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Projeto criado por atleta amador para trabalhar com crianças carentes alia corrida de rua a noções de cidadania

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Antônio Lima, 40 anos, começou a praticar esporte há dez co­­mo muitos outros: para ter uma atividade amadora e para a saúde. Escolheu a corrida de rua, que virou sua segunda “profissão”, depois do trabalho como assistente de logística em uma empresa no Centro de Cu­­ri­­tiba.

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Mas decidiu ir além da maioria dos corredores do asfalto: há dois anos dedica um dos turnos de cada quinta-feira para um projeto social em que ensina crianças de 7 a 15 anos de uma comunidade (eufemismo para favela) no bairro Pinheirinho, em Curitiba, com o Projeto Formiguinhas, que ele mesmo criou.

“Corro com os meninos no contraturno escolar. Uma semana, vou pela manhã, encontro as crianças que estudam à tarde. Na outra, vou à tarde, para treinar os alunos da manhã”, conta. Para tanto, tem o apoio da empresa em que trabalha, que o dispensa nos horários do projeto e o patrocina em suas corridas.

Ele atua no Centro Social Es­­perança, na Comunidade Ulisses Guimarães. A entidade é uma organização não governamental mantida por uma empresária da cidade. Mas não foi fácil conseguir quem quisesse receber o Formiguinhas, revela Antônio. Mesmo sem custo algum – o trabalho do corredor com os meninos e meninas é voluntário –, levou tempo para que ele colocasse em prática a intenção de usar o esporte que pratica para ensinar noções de cidadania aos jovens. Foi com a indicação de uma amiga de trabalho, que colaborava com o centro Esperança, que o corredor recebeu as primeiras portas abertas.

As aulas começam com o alongamento, antes de colocar a molecada para acelerar. Mas suas atribuições vão além do esporte, fazendo com que Antônio assuma várias personalidades durante o ano. A próxima delas é vestir a roupa do coelhinho da Páscoa. Já foi Papai Noel também. “As crianças adoram. Esperam o dia da aula de corrida chegar porque sabem que vão ter diversão”, conta Valdineia, uma das funcionárias do Centro Social.

O objetivo de 2012 de Antônio Lima é inscrever, pela primeira vez, seus pupilos em etapas do circuito municipal de corrida infantil. “Alguns estão indo muito bem”, diz. Embora seja comum dizer que para correr é preciso apenas o próprio corpo, Antônio conta com ajuda externa para tentar driblar a principal carência dos jovens corredores: a falta de calçados apropriados.

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“Conto com doações da empresa em que trabalho e da academia que me apoia como atleta. Tem ajudado bastante. Mas recebemos calçados usados. Não que isso seja um problema, mas são numerações para adultos. Precisamos também de tênis para os menores, a partir do número 22”, fala.

Dos 150 menores atendidos pela instituição, cerca de 50 participam do Formiguinhas. Todos são de famílias de baixíssima renda. Vários têm pais envolvidos com drogas. Alguns deles já estiveram nas ruas, vendendo bala ou pedindo dinheiro nos semáforos. “Faço isso sem nenhuma intenção de me exibir. Como no passado me ajudaram, quero passar esse sentimento de solidariedade para outras pessoas. Vim do interior do estado, de Lindoeste [cidade com 5,9 mil habitantes, próxima a Cascavel], onde trabalhava na lavoura. Vim para Curitiba em busca de um novo trabalho. E consegui”, diz.

Segunda mão

Entre corredores de rua e atletas não é incomum abandonar os pisantes assim que eles dão a primeira derrapada ou indicam o primeiro sinal de “cansaço”, com o início da perda do amortecimento. Veja como doar os tênis que não serão mais usados, mas podem ser um bom presente para quem precisa.

• Avalie – Lembre-se, antes de tudo, que é uma doação e não uma forma de liberar espaço em casa. Então, separe calçados que, apesar de usados, estejam em condições de uso. Limpe-os antes de entregá-los.

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• Em eventos – Há provas que promovem o recolhimento dos calçados para repasse a terceiros no dia do evento. Verifique as informações no site da competição. Em São Paulo, todas as corridas promovidas pela Corpore, instituição sem fins lucrativos voltada a eventos de corrida de rua, recebem os tênis e os repassam para equipes que se cadastram no site, no sistema chamado “Seu tênis não pode parar”.

• Tênis Solidário – Em Curitiba, a loja Procorrer tem o projeto Tênis Solidário, em que os calçados podem ser entregues em oito postos de coleta – além da loja, estão na lista as academias Be Happy, Oxxy Training, Moby Dick, Corpus Fit e Gustavo Borges – e são repassados tanto a instituições de corredores de rua quanto para quem precisa de um pisante para o dia a dia, como grupos de catadores de lixo e reciclagem. Mais informações na página no Facebook da Procorrer.

• Tênis Vivo – Também na capital paranaense, a academia Cia Athletica promove o Tênis Vivo, que arrecada os calçados de corrida usados e em bom estado para distribuir para crianças e adolescentes. São três projetos atendidos: o Projeto Formiguinha, a ONG Saúde Esporte e o Provopar. Local de doação: Rua Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 600, Campina do Siqueira (Piso G6 do ParkShopping Barigüi).