Foto: Marcos Corrêa/Presidência da República| Foto:

E 2018 começou oficialmente, ao menos para o subconjunto de países “mundo menos Brasil”. Em terras tupiniquins, este ano será de muitas e muitas distrações e interrupções – julgamento do Lula, carnaval, Copa do Mundo, primeiro e segundo turno das eleições, além de oito feriados nacionais caindo em dias úteis, sendo metade deles em terças ou quintas-feiras.

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Se o Brasil já não é dos lugares mais fáceis de se empreender, em anos como o de 2018 a coisa fica ainda pior. Quem é ou foi empresário sabe que cada dia a menos de trabalho é um dia a menos para faturar; cada dia a menos para faturar é um dia a menos para gerar o dinheiro que pagará contas, salários e impostos e, se tudo der certo, um pouco de lucro distribuído aos sócios no fim do ano. Expostos a uma carga tributária escorchante – 33% do PIB –, os empresários brasileiros costumam soltar frases infames, em tom de tragicomédia, quando em eventos onde se reúnem com seus pares: “paguei a guia do meu sócio majoritário [o Estado] hoje”, “presumiram meu lucro, mas eu ainda não consegui encontrá-lo”, “a partir de hoje, 2 de maio, começo a trabalhar para mim mesmo”. Esta última, clássica, refere-se aos 33% citados acima, mas a realidade é ainda pior. Apelemos para a matemática simples.

Um ano não bissexto tem 365 dias. Desses, 286 são produtivos – os outros 79 consistem em domingos e metade dos sábados. Em 2018, já considerando que os feriados às terças e quintas serão transformados em feriadões, com pontes nas segundas e sextas, os 286 dias serão reduzidos em mais 23, restando apenas 263 dias realmente úteis. Mas em 2018 tem Copa do Mundo. São dois jogos da primeira fase, oitavas, quartas e semifinal ocorrendo em dias de semana, ou seja, mais cinco dias inúteis. Some-se pelo menos mais oito dias de feriados municipais ou estaduais, e temos o saldo final de 250 dias. Se um terço do Produto Interno Bruto acaba nas mãos do Estado em forma de impostos, significa que restarão apenas 167 dias para se produzir riqueza efetiva, aquela que gera empregos e movimenta a economia. Fazendo a conta reversa, descobrimos que o primeiro dia real de geração de riqueza em 2018 (tomando uma empresa que opere na cidade de São Paulo como exemplo) será 21 de maio.

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Resumindo: se juntarmos uma burocracia gigantesca para se abrir uma empresa (processo que não leva menos que dois meses), um regime tributário que pune o empreendedor e o taxa sob a presunção de lucro, um arcabouço arcaico de leis trabalhistas que impedem negociações reais e adultas entre empregadores e empregados, um sistema bancário com juros altíssimos, uma legislação tributária que encarece desde contratações de pessoal até o frete de um produto, um calendário cheio de feriados, uma mentalidade generalizada de que “nada acontece antes do carnaval”, uma Copa do Mundo e as eleições presidenciais mais esperadas das últimas duas décadas, o resultado será um ano bem difícil para o empresariado brasileiro. É claro que o cenário macroeconômico em leve crescimento ajuda um pouco, mas seria nada mais que ilusão acreditar que 2018 será um ano muito bom para negócios no Brasil; será, na verdade, um ano tenso e difícil. E, caso aconteça uma catástrofe eleitoral e Lula ou Dilma voltem a presidir o país, será também o ano para se colocar uma lápide nacional com uma cruzinha ao lado. Se é de seu costume, agora é a hora de bater na madeira.