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Atletas que guiam atletas
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Competidores com deficiência física precisam de auxílio para a prática de seus esportes. Missão para os “superguias”

Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo
O guia nunca pode estar à frente ou ficar para trás do atleta

Competir como qualquer outro. Esforço e dedicação em busca da vitória, mas não para si. Assim é a rotina dos atletas-guias.

Nas provas de atletismo, eles são os olhos dos compe­­tidores com cegueira total. A preparação para as provas é sempre em conjunto, pois o paratleta tem de confiar totalmente em seu guia. “O entrosamento entre guia e paratleta deve ser absoluto”, afirma o medalhista do Parapanamericano da Venezuela, em 1985, Mario Sérgio Fontes. Dentre os guias que o auxiliaram está o campeão Robson Caetano.

O paratleta explica que o guia deve ter até 20% a mais de preparo físico do que o deficiente, para que, quando este estiver em seu desempenho máximo, o guia não precise chegar ao limite também. “O guia é aquele que se adapta ao atleta que ele está guiando; ele nunca pode estar à frente ou ficar para trás. E, nas curvas, ele tem de ter muita noção de espaço”, afirma Fontes. Ele é deficiente visual 100% e hoje dirige um projeto de formação de jovens paratletas, o Clube Escolar Paralímpico Rio 2016.

Deve ficar claro para o guia que a competição é do deficiente, como explica a atleta-guia Iolanda Michele Cezar. “Obviamente que é complica­do colocar-se na situação, todos tem espírito de competidor, mas o que importa na pro­­va é o deficiente” conta.Normalmente o atleta guia recebe a medalha de participação (não recebe o troféu), mas certamente a maior vitória do guia é a superação diária.

O local para os treinos deve ser seguro para os atletas; não deve oferecer riscos com buracos ou movimento constante de carros. “Essa é a maior dificuldade no treinamento dos deficientes visuais”, lamenta Iolanda. O ideal é mesmo a pista de atletismo.

Já a rotina de treinos é igual à de outros atletas: aquecimento de músculos e articulações, alongamento – a parte principal –, e o relaxamento. O guia deve estar atento a qualquer obstáculo que possa atrapalhar ou contundir o paratleta, informando-o por cinestesia (através do toque). Nas competições, se usa a corda guia.

A relação entre o guia e o paratleta deve sempre ser de muito respeito e paciência. O guia deve expressar as informações através do contato cinestésico e da fala com clareza (sem a necessidade de gritar ou falar lentamente, a menos que o paratleta também tenha deficiência auditiva). Iolanda revela que é preciso respeitar os limites do deficiente, mas também trabalhar para estendê-los. “Meu deficiente visual corre muito mais forte do que eu, e sempre chega ao treino uma hora antes. Ele é 100% cego e 1.000% capaz”, orgulha-se.

A atleta guia Tamy Rezende desde 2011 na Maratona Caixa de Curitiba 2011. “Foram 42.195 km de muito aprendizado e reorganização da mi­­nha escala de valores. Com­­partilhamos em cada quilômetro nossas conquistas e superações”, conta.

Ela lamenta a falta de ações de incentivo à inclusão dos de­­ficientes. Contudo, por meio da Secretaria Municipal de Es­­porte e Lazer da Prefeitura de Curitiba (SMELJ), ela pôde concretizar a primeira etapa de seu projeto: correr a Maratona de Curitiba como atleta-guia. A segunda está por vir: preparar atletas-guias para promover a inclusão social de portadores de deficiência visual por meio do esporte.

Natação
Tappers: uma extensão do atleta fora da água

Jonathan Campos/ Gazeta do Povo
Os tappers avisam os nadadores da proximidade do término da prova

A natação é outra modalidade paralímpica importante. Competem atletas com todos os tipos de deficiência física. Os nadadores com defi­ciência visual recebem um aviso do tapper, uma pessoa que por meio de um bastão (com o mesmo nome), avisa quando eles estão se aproximando das bordas. Rui Menslin é técnico de natação há 12 anos e tapper de nadadores com 100% de cegueira. “Não é só tocar o atleta, deve-se ter noção de tempo e espaço. Ele [o tapper] tem de saber que o nadador pode dar uma ou duas braçadas a mais. Então, se não tocar no momento certo, o paratleta pode fraturar o braço, a mão ou a cabeça. O tapper é uma extensão do atleta” esclarece. Em competições internacionais, é obrigatório que haja dois tappers.

Colaborou: João Carlos Olímpio Fadino

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