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Não ignore a dor na região lombar
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Problemas na região lombar podem evoluir para um inimigo mortal dos corredores: a hérnia de disco. Solução é o equilíbrio muscular

Priscila Forone/ Gazeta do Povo
A designer Letícia, 35 anos, preferiu se prevenir das dores lombares

É comum escutar por aí que atletas convivem com dor. Em parte é verdade, mas isso não vale necessariamente para corredores amadores. Claro que um incômodo aqui e outro ali é normal, principalmente depois de treinos mais pesados ou naquele esforço sobre-humano feito du­­rante as provas. Em vários casos, essas dores são consequência do exercício e não preocupam, in­­clusive até são sinônimo de tarefa cumprida. Mas no caso de a re­­gião lombar começar a reclamar, jamais ignore.

Persistir na atividade mesmo com desconforto recorrente pode levar a uma lesão séria nas costas. O mais comum é iniciar um processo de desidratação do disco e evoluir para uma protusão. Se houver uma sobrecarga na região, há chances de o problema se transformar num inimigo quase mortal dos corredores: hérnia de disco.

O primeiro sinal são as dores nas costas que vão descendo para a região dos glúteos e chegam até o joelho e mesmo nos pés. Alerta total, ainda mais se a pessoa for obesa ou sedentária.

É o que aconteceu com Iberê de Assis Júnior, de 39 anos, que corre há mais de 20 anos e tem várias maratonas no currículo, inclusive participações no Iron­­man (ultramaratona). As dores começaram a aparecer e a continuidade dos exercícios levou a uma hérnia de disco. “Sou corredor, triatleta e paraquedista. Por muito tempo acabei maltratando a coluna. Há uns dois anos estava treinando para a maratona de Toronto quando descobri a hérnia”, conta o gerente de su­­primentos.

Mesmo nos casos mais graves, a corrida não precisa ser ar­­rancada do dia a dia. O segredo para melhorar ou até conviver com o problema é o mesmo utilizado na prevenção das lesões: equilíbrio muscular. “A musculatura das costas é forte porque andamos em pé, mas a musculatura abdominal nem sempre é tão forte. Essa diferença causa as dores nas costas”, ex­­plica o ortopedista e médico do esporte, Luís Bauer.

Em geral, a corrida tende a inibir alguns músculos im­­portantes, como o glúteo médio e o assoalho pélvico. Por isso é importante manter a base da musculatura totalmente no eixo, por meio de diversas técnicas, como pilates, ioga e core-training, que trabalham justamente os músculos ignorados pela corrida. Em casos mais avan­­çados, a fisioterapia é o ca­­minho a ser seguido.

Com o trabalho baseado em pilates, Iberê conseguiu regredir a hérnia de disco. “Comecei a trabalhar músculos que não trabalhava antes, como o assoalho pélvico, abdome e glúteos. Agora eu aciono músculos que vão preservar a ação sobre a hérnia”, revela.


A designer Letícia Castro Ga­­ziri, de 35 anos, preferiu o caminho da prevenção. As dores na lombar nunca foram tão fortes, mas com um tratamento contínuo baseado em musculação e pilates, elas desapareceram. “Faço um trabalho para poder continuar correndo, com foco a médio e longo prazos. “Fa­­ço o fortalecimento de toda a parte estrutural do quadril, que permite trabalhar menos a região quando corro, para proteger a coluna”, conta Letícia, que pratica a atividade há mais de sete anos e dá uma dica importante: “uso palmilhas apropriadas”.

O recado é não ignorar as dores e muito menos encontrar artifícios que escondam o problema. “Mui­­tas vezes as pessoas fazem uma adaptação para não sentirem dor, como diminuição da amplitude da passada. Não pode”, recomenda o ortopedista e diretor da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Trau­­ma­­tologia (SBOT), Rogério Teixeira.

Fisioterapia
Vilão, impacto da corrida tem pouco a ver com a coluna

Na maioria das vezes, as dores nas costas não surgem exclusivamente por causa da corrida. Elas já existem, mas, pelo esforço realizado, acabam se manifestando durante e depois das atividades físicas. “É um erro pensar que, pelo impacto, a corrida vai gerar hérnia de disco. Não é o impacto que leva o problema para a coluna”, afirma a fisioterapeuta Ana Rabelo.

Ela usa exemplos isolados para fazer essa constatação. Se o corredor usa aparelho na boca, a mordida dessa pessoa será alterada, afetando toda a mecânica da região cervical. A dor, entretanto, só aparece quando fizer um exercício. Mesmo caso de alguém que é míope e muda a postura para enxergar melhor. O resultado é uma sobrecarga na cervical.

Além disso, é preciso levar em conta que a estrutura corporal de cada pessoa é única e, dependendo da anatomia, há uma predisposição para dores na região. Casos de má formação na coluna lombar, vértebra extra, degeneração do disco e fechamento de coluna devem servir de alerta para o corredor.

Esse aspecto genético é uma das explicações para que atletas negros se sobressaiam em provas de longa distância. “Existe um ângulo entre a lombar e a bacia. O ângulo dos ne­­gros é favorável, então eles conseguem correr com muita facilidade e pouca dor. Quem tem esse ângulo desfavorável para a corrida, é bom para natação”, explica o ortopedista e médico do esporte Luís Bauer.

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