É como estar em Paris e não ir à Torre Eiffel. Ou visitar o Rio de Janeiro e não subir o Pão de Açúcar. Ser corredor e não participar de uma Corrida de São Silvestre é ter uma lacuna no currículo. Por isso, a cada edição, a mais tradicional prova do país bate recordes de participantes. Este ano, serão 25 mil a percorrer 15 km pelas ruas centrais de São Paulo.
Nem as mudanças no percurso – que assombravam os mais “puristas” desde janeiro – foram capazes de tirar a atenção sobre o evento que fecha o calendário esportivo nacional. Realizada na tarde de 31 de dezembro, a São Silvestre mexe com o imaginário dos atletas, sejam iniciantes ou profissionais.
Entre os estreantes, há quem esteja lá para cumprir promessa e os que na última virada do ano colocaram como resolução começar a correr para poder fazer parte da multidão na largada. “Muitos iniciantes querem participar porque acham que é uma maratona. Quando descobrem que são 15 km, ficam até mais motivados para se preparar”, conta o coordenador do grupo de corridas da Academia Gustavo Borges, Marco Aurélio Piazza.
Há também os que repetem a dose, como é o caso de Piazza. Ele já correu quatro edições. “Não é uma prova para tentar fazer tempo. Com tanta gente na rua, demora-se a largar. Cada prova é única, desperta memórias distintas, passagens do ano marcantes”, lembra.
São pelo menos três meses de preparação. Não apenas de treinamentos. A viagem para São Paulo exige reservas com antecedência para a estadia e outros detalhes como a programação do orçamento. Não só para o próprio corredor, afinal por ser dia 31 de dezembro é comum que familiares queiram acompanhar o desafio e, algumas horas depois, celebrar o ano novo.
“É uma experiência fantástica. Chegar ao Masp [Museu de Arte de São Paulo, local de concentração e largada] e ver tanta gente com o mesmo objetivo é sensacional. Tem gente de todos os lugares do Brasil; desde o atleta de elite até o que está ali só para aparecer na tevê; desde o alto executivo ao gari; estrangeiros que vêm prestigiar a São Silvestre. Ouve-se inglês, espanhol, francês, todas as raças, credos, idades…”, diz o administrador de empresas Edélcio Marques dos Reis, 49 anos, que estreou na prova em 2007. Este ano, vai correr com a companhia do sobrinho Eduardo Arzua, 26 anos, professor de Educação Física.
Ele, por sua vez, ampliou o convite à namorada, Dáfine Zielinski, 21anos – “espero não sofrer muito com o calor”, diz a jovem – e um de seus alunos, Atemir Munhoz, 45. “Vínhamos treinando desde o começo do ano, fizemos a Meia [Maratona] de Curitiba e resolvemos que seria interessante fazer a São Silvestre”, diz Eduardo.
Percurso
Fluxo deve melhorar com mudanças
A ideia da mudança do trajeto da São Silvestre surgiu com o objetivo de ampliar o número de inscritos. Outro motivo alegado é não misturar o fluxo do público da corrida com o da festa do réveillon na Avenida Paulista – onde era a chegada, agora transferida para o Obelisco do Ibirapuera.
Muitos não gostaram. “É como se tirasse a chegada da Maratona de Nova York do Central Park”, compara o coordenador do grupo de corridas da Academia Gustavo Borges, Marco Aurélio Piazza.
Mas a alteração de alguns trechos trará vantagens tanto para o pelotão de elite quanto para os amadores. “Trocamos uma descida forte na Rua da Consolação por um trecho sinuoso e alternado de subidas e descidas, com melhor calçamento e sem curvas fortes”, afirma Júlio Deodoro, organizador da São Silvestre. O antigo percurso fazia os corredores menos experientes acelerarem antes da hora e perderem fôlego no fim.
Para quem corre pelo pódio, o último quilômetro será em declive, o que permitirá uma prova mais rápida. “Os primeiros devem chegar na casa dos 42 minutos”, estima o aferidor de percurso da Iaaf (Federação Internacional de Atletismo) e diretor de corrida de rua da Federação de Atletismo do Paraná (FAP), Neimar Oliveira da Silva. O recorde da prova é do queniano Paul Tergat (43min12s, em 1995).