Uma espécie de epidemia de sedentarismo vem afligindo a atual geração de crianças ao redor do planeta. Em um futuro breve, a falta de atividade física durante a infância deve trazer como principal impacto a diminuição da qualidade e da expectativa de vida no mundo todo. Os mais afetados serão justamente os habitantes de países com desenvolvimento acelerado nos últimos anos, como o Brasil.
O alerta foi feito mundialmente em setembro, com a divulgação de um documento chamado Designed to move (Projetado para se movimentar), que apresenta uma compilação de pesquisas sobre a urgência de se reverter esse quadro. “As crianças de dez anos de hoje serão a primeira geração que deverá ter uma expectativa de vida mais curta que a de seus pais”, afirma o relatório, divulgado pela Faculdade Americana de Medicina Esportiva e o Conselho Internacional de Ciência e Educação Física, em parceria com 26 entidades de renome. No Brasil, participaram instituições como Sesc, USP (Universidade de São Paulo) e a ONG Atletas Pela Cidadania.
A falta de atividade física é a principal causa de altos índices de obesidade e o risco de doenças do coração e diabete na vida adulta, mas é mais fácil que um adulto se exercite se trouxer o hábito dos primeiros anos de vida. Além disso, crianças fisicamente inativas tendem a apresentar menor desempenho acadêmico.
A solução é criar – e colocar em prática – uma agenda de ações comuns para vários países para reensinar as crianças a se movimentarem e a criarem gosto pela atividade física e esportiva a partir do exemplo dos pais, passando pelo exercício na escola e prevendo mudanças urbanísticas que estimulem a maior movimentação dos pequenos. “É nessa faixa etária que se definem hábitos e preferências e quando os pais exercem a maior influencia sobre os filhos”, justifica o Designed to Move. A principal prerrogativa é fazer com que os mais novos tenham prazer em se exercitar.
Assim, as chances de Carolina Parreira, de 5 anos, fugir à regra do sedentarismo são altas. Filha de pais nadadores, orgulha-se de contar que nada na piscina dos adultos. “É o esporte que eu mais gosto. Posso nadar umas 10 ou 15 piscinas por aula”, diz a garota, que deu os primeiros mergulhos ainda bebê. Ela também frequenta as aulas de muay thai na academia dos pais, onde se diverte sem preocupação.
A pesquisa do Designed to Move apontou que o declínio nos níveis de atividade física é maior em países com economia emergente, como Brasil e China, porque a rápida ascensão facilitou o acesso a aparatos tecnológicos que diminuíram os esforços físicos. Em contrapartida, não houve tempo para que se estabelecesse a cultura de valorização da atividade física como promotora da saúde e do bem-estar.
Os reflexos são notáveis. O professor de judô Lúcio Nagahama, em Maringá, conta que seus alunos têm atualmente coordenação motora menos desenvolvida que os meninos e meninas de dez anos atrás. Para manter a criançada interessada nas aulas – e formar adultos esportistas –, desenvolveu um sistema de ensino próprio para os pequenos, o “Judoca”. “O que os mantêm motivados é os desafiarmos com novas tarefas, conciliarmos o desenvolvimento de atividades cognitivas e não só as motoras e investirmos na criação de um vínculo afetivo com o esporte”, explica.
Nessa faixa etária, a competitividade é o que menos importa. “O que oferecemos é uma brincadeira orientada, com metas e regras”, segue. Nagahama promove oficinas de brincar para as crianças aprenderem jogos de rua que perderam popularidade para o videogame e a internet.
Queda livre
Na China, em menos de uma geração (18 anos), o nível de atividade física caiu 45%. O número de brasileiros fisicamente ativos diminuiu 6% em cinco anos. A projeção é de redução de 34% até 2030.
Adolescentes
Na Europa, aos 15 anos os adolescentes são 50% menos ativos fisicamente do que eram aos 9 anos. Nos Estados Unidos, com a mesma idade, os adolescentes são 75% menos ativos do que aos 9 anos.
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