Você deve estar acompanhando as notícias sobre como grandes feiras têm diminuído de tamanho, não só no Brasil, mas no mundo todo. Os grandes players que produzem esses eventos há décadas estão sem entender. Por que aquilo que faziam tão bem e era tão desejável tem perdido seu valor?
Para responder, quero te convidar a pensar um pouco na nossa história recente. Estamos há pouco mais de 10 anos conectados, o que não é muito tempo se pensarmos o quanto esse fenômeno transformou a nossa realidade. O smartphone, a internet de alta velocidade, as redes sociais e tantas outras tecnologias que vieram com esse novo mundo digital, conseguiram mudar completamente o modo como compramos, paqueramos, nos relacionamos, trabalhamos e vivemos, arrisco dizer que talvez tenha sido uma das maiores mudanças que já vivemos na história.
E essa revolução que gerou tanto progresso, conhecimento e conexões também nos trouxe alguns malefícios. Nos transformamos e acabamos, em muitos casos, sendo dominados por ela. Não sei se você sabe, mas o Brasil é o segundo país no mundo que passa mais tempo conectado nas redes sociais, só perdemos para a Filipinas. E também somos um dos únicos que não diminuiu sua utilização de um ano para outro, na maioria dos países houve uma redução.
Somos a geração que cultua influencers, segue gurus digitais e se encanta com as fotos do “mundo perfeito” que nos são apresentadas todos os dias nas redes sociais.
Ainda temos a curiosa parcela da população que, quando vê um acidente, parece se preocupar mais em registrar aquele momento do com as próprias vítimas que estão ali.
Essa conexão gerou uma grande desconexão com nossos valores essenciais e, principalmente, com nossa humanidade. Ficamos distantes dos nossos amigos, dos abraços, dos cheiros, dos olhares e das risadas. Nos distanciamos de contemplar um pôr do sol e, de forma egocêntrica, convertemos os relacionamentos para a lógica dos interesses.
Você deve estar se perguntando: “Mas o que tudo isso tem a ver com os eventos?”. Tem muita coisa. As grandes feiras e eventos ao redor do mundo sempre estiveram pautados em produtos, o que, de alguma forma, com a globalização, se tornou cada vez mais obsoleto.
Antes, dependíamos desses grandes eventos para buscar inovação e conhecimento sobre o futuro e o mercado, mas, hoje, é possível acompanhar os principais lançamentos mundiais praticamente em tempo real. Conseguimos nos manter antenados sobre praticamente tudo em poucos cliques.
Mas o que os olhares mais atentos conseguem ver é que existe um novo tipo de evento que tem ganhado força nesse cenário. São aqueles que têm colocado as pessoas no centro e não tão somente os produtos. Nesse mundo digitalizado, os eventos se tornaram o lugar onde podemos nos encontrar novamente, onde esquecemos um pouco do celular e voltamos a conversar, interagir e construir novos laços.
Cada vez mais, os novos eventos se preocupam em produzir uma rede de relacionamento sólida, apresentar experiências memoráveis e construir uma relação com as marcas que está muito mais ligada à causa do que somente a exposição de produtos e serviços.
Os novos eventos são aqueles que têm atmosfera de mudar o mundo, e, de forma genuína, constroem conteúdos para que você saia de lá se sentindo capaz de realmente mudar. Chega de mulheres com roupas justas e decotadas, expostas como objetos para chamar a atenção do possível cliente. Agora, chamar atenção do cliente não pode falar somente com a voz da razão. É preciso aprender a falar a voz do coração e entender que nunca, em toda a nossa história, precisamos tanto desses encontros como agora.
O futuro dos eventos é humano porque o nosso próprio futuro consiste no resgate da nossa humanidade. Precisamos recuperar o desejo por aquilo que toca a nossa alma mais do que toca a nossa racionalidade. Precisamos resgatar a presença real e não só a digital. Precisamos do toque, da troca e da interação. Porque “em terra de robô quem tem coração é rei”. Por aqui, sigo animado com o crescimento desses grandes encontros que ainda chamaremos de eventos.
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