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Flavio Quintela

Flavio Quintela

Um vaso na Casa Branca

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. (Foto: EFE)

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Daqui a menos de oito meses, os Estados Unidos realizarão suas eleições parlamentares de meio de mandato, conhecidas como midterms. Todos os 435 assentos da Câmara e 35 do Senado estarão em disputa. A aposta mais certeira é de que o Partido Republicano será o vencedor, retomando o controle de ambas as casas do Congresso.

Se fosse preciso citar uma única regra prática da política americana, seria esta: o partido do presidente em exercício quase sempre perde assentos na Câmara nas midterms. Desde a presidência de Harry Truman (1945-1953), o partido do presidente perdeu, em média, 29 cadeiras na Câmara nas eleições de meio de mandato. No mesmo período, o partido do presidente ganhou assentos durante seu primeiro mandato em apenas uma ocasião. Aconteceu em 2002, quando George W. Bush era presidente. Os republicanos conquistaram oito cadeiras na Câmara.

Esse resultado incomum vinte anos atrás destaca o fato de que as midterms funcionam como um referendo sobre o presidente. No outono de 2002, Bush estava se beneficiando do duradouro efeito da mobilização nacional gerada pelos ataques de 11 de setembro. Seu índice de aprovação logo antes das eleições era maior que 60%. Esse é um número que a maioria dos presidentes só pode sonhar em chegar em seu primeiro meio de mandato. Desde a época de Truman, sete dos treze presidentes chegaram às suas primeiras midterms com índice de aprovação abaixo de 50%. Esses presidentes viram seu partido perder, em média, 43 cadeiras na Câmara. O presidente Barack Obama, cujo índice de aprovação era de 45 por cento em 2010, levou uma surra que os democratas não conseguiram digerir até hoje: perderam 63 cadeiras na Câmara.

Quando o assunto é Senado, os números são menos desiguais. Ainda considerando o período que vai de Truman até hoje, o partido do presidente conquistou cadeiras em cinco dessas eleições. A instância mais recente ocorreu em 2018, quando os republicanos conquistaram dois assentos durante o segundo ano do presidente Donald Trump no cargo. Um dos principais motivos para essa diferença entre Câmara e Senado está no fato de que apenas um terço das cadeiras do Senado entra em disputa em cada eleição.

Os republicanos estão se sentindo bem para as midterms de 2022. É fácil entender a razão de seu otimismo:

  • A aprovação de Biden está abaixo de 40% e não dá sinais de melhora. Para colocar isso em perspectiva, apenas Truman, em 1946, teve um índice de aprovação mais baixo no momento das midterms (33%);
  • Os democratas têm 222 cadeiras na Câmara, ou seja, apenas quatro cadeiras a mais do que o necessário para manter a maioria. Por conta disso, os candidatos republicanos podem ter um desempenho muito abaixo das médias históricas e ainda retomar a Câmara;
  • Até agora, trinta e um democratas da Câmara – ou aproximadamente um em cada sete – anunciaram que não concorrerão à reeleição. Geralmente é mais fácil ganhar uma vaga aberta do que derrotar um titular.
  • A inflação está em um pico de quarenta anos. Quase seis em cada dez norte-americanos dizem que a inflação está causando dificuldades para eles ou para alguém de sua casa (alguns republicanos apelidaram o presidente de “Bidenflation”);
  • Muitos eleitores se cadastraram como republicanos em 2021. O Instituto Gallup mostrou, no início do ano, que os democratas lideravam os republicanos na identificação do partido por nove pontos percentuais. No final do ano, os republicanos lideravam por cinco pontos. Essa oscilação de quatorze pontos está entre as maiores que o Gallup já registrou na história.

Nem tudo, porém, aponta para um desastre inominável para os democratas. A matemática do Senado os favorece: eles estão defendendo apenas quatorze cadeiras. Apenas três desses assentos parecem estar em risco significativo e, em cada caso, o titular está concorrendo à reeleição: Arizona (Mark Kelly), Geórgia (Raphael Warnock) e Nevada (Catherine Cortez Masto). Por outro lado, os republicanos estão defendendo 21 cadeiras no Senado. Três dessas corridas parecem ser muito competitivas. Duas delas - Carolina do Norte e Pensilvânia - são casos em que os atuais mandatários (Richard Burr e Pat Toomey) optaram pela aposentadoria. Em Wisconsin, o titular (Ron Johnson) está buscando a reeleição.

Em meio à desastrosa presidência de Biden, as midterms ganharam uma importância histórica. Sem as duas casas em suas mãos, Biden terá muito menos poder de passar projetos de lei prejudiciais ao país. Aliás, ele só não o fez até agora por causa de um homem, Joe Manchin. Ele já foi tema de uma coluna anterior, e sua atuação independente continua a salvar os Estados Unidos diariamente. Desprovido por completo de apoio parlamentar, Biden deverá passar os seus últimos dois anos de mandato como mera peça decorativa na Casa Branca.

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