Fachada da Suprema Corte dos Estados Unidos: decisão sobre quem deve definir regras eleitorais deve ficar para depois das midterms de novembro.| Foto: EFE/EPA/Shawn Thew
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A Suprema Corte norte-americana concordou, na quinta-feira, em ouvir um caso que pode mudar drasticamente a forma como as eleições são conduzidas nos Estados Unidos. Está em discussão uma tese que daria às legislaturas estaduais autoridade irrestrita para definir as regras eleitorais.

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Conhecida como “teoria da legislatura estadual independente”, essa tese é uma interpretação direta do artigo I da Constituição, que diz: “Os horários, locais e maneira de se realizar eleições para senadores e representantes federais serão determinados em cada estado pela legislatura do mesmo”. De acordo com seus defensores, o texto constitucional dá às legislaturas estaduais o poder de regular as eleições a cargos federais representativos de seus estados, e esse poder não é sujeito à ação de tribunais estaduais ou federais.

A discussão chega ao tribunal máximo do país por meio de um caso da Carolina do Norte. Lá, a suprema corte estadual rejeitou a nova divisão distrital aprovada pela legislatura estadual por entender que ela causará um desequilíbrio extremo, beneficiando somente um partido, e que por isso viola a Constituição do estado. Para fundamentar seu poder de decisão, a suprema corte da Carolina do Norte destacou que a Constituição estadual e a própria legislatura estadual autorizam o Judiciário estadual a revisar os planos de remarcação distrital.

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Se a teoria da legislatura estadual independente estivesse em vigor nas eleições de 2020, seria quase certa a vitória de Donald Trump

O presidente republicano da Câmara dos Deputados da Carolina do Norte e outros legisladores do Partido Republicano apelaram à Suprema Corte dos EUA, alegando que apenas a legislatura poderia alterar os planos de remarcação distrital, jamais a suprema corte estadual.

Em março deste ano, o juiz Brett Kavanaugh disse que a Suprema Corte precisaria, em algum momento, “considerar cuidadosamente” a questão da legislatura estadual independente, “já que é quase certo que ela continuará surgindo” até que seja definitivamente resolvida. Os juízes Samuel Alito, Clarence Thomas e Neil Gorsuch levaram a questão um passo adiante, declarando que “deve haver algum limite na autoridade dos tribunais estaduais para revogar ações tomadas por legislaturas estaduais”, mostrando uma clara tendência de apoio à tese.

Por outro lado, o juiz John Roberts, presidente da casa – que nunca pode ser contado como voto conservador e nem como liberal –, havia dito em 2019 que uma das maneiras de se evitar a manipulação partidária é justamente permitir que os tribunais estaduais continuem a supervisionar os planos de remarcação distrital do Congresso.

Um outro caso envolvendo a tese foi parar na Suprema Corte em 2015, e naquela ocasião o tribunal confirmou o direito dos eleitores do Arizona de tornar o processo de remarcação distrital menos partidário, através da criação de uma comissão independente de remarcação para modificar as linhas distritais do Congresso. Na ocasião, a juíza liberal Ruth Ginsburg afirmou que o princípio basilar da Constituição federal é o de que o próprio povo é a fonte originária de todos os poderes do governo, e que o texto da cláusula eleitoral não dá às legislaturas estaduais o poder de promulgar leis que desafiem as disposições das Constituições de seus respectivos estados.

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Com o “pré-apoio” de Kavanaugh, Alito, Thomas e Gorsuch, e o quase-certo voto contrário de Roberts, Sotomayor, Kagan e Jackson, ficará provavelmente nas mãos de Amy Coney Barrett a decisão sobre o tema. O caso deve ser discutido somente depois das midterms e seu desfecho pode impactar significativamente a eleição presidencial de 2024. Se a teoria da legislatura estadual independente estivesse em vigor nas eleições de 2020, seria quase certa a vitória de Donald Trump, já que foram justamente as mudanças de regras de última hora – impostas por tribunais e burocratas em nível estadual – em estados como Wisconsin, Michigan e Arizona que permitiram a virada de Joe Biden com a contagem de centenas de milhares de cédulas que, pelas regras anteriores, não valeriam.

Esse assunto não ocupará muito espaço em nenhum lugar de destaque da mídia brasileira, mas é certamente um dos mais importantes para o futuro dos Estados Unidos nesse momento.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]