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Maravilhoso continente africano

A África do Sul é um mosaico multirracial. A população é composta por 80% de negros, divididos em diversas tribos, sendo a zulu, banto e xhosa as principais. Os brancos estão divididos praticamente entre os africâneres (grupo étnico derivado da colonização holandesa) e os britânicos. Há também uma forte colônia indiana e malaia, além dos imigrantes do próprio continente africano, como os moçambicanos, nigerianos e angolanos. Com tamanha diversidade, o país é uma mistura não só de culturas, mas de línguas também – no total, 11 idiomas são falados na África do Sul. A expectativa de vida do país é de 49 anos (23 a menos do que no Brasil).
Aos poucos, a população multirracial do país vai apagando as marcas da nefasta política de segregação racial imposta pelo governo africâner de 1948 a 1993. Isso graças à luta de homens como Nelson Mandela, que cumpriu pena por 28 anos, até 1990, por sonhar com a igualdade entre homens negros e brancos.
Um dos principais levantes contra o apartheid foi em 1976, quando cerca de 500 adolescentes morreram ao entrar em confronto com a polícia no distrito de Soweto, o gueto negro de Jahannesburgo. O motivo de tamanha violência: o governo queria obrigar a população negra a falar o africâner, a língua dos colonos holandeses. Um desses adolescentes assassinados foi Hector Pieterson, de apenas 12 anos, cuja morte virou um símbolo da luta dos negros contra o regime de segregação graças à fotografia em que o cadáver do garoto é carregado por um companheiro desesperado pelas ruas do Soweto .
Durante a cobertura da Copa do Mundo de 2010 tive a incumbência, junto com o repórter Marcio Reinecken, de produzir uma página diária sobre o cotidiano dos sul-africanos. As fotos deste slide show são algumas de uma série de reportagens que produzimos para o jornal durante o Mundial.
Passamos por algumas situações de dificuldade e risco, nada muito diferente das situações de perigo que a profissão nos expõe em qualquer outro país onde vamos trabalhar. Eu e o Marcio adotamos a regra de ficar pouco tempo nos lugares onde íamos fazer as matérias. Fotógrafo chama bastante atenção e na África mais ainda. Sempre que ficávamos um tempo maior já surgiam malandros da região fazendo perguntas e tentando nos intimidar. Bastava um olhar para o outro e era automático: hora de vazar! Na maioria das vezes o trabalho foi tranquilo.
O povo negro sul-africano ainda tem o sentimento de inferioridade frente ao branco. Pude comprovar isso em algumas situações durante o trabalho. Chegávamos nos lugares e logo um segurança vinha em nossa direção dizendo que não podia fotografar ali. Eu fazia de conta que não estava entendendo, ia fotografando e o cara desistia da proibição. Teve uma foto que fui fazer no jogo dos EUA e Inglaterra, sobre o reforço na segurança do jogo. No inicio o chefe da segurança me barrou, forcei a entrada e logo em seguida ele estava segurando uma lixeira para eu subir em cima para ter um ângulo melhor.
Com certeza essa mudança de comportamento acontecia porque, apesar de branco, eu era um estrangeiro e, principalmente, não era um africâner. Se o fotógrafo fosse um branco sul-africano, provavelmente o tratamento não seria tão cordial, já que o país ainda respira o ar pesado do racismo.
Resta torcer para que a África do Sul se torne um país realmente unido em breve, para que o corpo do garoto Hector Pieterson possa descansar em paz.

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