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Campeão mundial nos Jogos de Paris, em 2003, prata na Olim­­píada de Sydney-2000, e bronze em Atlanta-1996, o velocista paranaense Edson Luciano se aposentou em 2004. E graças ao programa He­­róis do Atletismo, da Confe­­de­­ra­­­­ção Brasileira de Atletismo (CBAt) e da Caixa, o ex-atleta de Ban­­­­dei­­rantes ainda consegue reacender as lembranças do sucesso nas pistas. Ele circula pelo país pa­­ra dar palestras e participar de eventos e está presente em muitas provas de corrida de rua. A função o fez acompanhar de perto o boom da modalidade no país. A paixão dos corredores, o crescimento das provas, o excesso de alguns atletas amadores e o aquecimento de um mercado. De volta ao seu estado nes­­ta semana como padrinho da Maratoninha da Caixa, marcada para amanhã, ele conversou com a Gazeta do Povo para falar sobre uma das práticas esportivas que mais crescem no país.

Como é a sua rotina de “herói”?

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(risos) Parei de competir após a Olimpíada da Gré­­cia e comecei a fazer parte deste projeto. O legal é que mesmo aposentado a gente não é esquecido. Viaja, fica em evidência e consegue preencher o vazio após o fim da carreira de atleta – que é muito intensa, cheia de compromissos e emoção. Não fosse isso nem estaria dando essa en­­trevista agora.

Sua nova atividade o transformou em um expectador dessa febre da corrida de rua. Como você analisa esse fenômeno?

A corrida de rua cresceu muito no Brasil e veio um pouco tarde. O his­­tórico da corrida em outros países é bem mais antigo. Co­­me­­çou aqui de uma forma tímida, foi crescendo e, de repente, o país acordou. Hoje, em São Paulo, por exemplo, são quatro ou cinco corridas por fim de semana, e cada uma com no mínimo 2 mil participantes. Aqui também tem prova sempre.

O que mais contribui?

É o vício. Correr vicia. A pessoa começa para fazer uma atividade física, para emagrecer, ou até para largar um vício, como o cigarro, por exemplo. Acaba gostando, aí começa a treinar, leva a família para assistir a uma prova, depois carrega a namorada para treinar, entra em um grupo na academia e assim o número de praticantes não para de crescer.

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A facilidade do acesso à corrida, porém, exige cuidados. Os corredores têm deixado isso de lado?

A pessoa tem de procurar o seu mé­­dico. Muita gente começa a correr e não tem a me­­nor ideia da sua ca­­pacidade cardiovascular. É preciso ter uma noção mínima de treinamento. Em um dia a pessoa é se­­dentária e em um curto período já começa a correr em várias provas e a tentar baixar o seu tempo.

Você presenciou excessos?

Uma vez fui convidado para uma conversa com um grupo de corredores que viajava a vários países para competir. Eram médicos, ad­­vogados, empresários e que ficaram fissurados em dicas para correr mais rápido, para diminuir as suas marcas. Tenta­­vam ser atletas, sem ser. Porque no momento em que o atleta deveria descansar, por exemplo, ele estava exercendo a sua profissão. Perdeu o senso do que é correr em um domingo de manhã porque é gostoso, para fi­­car obcecado pelo relógio. Acon­­tece muito isso.

Pagam um preço caro, não é?

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Um atleta de alto nível sabe as con­­sequências, conhece as le­­sões, os pro­­blemas de se levar o corpo ao limite. E está muito mais preparado para isso. O cara vai bem em uma prova e na outra quer chegar perto do pelotão de elite. Não quer mais o prazer, quer vencer. O organismo muitas vezes não está acostumado e acaba sendo prejudicado pelo excesso. E o exagero vai afetar a vida pessoal.

Virou um mercado…

E muito lucrativo. Não faltam acessórios para melhorar a performance: bermuda, tênis especial, adesivos, ca­­da dia surge uma novidade. A satisfação proporcionada pelo exercício levou a essa massificação. Por isso existem tantas provas, tanto personal trainer, assessorias esportivas. O público também se tornou cada vez mais exigente. Quer dos organizadores das corridas a sua camiseta, os postos de água corretos, porque paga R$ 40, R$ 60, R$ 80 de inscrição.

Como suprir toda essa demanda?

Agora estão na moda as nigth runs [corridas noturnas]. Tem muito mercado e o corredor gosta de no­­vidade. Não adianta ficar sempre naquelas provas de 5 e 10 km. Hoje as corridas de maior apelo no Brasil são as meias-maratonas, principalmente a do Rio de Janeiro. É um grande desafio para o atleta amador, sem o desgaste de uma maratona, que é para poucos. E que vai chegar agora também em Curitiba [10 de julho].

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Corrida infantil
Maratoninha lança esporte para os minicorredores

O maior evento de corrida infantil do país volta a Curitiba neste domingo. O Circuito Caixa de Maratoninha começa a partir das 9 horas, no Parque Barigui. Lançada em 2002, a iniciativa já reuniu mais de 140 mil crianças em várias cidades do país.

“O legal na maratoninha é colocar o doce no boca da criança. É lançar uma semente do esporte”, explica o padrinho da prova, Edson Luciano. Além dele, outros atletas como Claudinei Quirino, Nelson Prudencio, Edson Luciano, André Domingos o também paranaense Vanderlei Cordeiro, participaram do evento, contando suas trajetórias e incentivando os corredores mirins.

“Eu conto a minha história real de como o esporte mudou a minha vida”, comenta Luciano, descoberto por um sargento quando estava no exército, já com 19 anos. “Quatro anos depois eu fui medalhista olímpico. Não fiquei pronto em tão pouco tempo. Era um dom meu. Vejo hoje muitas crianças com um porte físico incrível e que deveriam ter o acesso ao esporte”, afirma.

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Há um ano dos Jogos de Londres, o ex-velocista paranaense lamenta a carência de representatividade do Paraná no atletismo. “Houve um projeto antigo, feito ainda pelo Banestado e de onde despontaram vários talentos, especialmente no interior. Foi um pecado acabar. E não tem nenhuma outra iniciativa”, cobrou.

“A Olimpíada do Rio também está aí. O Brasil vai aprender pelo amor ou pela dor como deveria ter sido feito o planejamento esportivo. Receio que seja pela dor.”