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A corrida vertical – realizada nas escadarias de grandes edifícios – é mais uma das modalidades que tem atraído a atenção dos atletas amadores brasileiros

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Começou como diversão para uns, como forma de adaptar os treinos de montanhismo ao am­­biente urbano para outros. E virou coisa séria, ganhou status de esporte, com direito a recordes, preparação física específica e competições por todo o mundo.

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A corrida vertical é, em uma redução simplista, a sistematização de uma brincadeira infantil: ver quem sobe as escadas mais de­­pressa. Na versão adulta, ga­­nhou regras para a subida por centenas de degraus acima, o que torna a aposta muito mais exigente à musculatura e à capacidade cardiorrespiratória. Enfim, mais um desafio a se vencer.

“Corridas de 5 km e 10 km já exis­­tem às centenas país afora. Meias-maratonas e maratonas há aos montes. A corrida vertical ainda é uma novidade e, por isso, tem chamado tanta a atenção dos corredores de rua”, avalia o representante no Brasil da Federação Inter­­na­cional de Skyrunning (ISF) e só­­cio-diretor da Mix Brand Ex­­perien­ce, Marco Scabia. Sua empresa or­­ga­­niza uma das principais provas de corrida vertical do país, que será realizada neste domingo, em São Paulo (leia mais nesta página).

Mas, se só agora desperta a cu­­rio­sidade dos corredores do asfalto, a modalidade – que mundo afora ganha vários nomes, como skyrunning (usado para qualquer prova em que o percurso seja sempre na ascendente), run-up, sprint-up (para pequenas distâncias) – tem como especialistas os atletas de montanhismo.

São atletas com maior resistência e força muscular, em especial, dos membros inferiores do que os corredores, e não necessariamente com tanta resistência cardiorrespiratória como quem está acostumado a correr longas distâncias no plano.

Os atletas mais leves têm vantagem: além do desafio contra o cansaço muscular, há a batalha contra a gravidade – força da física que quer os corpos sempre o mais próximo da Terra o possível. “O esforço na inclinação a partir de 20º é dez vezes maior que no plano. En­­tão, uma pessoa que sobe três mi­­nu­­tos de escada, teve um gasto de energia semelhante a que caminhou ou correu na mesma velocidade por meia hora sem inclinação”, diz Scabia. Boa notícia para quem quer uma atividade física, mas tem pouco tempo na agenda.

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A corrida vertical é uma prova de velocidade, mas, em vez de km/h, o objetivo é manter o ritmo em degraus por minuto. Os melhores conseguem subir um prédio de 30 andares – uma média de 600 degraus – por volta de 3min30 (quatro minutos a mais do que o re­­corde mundial dos 1.500 metros, do marroquino Hicham El Guer­­rouj).

A grande barreira é a exaustão dos músculos das pernas. Bastante exigidos na subida constante e ve­­loz, eles sofrem com o acúmulo de ácido lático. A vantagem sobre o montanhismo é que não há o desgaste da descida, que força as articulações: pode-se, sem culpa, voltar ao térreo pelo elevador.

Em contrapartida, a corrida ver­­tical é em corredores com espaço limitado e, muitas vezes com vis­­ta nada privilegiada: paredes dos dois lados.

Quem leva a corrida vertical co­­mo esporte costuma, além de praticar várias subidas de escadas em aceleração, aliar treinos específicos de musculação e subidas em mon­­tanhas.

Como o maior esforço é muscular – e não articular – o índice de lesão de tornozelo, joelho, quadril e coluna é muito pequeno. “O maior risco seria na descida, que exige mais das articulações”, fala Marco Scabia.

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O médico vice-presidente da Associação Brasileira de Cirurgia de Pé e Tornozelo, José Vicente Pan­­cini, diz que o risco de lesão articular não varia muito em relação ao plano. “O que pode influenciar é o melhor preparo físico de quem faz esse tipo de prova [vertical] e a maior concentração na execução dos movimentos.”

Modalidade teve início nas escadas do Empire States, em Nova York

A brincadeira começou há 34 anos, com a subida dos 86 andares do Empire States Building, nos Estados Unidos. Ao total, são 1.576 degraus a serem vencidos em um dos edifícios mais famosos do mundo, na cidade de Nova York, próximo do centro da ilha de Manhattan. Os primeiros colocados chegam ao topo após 13 minutos de subida. Mas, apesar de mais conhecida, a corrida vertical nova-iorquina não é a mais longa do mundo.

A mais longa corrida contínua é na Suíça, a escadaria Nie­­sen Treppenlauf, com 11.674 degraus e vista para os Alpes, que também tem a vantagem de ser uma prova a céu aberto. Mas há quem leve a ideia de subir de­­graus às últimas consequências.

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Na cidade de Rade­­beul, na Alemanha, uma escadaria a céu aberto de 88 metros abriga uma prova de run-up, desde 2005. A subida é repetida cem vezes, totalizando 39,7 mil de­­graus e uma distância equivalente à da subida do Monte Eve­­rest. A média de tempo das equipes é de 16 horas para completar corrida.

O skyrunning espalhou-se pelo país e, há dois anos, foram registradas 160 corridas por es­­cadarias de 34 países, nos cinco continentes.

No Brasil

Na próxima quarta-feira, 25/1, São Paulo recebe a corrida ver­­ti­­cal que faz parte do Vertical World Circuit (VWC), que inclui oito provas – que começa com a do Empire States, em Nova York – e termina com a subida do Edifício da Editora Abril, com 672 degraus, distribuídos por 30 andares. A prova, que comemora o aniversário de São Paulo, também definirá os campeões do circuito 2011/2012. Os vencedores receberão US$ 3 mil em prêmio.

Curitiba também fará parte do circuito. A cidade tem uma prova de corrida vertical prevista para o mês de julho. O desafio será vencer as escadarias dos 33 andares do Shopping Itália, no Centro, um dos mais altos da capital. No entanto, a competição ainda não tem data confirmada ou início das inscrições.

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Regras

Entenda como funciona a corrida vertical

– A maioria das corridas verticais separa os atletas por categoria de sexo e idade e realiza largadas por baterias. Vence quem chegar ao topo no menor tempo geral.

– Vale usar o corrimão como apoio para ajudar na subida.

– Os melhores atletas têm sido os que encontram um ritmo constante de subida. Não aceleram na largada, nem na parte final.

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– Com as paredes como limitadoras do espaço, ultrapassar vira uma arte: as curvas entre um lance de escada são os pontos ideais.

– Atletas que reduzem a velocidade têm de dar passagem (pela direita) aos que sobem mais velozes.

– A técnica de subida inclui utilizar apenas a ponta dos pés tocando o solo (haja panturrilha!). E vale saltar degraus. Geralmente, os profissionais sobem saltando de dois em dois.