será com o curto governo de Michel Temer, que, a despeito da impopularidade, conduziu a economia brasileira de forma exemplar no conturbado período pós-impeachment. Temer conseguiu, mesmo sem a legitimidade popular de um presidente eleito com grande votação, arrumar a casa além do que muita gente esperava. Não fosse aquela palhaçada dos irmãos carniceiros, teria provavelmente emplacado uma reforma na Previdência, passando para a história como um dos melhores presidentes que o Brasil já teve. Será Bolsonaro capaz de fazer melhor? Será que a mera menção do nome “Paulo Guedes” surtirá o efeito desejado, transformando o Brasil numa potência econômica? Acho difícil. Não creio que as privatizações serão portentosas, a começar pelo fato de que Petrobras, Caixa Econômica e Banco do Brasil estão fora da lista. Paulo Guedes, caso confirmado como ministro da Fazenda, fará um trabalho melhor que o de Henrique Meirelles? Acho que não. Tem tudo para ser tão bom quanto, mas nenhuma indicação de que fará algo genial, simplesmente porque não há genialidades que resolvam nossos problemas. As soluções são ortodoxas e bem conhecidas, mas dependem de reformas que só podem ser implementadas através do Legislativo, que por sua vez depende de uma composição de maioria simples para alguns casos e três quintos para casos mais complexos, que dependam de emenda constitucional. Ou seja, retornamos ao ponto anterior.

Minha previsão: a economia brasileira melhorará, sim, mas nada fora do comum. Creio que entraremos em um ciclo de crescimento de PIB sem muita oscilação para baixo, mas também sem números chineses ou mesmo americanos.

Segurança pública: Talvez a maior promessa de campanha de Bolsonaro, esse é também o ponto em que se espera mais dele. Reduzir a criminalidade requer reformar diversos pontos e etapas do sistema de lei e ordem, e o novo presidente tem capacidade de fazer muito pouco com canetadas executivas. Em relação às polícias, Bolsonaro depende muito dos estados, e não tem como sair disso, pois qualquer iniciativa de centralizar o comando policial em Brasília soará como algo saído diretamente dos programas de governo petistas. Ou seja, terá de fazer um trabalho localizado com cada governador, tentando aplicar padrões de inteligência, operação e conduta às corporações de cada estado. O mesmo vale para a maioria das penitenciárias, administradas em nível estadual. A posse e porte de armas com menos interferência e regulação do Estado só podem se tornar realidade se o novo Congresso votar a revogação do Estatuto do Desarmamento, ou seja, mais uma batalha no Legislativo.

Mesmo que tudo isso dê muito certo, o que é pouco provável, ainda resta um gargalo gigantesco no sistema: o Judiciário. O Código Penal atual beneficia os criminosos em diversos aspectos. Não somente isso: ele pune o cidadão de bem que se defende com um ônus incrivelmente pesado. E, em cima de tudo isso, há uma casta de juízes progressistas sempre prontos a julgar bandidos com leniência, na fé de que foi a sociedade malvada que os corrompeu. Mudar tudo isso, além de ser tarefa hercúlea, levará muito mais que quatro anos.

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Minha previsão: a segurança pública deve melhorar, mas Bolsonaro não terminará o mandato com índices civilizados de homicídios. Vai depender de ser reeleito e continuar um eventual bom trabalho na área para desfazer o que duas décadas e meia de esquerda no poder fizeram.

Educação: Mais um tema bem mais ligado aos estados que ao governo federal. Bolsonaro deve criar condições para que as escolas militares cresçam em número e em atuação, e isso pode ter um impacto bem positivo, porém pontual. Não dá para militarizar o sistema todo, e isso nem seria desejável, no meu ponto de vista. Mas, com uma atuação forte e correta do Ministério da Educação (a depender de quem ele colocará para comandar a pasta), essa é uma área em que não há muito como piorar. A história toda do kit gay e outros temas de gênero são bandeiras populares para o público conservador, mas não fazem realmente muita diferença no resultado final, na quantidade de meninos e meninas que saem do ciclo básico sabendo ler, escrever e fazer operações aritméticas. A mudança de foco, no entanto, de uma educação “lacradora” para uma em que as matérias básicas sejam prioridade, pode gerar resultados bons no médio prazo. Novamente, nada que se veja em apenas quatro anos, mas uma semeadura que pode germinar já em um eventual segundo mandato.

Minha previsão: Bolsonaro conseguirá consertar o currículo e ajustar o foco do ensino, mas os índices não melhorarão de forma perceptível no seu mandato.

Há muitos outros temas que poderiam ser elencados aqui, entre eles saúde pública, reforma política, reforma da Previdência, ajuste das agências reguladoras, obras públicas de grande porte, transportes etc. Eu quis escrever um pouco sobre os temas mais citados pelo próprio candidato em sua campanha. Obviamente, teremos tempo para desenvolver todos os outros, e o próximo presidente pode se beneficiar muito de uma ampla discussão pública em torno de cada um deles. É assim que acontece nas democracias mais sólidas e maduras, é assim que deveria acontecer no Brasil. Torçamos para que Jair Bolsonaro também pense assim.