Ouvir as canções preferidas ajuda os atletas na atividade física. Estudo brasileiro comprova o “doping” sonoro
Há 30 anos estudos científicos confirmam que a atividade física acompanhada de música resulta em melhor desempenho dos seus praticantes. No ano passado, uma pesquisa feita por brasileiros e publicada pela revista norte-americana Perceptual and Motor Skills acrescentou mais uma boa notícia a essa constatação tão nítida para quem corre com fone nos ouvidos. O diferencial do estudo está nos resultados obtidos quando em companhia das músicas preferidas durante o exercício físico.
Usar as canções prediletas é a melhor forma de incentivar o corpo a seguir em movimento sem apontar cansaço. No estudo, feito com 15 atletas em sessões de ciclismo, foram medidas as frequências cardíacas (FCs) e a percepção subjetiva de esforço (que mede, pela opinião do avaliado, o quanto a atividade está fácil, moderada, fatigante, insuportável) em cinco sessões de treino.
As duas primeiras foram para determinar a intensidade de exercício na qual a FC de cada um ficaria entre 75 e 85%, determinando sua potência crítica, a ser utilizada nas sessões seguintes. Nas outras três, pedalaram até a exaustão nessa faixa de frequência. Na primeira, ouviram uma lista de suas dez músicas favoritas para praticar atividade física. Na segunda sessão, ouviram as que não gostavam. Na terceira; nada de som.
Em qualquer uma das situações, não houve alterações significativas na FC, o que indica que não houve melhora física por causa da música. Os esforços foram similares nas condições com e sem música. A percepção subjetiva do esforço é que comprova os efeitos do cenário musical para os desportistas. Os atletas sentiram-se mais cansados ao ouvir canções que não gostavam do que com a música preferida ou sem som. Os ciclistas também percorreram distâncias maiores com as melodias que mais gostavam.
Distração do cansaço
“A estratégia de uso da música é para tirar a atenção do foco interno [a preocupação com a frequência cardíaca, o cansaço muscular, a respiração mais ofegante] e deixar o foco externo. É uma distração que permite se concentrar no movimento”, explica um dos coautores do artigo e professor do curso de graduação em Educação Física da Universidade Positivo, Gléber Pereira.
Mas, se o que sai dos fones de ouvido desagrada o atleta não consegue se distrair do foco interno. Mais um motivo para caprichar na montagem das listas de canções nos aparelhos de mp3, como faz a analista de relações institucionais Sílvia Sprenger, 40 anos.
Ela cria sequências musicais para os treinos e dá atenção especial ao que vai ouvir nos dias de prova. “Costumo correr os 10 km, então, seleciono de dez a quinze músicas no ritmo que quero imprimir. As primeiras, mais lentas. Depois que já aqueci e entrei no meu ritmo de corrida, as mais agitadas. Para o final, mais força ainda” conta. Durante a corrida, ela gosta de rock, em diferentes versões. “Escuto Ramones; The Killers não pode faltar”. Sílvia diz que os sons favoritos ajudam a “dar o gás” necessário para correr bem.
Seu técnico e coordenador do grupo de corridas da Academia Gustavo Borges, Marco Aurélio Piazza, indica a música na corrida especialmente para treinos de maior duração. “Para tiros ou os fartlek, o som não influencia tanto, pois é necessário estar atento às técnicas”, diz.
Pereira destaca, ainda, que a música tem efeito, digamos, “aditivante” às passadas quando se trata de um esforço moderado ou intenso – entre 60% a 85% da FC máxima. “A partir desse ponto, o esforço físico é grande e o que se ouve não é suficiente para distrair o atleta do esforço que o corpo está fazendo”, destaca.
Em tempo. A canção favorita para correr de Sílvia é Somebody Told Me (The Killers). Piazza não dispensa durante os treinos Sweet Child O’Mine, do Guns n’ Roses. Pereira prefere correr sem música, para ter melhor percepção do seu esforço.
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Cadenciado
Difícil é achar quem não goste de música. Mas não é sempre que ela deve estar aliada à corrida. Veja quando usar esse recurso:
ON (os prós)
– A música é estimulante e motiva. Também desvia a atenção do cansaço da atividade.
– Um playlist bem planejado pode ditar o ritmo de várias etapas de um treino. As mais calmas para o alongamento e o aquecimento. As mais agitadas para atingir maior velocidade. Retorna-se a um ritmo mais lento para o fim da sessão e os alongamentos finais.
– A música tira a monotonia de um longo treino sem companhia.
OFF (os contras)
– Quando se corre compartilhando espaço com automóveis, é mais seguro deixar o aparelho de mp3 desligado e evitar acidentes.
– A distração que a música causa pode tirar o foco de algo importante: a técnica de corrida. É interessante alternar trechos com som e outros em silêncio e ouvir a própria pisada e a respiração.
– Há provas que não permitem o uso de fones de ouvido. São poucas, é verdade, mas vale estar preparado para essa limitação.
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Playlist
Lista, cada um faz a sua. Pedimos ao jornalista Gustavo Ribeiro, colaborador do Caderno de Esportes da Gazeta e que só corre com músicas escolhidas a dedo, que comentasse suas escolhas.
Pro Dia Nascer Feliz – Barão Vermelho
– Para aquele treino bem cedo. Essa faz vencer a preguiça antes mesmo de sair de casa.
Baba O’Riley – The Who
– Essa começa leve e depois acelera, para engatar um ritmo confortável.
Born To Run – Bruce Springsteen
– Correr é sinônimo de liberdade. E uma música com essa mensagem ajuda a ir além dos limites.
All My Loving, Can Buy Me Love e Any Time At All – The Beatles
– Pout-porri para corridas mais puxadas que exigem músicas com batidas rápidas.
Suspicious Minds – Elvis Presley
– Boa para aqueles tiros que parecem nunca acabar, assim como a música.
Comfortably Numb – Pink Floyd
– Nos dias em que penso que correr é coisa de doido, coloco Pink Floyd no fone para ter certeza.
Gravity – John Mayer
– Depois de uma prova ou de um longão, o regenerativo pede músicas tranquilas. John Mayer é isso.
Nina – Felixbravo
– Música para caminhar lentamente depois daquele tiro de acabar com o fôlego.
Cheiro do Mato – Blindagem
– Correr sob as árvores, nos parques ou no asfalto molhado da chuva tem tudo a ver com essa música.
Live And Let Die – Paul McCartney
– Ideal para combinar as batidas da canção com as passadas naqueles treinos sem preocupação com planilha ou desempenho.
Interatividade
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