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Quando mais é menos
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Hugo Harada/ Gazeta do Povo
Corredores de rua se preparam para mais uma jornada: cuidado com os excessos

“Se só aumentar volume e intensidade da corrida fosse o suficiente para bons resultados, ninguém precisaria do acompanhamento de um especialista”, resume o diretor técnico da Run & Fun Assessoria Esportiva e autor do livro Corra, Mário Sérgio Andrade Silva.

A declaração se justifica porque encontrar a medida certa da quantidade de exercício para a melhora contínua do desempenho não é tarefa fácil. Simples entender: por mais que se tente criar programas semelhantes para os corredores, o histórico de cada um traz peculiaridades que precisam ser respeitadas. A linha entre a atividade física saudável e o exagero é tênue e, sem perceber, o atleta pode cair no overtraning, o excesso de treinamento.

Entre os iniciantes, diz Silva, o risco é maior. “Eles tendem a desconfiar das planilhas passadas pelo técnico ao ver que se sentem bem para ir além. E vão. Mas todo exagero hoje vai ser cobrado lá na frente”, diz o assessor. A cobrança pode vir como cansaço exagerado, dores, fadiga, bruscas alterações do humor, dificuldade de sono, grande perda de peso.

Como alguns desses sintomas são comuns a causas negativas– estresse da rotina de trabalho, ansiedade – e outros até considerados positivos –a queda do ponteiro da balança conquistada com a atividade física ou aquele “cansaço prazeroso” depois do treino –, o diagnóstico de que o exercício feito é demais para o corpo naquele momento é tarefa de tentativa e erro. Não bastasse, não faltam atletas que nem sequer considerem o overtraning na sua lista de causas de alguns dos sintomas.

“Acontece de alguns atletas treinarem além da planilha recomendada, achando que assim vão ter progresso mais rápido. Mas, depois de um tempo, não conseguem seguir em curva ascendente de desempenho e até se frustram e não entendem o porquê”, diz o técnico da O2 Running, César Hen­­ri­­que Dalquano.

Já prestar atenção no seu comportamento é uma atitude que evita a sobrecarga , explica a psicóloga do esporte Chayane Godoy. “Foge-se de chegar a uma situação extrema, o burn out, um distúrbio psicológico de quadro depressivo em que a prática esportiva foi tão desgastada que a pessoa não se sente mais feliz com ela”, diz.

Sem contar que a musculatura se desgasta em excesso e não só entra em risco de lesão como expõe ligamentos e ossos. “Acontece muito de o atleta, no treino, ser ultrapassado por outro e não se conter. Acelera e esquece, aquele não era seu dia de velocidade. Talvez fosse o do outro atleta”, fala Dalquano.

Silva defende que o corredor precisa ter disciplina, especialmente depois das aceleradas. “Sempre explicamos que o bom treinamento tem a fase anaeróbia, em que o corpo é exigido, e a catabólica, em que se habitua a esse esforço e se prepara para mais. Essa é feita com descanso e deve ser rigorosamente respeitada.”

Saúde

Overtraining ou undereating?

O técnico da O2 Running, César Henrique Dalquano, lembra outro deslize comum entre os corredores: a fixação na perda de peso para a melhora da performance. Claro que um corpo mais leve acelera com mais facilidade. Mas, se estiver leve por fraqueza e perda muscular, a lógica não será a mesma.

A nutricionista esportiva Lili Purim Niehues destaca um perigo oculto na fixação pelo melhor físico a qualquer custo: além do over­training, o atleta pode estar em outra situação definida por uma nomenclatura em inglês: o undereating. Em tradução aproximada, é o optar comer menos que o necessário.

“Nossa sociedade considera politicamente correto combater o ganho de peso. Mas o atleta não pode se comparar ao indivíduo comum. Tem de ter um consumo maior de energia [pois vai gastar mais], bem distribuída durante o dia. Não adianta pensar na semana, restrição de alimentação nos dias úteis para se empanturrar sem culpa no final de semana” explica.

Além do desempenho melhor no esporte, muitos atletas diminuem a quantidade diária de calorias em excesso e aumentam equivocadamente o treinamento para corresponder a um padrão estético mais magro em menos tempo, diz a psicóloga do esporte Chaiane Godoy. Esquecem que assim, podem comprometer definitivamente sua qualidade de vida, alimentação e estrutura física. “Talvez o undereating seja mais crítico até que o overtraining. Os dois trazem riscos, mas o primeiro desorganiza toda a história alimentar do indivíduo. Em adolescentes, então, compromete o desenvolvimento físico e o crescimento”, fala.

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