Em 2018, eu fiz questão de votar em ambos os turnos. Para quem não sabe, brasileiros que residem em outros países votam apenas para a Presidência da República. Eu sei, é meio óbvio, já que não temos domicílio em um estado e nem em um município brasileiros. Mas não custa explicar o óbvio de vez em quando. Enfim, votei em João Amoêdo no primeiro turno e, com muita azia e a contragosto, em Bolsonaro no segundo. Milhões de brasileiros fizeram o mesmo, gente que até hoje se recusa a votar no PT, gente que vibrou quando Lula foi preso, gente que queria apenas um político minimamente decente para equilibrar a indecência sem fim que marcou os 13 anos de Lula e Dilma no poder.
Sejamos sinceros: não era difícil fazer algo melhor. O próprio Temer, com pouco mais de meio mandato disponível, melhorou muito o país. Novamente, insisto, não era difícil. Bastava que tivéssemos alguém que fosse somente um pouco melhor que Lula e Dilma. Alguém que não fosse populista ao extremo. Alguém que não colocasse sua família e seus amigos acima dos interesses da nação. Alguém que indicasse ministros do Supremo por mérito profissional. Alguém que tratasse a PGR como uma Procuradoria-Geral da República, e não como escritório de advocacia do presidente e de sua família. Alguém que fizesse mais do que falasse. Alguém que pelo menos escondesse bem suas pilantragens. Enfim, alguém que não fosse nem Lula, nem Dilma e nem Bolsonaro.
Nem petistas nem bolsonaristas admitem uma terceira via porque, caso ela exista e seu candidato chegue ao segundo turno, ele não terá a menor chance de vencer
Se tivemos PT versus PSDB em nada menos que seis eleições – de 1994 a 2014 –, agora temos Lula versus Bolsonaro. Pelo menos é disso que as turmas mais barulhentas dos dois lados querem nos convencer. A nova onda dos políticos e influencers, tanto do extremo petista como do extremo bolsonarista, é declarar que a terceira via não existe. O discurso é exatamente o mesmo. Petistas dizem que a terceira via fará com que Bolsonaro seja reeleito e, com isso, o Brasil será destruído. Bolsonaristas dizem que a terceira via fará com que Lula volte ao poder e, com isso, o Brasil será destruído. A razão da coerência do discurso: ambos os lados sabem que só têm chance de vitória se o outro lado for o adversário do segundo turno. Sozinhos, eles não têm como vencer. Não têm número suficiente de votos. Precisam do fantasma de destruição pairando sobre as cabeças dos eleitores no dia da votação, aquela sensação de “ou eu voto nele, ou o outro ganha e o país acaba”.
Do lado do petismo, os argumentos são tão absurdos que fica até difícil de tecer comentários. Afinal de contas, estamos falando de pessoas que pretendem votar em um sujeito que foi condenado e preso por corrupção, que comandou o maior esquema de compra de votos parlamentares da história humana, e que ainda planeja usar o Brasil como pivô de retomada da América Latina para os governos de esquerda marxista. Basicamente, o sonho não acabou para esse pessoal.
Do lado do bolsonarismo, as explicações são um pouco mais diversas. A ala ensandecida, composta por gente que acredita que Bolsonaro é um enviado do Todo-Poderoso para salvar o Brasil, não admite terceira via exatamente pelo apontamento divino do atual presidente, e também porque pretende iniciar uma dinastia familiar que ocupará o poder até o Sol virar uma supernova. A ala radical diz que não há razão para uma terceira via, já que a política brasileira é corrupta em seu todo e que Bolsonaro é um raríssimo caso de político honesto e que só quer o melhor para o seu povo. E a ala moderada diz que não é a hora certa para uma terceira via, que devemos deixar Bolsonaro governar por um segundo mandato e, durante esse governo, viabilizar um candidato que possa dar continuidade às ótimas ações do governo.
Na verdade, o que cada um deles quer dizer é que não admite uma terceira via porque, caso ela exista e seu candidato chegue ao segundo turno, ele não terá a menor chance de vencer.
Se você não faz parte de nenhuma das duas torcidas organizadas de político e quer que Lula e Bolsonaro sumam da política nacional para sempre, a terceira via é tudo que nos resta. Uma candidatura bem construída, que consiga um tempo de televisão decente e uma coordenação digital efetiva, terá, sim, chances de chegar ao segundo turno. Há muitos loucos, há muitos militantes, mas eles não são maioria, eles não conseguem decidir uma eleição sem o seu e o meu voto. Para evitar um segundo turno forjado nas profundezas do inferno, com esses dois estropícios imundos concorrendo, a terceira via precisa decolar.
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