Parece justo dizer que, até agora, 2023 não transcorreu como Ron DeSantis esperava que fosse lá no início do ano, em janeiro. Afinal de contas, o governador da Flórida foi indiscutivelmente o maior vencedor das midterms de 2022. Em uma noite repleta de decepções republicanas, ele se destacou dentre todos os candidatos do GOP ao conseguir uma impressionante vitória com 19 pontos de vantagem sobre Charlie Crist, selando sua reeleição. Além disso, graças ao desempenho de DeSantis na disputa majoritária, os republicanos da Flórida viraram quatro assentos no Congresso e ampliaram as maiorias no Legislativo estadual.
Como resultado, na manhã seguinte à eleição, DeSantis apareceu na primeira página do New York Post de Rupert Murdoch com a manchete “DeFuture”. A homenagem foi a demonstração mais explícita de apoio de Murdoch, dono da Fox News. Murdoch, que tentou – sem sucesso – impedir a vitória de Donald Trump nas primárias republicanas, em 2015, estava encorajando DeSantis a concorrer em 2024 já em 2020.
A vitória esmagadora de DeSantis, combinada com uma série de derrotas de candidatos alinhados a Trump, levou a um aumento considerável no apoio da Flórida. De acordo com os números da RealClearPolitics em relação às primárias do GOP para a eleição de 2024, DeSantis estava mais de 31 pontos atrás de Trump no dia das midterms de 2022. No entanto, em meados de janeiro, o apoio de DeSantis havia subido para 31,3%, apenas 13 pontos atrás de Trump. A bem da verdade, algumas pesquisas chegaram a colocar DeSantis à frente do ex-presidente. Seis meses depois, parece que esses números são de uma era longínqua. Afinal, o que causou uma mudança tão drástica?
No momento, Trump parece estar no controle das primárias do GOP em 2024, mas ainda tem muito tempo para a eleição
Em primeiro lugar, Donald Trump não perdeu tempo e lançou sua campanha presidencial em 15 de novembro de 2022. Imediatamente após entrar na corrida, o ex-presidente partiu para a ofensiva contra DeSantis, atacando-o em todas as frentes e com seu jeito comumente impiedoso. Já DeSantis manteve seu plano de acumular vitórias legislativas na primeira metade de 2023 antes de anunciar oficialmente sua candidatura. A questão, porém, foi que DeSantis se absteve, na maior parte dos casos, de responder aos ataques de Trump. Estes, portanto, tiveram muito mais cobertura midiática que as vitórias de DeSantis no Legislativo floridiano, em Tallahassee.
Além disso, as notícias dos indiciamentos de Trump no caso de Nova York sobre os pagamentos para Stormy Daniels e no caso do Departamento de Justiça sobre os documentos de acesso restrito levados para Mar-a-Lago garantiram que Trump dominasse a mídia do país inteiro. O ex-presidente sempre foi adepto da estratégia de que qualquer publicidade é melhor que nenhuma publicidade, o famoso “falem mal, mas falem de mim”. E ele tem tido sucesso com isso. A acusação de Nova York foi particularmente impactante nas pesquisas. Quando as notícias das acusações foram divulgadas pela primeira vez, em 30 de março, Trump estava 15,8 pontos à frente de DeSantis na média do RealClearPolitics (45,9% a 30,1%). Posteriormente, a liderança de Trump cresceu constantemente nas semanas seguintes, até atingir um pico de 36,9 pontos, em 19 e 20 de maio. Enquanto isso, DeSantis teve seu anúncio oficial de candidatura ofuscado por dificuldades técnicas do Twitter, que atrapalharam seu evento inaugural com Elon Musk.
Apesar de tudo isso, há uma notícia positiva para DeSantis. Parece que a segunda acusação de Donald Trump não está tendo o mesmo efeito nas pesquisas. Desde o anúncio de 8 de junho, a vantagem de Trump aumentou apenas 0,6 ponto, sugerindo que ele pode estar atingindo seu teto.
Independentemente disso, DeSantis e o restante dos adversários republicanos de Trump enfrentarão um terreno difícil nos próximos meses. O próximo grande evento nessa corrida está marcado para 23 de agosto, quando a Fox News sediará o primeiro debate das primárias do Partido Republicano. Trump está ameaçando boicotar esse debate, o que nos deixaria com seis prováveis participantes: DeSantis, Mike Pence, Nikki Haley, Tim Scott, Chris Christie e Vivek Ramaswamy.
No momento, Trump parece estar no controle das primárias do GOP em 2024, mas ainda tem muito tempo para a eleição. Muito mesmo. Acompanhemos.