Depois de mais de dois anos sem colocar os pés no Brasil, estou aqui. Uma viagem de trabalho me trouxe a Belo Horizonte por alguns dias, de onde escrevo esta coluna. Tem sido uma ótima oportunidade de conversar com gente de diversos extratos sociais, incluindo motoristas de táxi e Uber, porteiros, empresários, funcionários de linha de produção, gerentes industriais, técnicos mecânicos, garçons e aposentados. Meu empenho em puxar assunto com todo mundo que cruza a minha frente tem dois motivos: eu tenho convicção de que as redes sociais nos trancam em bolhas, e que nossa percepção da realidade acaba distorcida pelo que vemos em nossas linhas do tempo de Twitter, Facebook e Instagram; e um conto de fadas contém mais fatos verdadeiros que as narrativas publicadas na maioria dos jornais e revistas que compõem a grande imprensa.
Sendo assim, gostaria de descrever um breve resumo de algumas conversas que tive. Obviamente, elas retratam uma realidade local, de moradores da região metropolitana de Belo Horizonte, mas não deixam de ser um bom indício do que pensam os brasileiros das grandes capitais.
A primeira história, a que mais me impressionou, foi a que citei em um post recente de Facebook e que teve mais de mil curtidas e quase duas centenas de comentários. Durante o voo direto da Azul de Orlando para Belo Horizonte, sentei-me ao lado de uma senhora com seus 55-60 anos e passei a viagem toda lendo um livro e vendo filme. A cerca de uma hora da chegada, resolvi trocar algumas palavras, e comecei perguntando se ela estava indo ou voltando ao Brasil. Acabei descobrindo que ela tem filhos que moram nos EUA e tinha acabado de passar 2 meses por lá; que o marido tem um ótimo emprego público no Brasil e ela é aposentada de uma empresa estatal; que ela adora os EUA, pois acha que lá tudo funciona e que o país é muito bonito, e considera muito se mudar quando o marido se aposentar; que ela acha os políticos brasileiros vergonhosos e corruptos e que o país está muito mal. Apesar de tudo isso, quando lhe perguntei sobre as eleições deste ano, ela me disse: “Se o Lula for candidato, votarei nele. Na época dele, o Brasil era melhor. E votarei na Dilma para senadora.”
Os dois motoristas de Uber que conheci até agora eram jovens e solteiros. Um está terminando a faculdade de engenharia e o outro trabalha com sistemas de informação e nas horas vagas assume o volante. Ambos, ao saberem que moro nos Estados Unidos, disseram que planejam deixar o Brasil – um deles até me pediu informações de como conseguir um visto de trabalho, deixando seu cartão de visitas para eu lhe mandar um e-mail. Sobre as eleições, nenhum dos dois tem candidato definido; na verdade, expressaram aquele sentimento muito comum ao brasileiro de “não ter em quem votar”.
Um dos empresários com quem conversei é dono de uma indústria de tamanho médio. Ele emprega mais de uma centena de pessoas e opera com a totalidade de seu faturamento devidamente declarado à Receita Federal. Ou seja, uma raridade. Perguntei-lhe o porquê dessa conformidade e a resposta foi lógica: “Quero estar preparado para qualquer grupo internacional que porventura queira comprar meu negócio. Se alguém fizer uma due diligence aqui hoje, encontrará a casa arrumada.” Ao ser indagado sobre as eleições, ele me expôs seus receios em relação aos principais candidatos. Lula seria a hecatombe nuclear, Ciro seria o desastre completo, Marina e Alckmin seriam o mais do mesmo e Bolsonaro, embora longe do ideal, seria a melhor opção. As perspectivas dele são as de alguém que depende fortemente do câmbio em seu negócio.
Conversei também com um gerente industrial e com um diretor de um grande banco. Ambos parecem ter uma vida relativamente tranquila em termos financeiros e nenhum dos dois expressou desejo de se mudar do Brasil. Sobre as eleições, preferem Bolsonaro, abominam Ciro Gomes. As ressalvas para com o candidato do PSL são as mesmas que também ouvi do empresário: militar, meio tosco, vai ter de governar com o apoio dos mesmos partidos corruptos que aí estão, dentre outras queixas. Não veem, no entanto, outra saída no momento.
E o pessoal de chão de fábrica? Os que conversaram comigo ganham entre R$ 1.500 e R$ 2.000 por mês e trabalham na periferia de Belo Horizonte. Não tive muito tempo de aprofundar as conversas, porque não queria atrapalhá-los, mas tive tempo suficiente para perguntar sobre a preferência por um candidato à presidência. Três não sabem em quem votar ainda, o quarto está decidido por Bolsonaro.
Há alguma conclusão a se tirar dessas conversas? Em minha opinião, sim. Em primeiro lugar, não vi nenhum radical, daqueles que aparecem xingando e vociferando cada vez que você tece uma crítica ao seu candidato; nenhum apaixonado por político, nem mesmo a senhora que votaria em Lula. Segundo, tem muita gente indecisa, principalmente os da classe C, o que me faz duvidar das previsões ultra otimistas dos bolsonaristas mais apaixonados, que preveem vitória de seu candidato ainda em primeiro turno. Terceiro, que Lula ainda representa uma ameaça ao Brasil e, caso consiga sair da prisão com a ajuda do STF – que será presidido pelo eterno petista Toffoli, em breve –, tem chances de jogar o país no caos.
No mais, estou aproveitando o que Minas tem de melhor: hospitalidade, simpatia e comida excelente. Voltarei mais gordo, com certeza.
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