| Foto: Steve Buissinne/Pixabay
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Nas últimas três semanas, tive a oportunidade de conversar com um grupo bastante eclético de pessoas e de colher suas opiniões sobre o armamento de civis. Embora minhas conversas não sejam, de forma alguma, um indício estatístico sobre o assunto, é no mínimo curioso que um grupo tão diverso de pessoas tenha opiniões tão semelhantes. As conversas aconteceram em algumas reuniões de trabalho e também em uma festa de aniversário.

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A pessoa 1 é mulher, branca, 58 anos de idade, casada, três filhos, trabalha no setor público, sem filiação partidária, mas com preferência republicana. Ela não possui uma arma em casa, mas disse que está planejando ir com o marido a um estande credenciado para tirar licenças de porte e adquirir sua primeira arma de fogo. Quando perguntada sobre o porquê de não ter feito isso antes, me disse que sempre se preocupou com o perigo de ter arma em uma casa com crianças. Agora que a filha mais nova se formou na faculdade, ela se sente mais segura.

A pessoa 2 é homem, negro, 33 anos de idade, casado, três filhos, trabalha com vendas, filiado ao Partido Republicano, entusiasta de Donald Trump. Ele possui diversas armas em casa, uma em cada cômodo. Já levou todos os filhos para praticar, até mesmo o de 6 anos. Ele me disse que suas crianças sabem do perigo das armas e, por terem sido assim ensinadas, jamais pegam uma arma a não ser que haja uma emergência em que precisem defender os pais ou os irmãos. Ele tem licença para porte e carrega uma arma consigo o tempo todo.

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O conceito de que se armar é um direito está profundamente inserido na mentalidade de quem mora aqui nos Estados Unidos. Ninguém se assusta quando fica sabendo que há alguém armado ao redor, muito pelo contrário

A pessoa 3 é homem, latino, imigrante de Cuba, 60 anos de idade, casado, dois filhos, empresário, sem filiação partidária, mas com preferência republicana (como grande parte dos cubanos que aqui vivem). Mudou-se de New Jersey para a Flórida recentemente. Possui diversas armas em casa, possui licença de porte e pratica regularmente. Mesmo quando morava em New Jersey, um estado democrata e com leis de porte mais restritivas, ele tinha a licença para andar armado. Pratica caça a pássaros durante a temporada.

A pessoa 4 é homem, hindu, imigrante de Bangladesh, 32 anos de idade, divorciado, uma filha, trabalha com tecnologia da informação, sem filiação ou preferência partidária. Possui uma arma em casa e gosta de praticar, embora não o faça regularmente. Tem interesse em tirar a licença de porte, mas não está tendo tempo ultimamente.

A pessoa 5 é mulher, latina, imigrante da Bolívia, 44 anos de idade, casada, dois filhos, trabalha como diretora em um jardim da infância, sem filiação ou preferência partidária. Não possui arma em casa e não pretende comprar uma.

A pessoa 6 é homem, árabe, imigrante do Líbano, 34 anos de idade, casado, três filhos, trabalha como gerente de vendas em uma empresa de equipamentos eletrônicos, sem filiação partidária, mas com preferência republicana. Possui diversas armas em casa e licença de porte, embora nem sempre ande armado. A esposa também possui licença de porte. De acordo com ele, várias pessoas em sua equipe portam armas e ele não só tem ciência disso como as incentiva, desde que não as exponham em público.

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A pessoa 7 é mulher, de origem latina, 28 anos de idade, divorciada, uma filha, trabalha como gerente de uma pizzaria, sem filiação partidária, mas com preferência democrata. Mudou-se há alguns anos do estado do Óregon, um dos redutos democratas da costa oeste, para a Flórida. Possui duas armas em casa e, embora tenha licença de porte válida em cinco outros estados, ainda não se informou sobre como tirar algo semelhante por aqui.

As entrevistas foram feitas no centro de Orlando e num bairro de Winter Garden. Orlando é uma das cidades “azuis” da Flórida, um dos poucos lugares daqui onde os democratas ainda vencem alguma eleição. Mesmo assim, e mesmo com perfis tão diferentes, as pessoas que entrevistei apoiam o armamento do mesmo jeito que a grande maioria da população norte-americana. O conceito de que se armar é um direito está profundamente inserido na mentalidade de quem mora aqui. Ninguém se assusta quando fica sabendo que há alguém armado ao redor, muito pelo contrário.

Brasileiro gosta de ser mandado pelo Estado. Gosta de ser proibido de ter arma, de ser obrigado a se vacinar, de ser obrigado a usar um pedaço de pano no rosto, de ser obrigado a votar etc. A noção de liberdades e direitos individuais parece não colar na cabeça de grande parte dos brasileiros

No Brasil, país em que se executou a maior lavagem cerebral já conhecida, armamento ainda é tabu. Armamento é palavrão na boca da esquerda. No Brasil ainda se ouve e lê coisas como “Por que alguém teria seis armas em casa? Que absurdo!” e não faltam aplausos para os autores de tais asneiras. E é no Brasil que a grande mídia acha o fim do mundo que Bolsonaro tenha um dia, no passado, flexibilizado as normas e regras para a aquisição de armas de fogo e munição (e olha que ele flexibilizou muito pouco, quase nada).

Como eu costumo dizer, brasileiro gosta de ser mandado pelo Estado. Gosta de ser proibido de ter arma, de ser obrigado a se vacinar, de ser obrigado a usar um pedaço de pano no rosto, de ser obrigado a votar etc. A noção de liberdades e direitos individuais parece não colar na cabeça de grande parte dos brasileiros. É por isso que temos assistido a um recorde de assaltos à liberdade de expressão, perpetrados tanto pelo Estado como por empresas privadas, e aplaudidos pela grande maioria da imprensa. Um país de vítimas mudas: é nisso que o Brasil está se transformando.

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Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]