Profissionais de educação física, alguns com jornada tripla e pouco tempo de recuperação entre as aulas, sofrem cada vez mais com a síndrome do uso excessivo
Lesões provocadas por atividades físicas em excesso não são exclusividade de alunos, esportistas de fim de semana ou até mesmo atletas bem preparados. Diante da rotina diária de trabalho, os riscos são cada vez maiores para os professores de educação física.
A jornada intensa, o acompanhamento participativo das aulas e o pouco tempo de recuperação das atividades determinam os riscos dos instrutores. Situação que deixa em alerta o sindicato da classe.
Sérgio Nascimento, presidente do órgão, diz que neste ano cerca de 20 professores já procuraram a entidade sindical indicando alguma sequela trabalhista.
Nos próximos dias, ele irá iniciar campanhas dentro das academias e clubes para alertar sobre esses problemas e como solucioná-los. “Ainda achamos que a prevenção é a melhor atitude”, explica. Com base na convenção coletiva, o profissional da área recebe R$ 9,55 pela hora de trabalho. Com isso, não rara vezes, chega a exercer a profissão em três turnos.
O principal drama é o chamado overuse – ou síndrome do uso excessivo. O termo é utilizado para se referir às complicações decorrentes de grande quantidade de repetições de certas atividades, ou excesso de carga, que causam desgaste dos tecidos.
Grégor Paulo Chermikoski Santos, médico especialista em Medicina do Exercício e do Esporte, explica que os profissionais de educação física sofrem lesões, muitas vezes, em função da correria do dia a dia, pois não têm tempo de fazer um acompanhamento adequado com um médico especialista na área.
Em relação ao overuse, ele esclarece que ocorre quando a pessoa ultrapassa a capacidade do seu organismo. “Quando a capacidade de reparação é insuficiente e o estímulo é excessivo, acaba acontecendo a síndrome”.
Existem nomes específicos para determinado seguimento corporal em que a síndrome aparece. A tendinite é um exemplo.
Professores que trabalham em academias, por exemplo, dão muitas aulas diariamente, de spinning, power jump, body pump, e acabam sendo alvos desse desgaste.
Aylen Vinícius Costa Coelho Tiete, 28 anos, trabalha nesse ramo há quatro anos e tem uma lista de complicações médicas no currículo: menisco lateral no joelho direito, tendinite nos dois ombros e nos dois joelhos, e inflamação muscular na região lombar. Mesmo assim, ele ministra, em média, cinco aulas por dia em três academias diferentes.
“Sempre faço todas as atividades com os alunos”, explica.Mas a última complicação que teve, na região lombar, o obrigou a ficar três semanas dando aulas só falando. Para prevenir outros problemas, ele faz trabalho de fortalecimento muscular e bastante alongamento.
A maioria das lesões ocorre nos punhos, tornozelos e joelhos. A reabilitação é feita com fisioterapia, hidroterapia e musculação – quando há desequilíbrios musculares. Para evitar lesões, a melhor orientação é dormir, se alimentar e se hidratar bem.
“Quando o corpo dá um sinal, um aviso de que ele começa a não conseguir executar determinado movimento da maneira adequada, sentir dor, é hora de procurar ajuda”, orienta o doutor Grégor.
Usar o corpo como ferramenta de trabalho também eleva os riscos de acidentes. O educador Marco Aurélio Salinet Nobre é um exemplo. Ele era professor de uma academia e sofreu um acidente em setembro de 2009 – afundou o pé no banquinho em que se apoiava. O acidente provocou um rompimento do tendão e uma cirurgia. “Estou até hoje com esse problema.”
Em 2010, o médico o liberou para voltar ao trabalho, mas com restrições, porém, a academia o demitiu um ano depois. Hoje, ele é técnico e atleta, participa de competições de levantamento de peso, na modalidade de supino. “Minha carreira na modalidade de agachamento encerrou”, conta Marco, que ainda está esperando a reavaliação do INSS para voltar a dar aula em academias.
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