Jornalismo de conflito

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Quando comecei no fotojornalismo (lá se vão uns 20 anos), um amigo das antigas que era repórter mas tinha seus momentos de fotógrafo, me disse uma máxima que para mim prevalece até hoje: “para ser fotógrafo de jornal tem duas coisas que você deve perder: o medo e a vergonha”.

Na maioria das pautas que cubro diariamente para a Gazeta do Povo preciso abrir mão apenas da vergonha, mas existem momentos em que é preciso mais coragem do que a habilidade de não enrubescer. Um desses momentos é a cobertura de protestos e manifestações (comuns hoje no país), onde existe a possibilidade de enfrentamento entre policiais e população. A coisa se agrava ainda um pouco mais se acontece em um terreno que você não conhece. Foi isso que senti quando no dia 22 de fevereiro fui cobrir uma manifestação contra a Copa do Mundo em São Paulo.

Fotógrafo corre ao lado de bomba de gás

Manifestante enfrenta tropa da PM paulista

Eu tinha 11 anos a última vez que estive na capital paulista, e somente para visitar alguns familiares que tenho por lá, então a cidade para mim era totalmente desconhecida e tornou-se ainda mais quando as bombas de gás e de efeito moral da PM começaram a cair à minha volta e eu não sabia absolutamente para onde correr. Tanto não sabia que em um dos ‘piques’ que tive que dar durante o tumulto virei uma esquina errada e dei de cara com a tropa de choque. Escapei pulando dentro de uma entrada de metrô e foi ali, esperando a passagem da tropa que a voz ecoou novamente na minha cabeça: perde o medo, perde a vergonha.

Não perdi completamente o medo afinal, é ele que garante o mínimo do instinto de auto-preservação, mas compreendi que o que estava acontecendo naquele momento exigia mais de minha presença enquanto fotojornalista na frente de confronto do que de um observador distante.

Manifestante arremessa cone de trânsito em tropa da Polícia

No fim das contas consegui manter um certo grau de serenidade para fazer a contento o trabalho a que me propus sem figurar no relatório final de vítimas (dois fotógrafos foram feridos e cinco jornalistas presos junto com os manifestantes).

Policiais prendem manifestante

Policiais imobilizam manifestante

Para essa pauta levei uma Canon 5D Mark III para o ISO alto e uma lente curta (24-105mm). Optei por não usar o flash e tinha uma tele 70-200mm na bolsa, que não usei. Estava de capacete e máscara de gás (equipamentos que se tornaram obrigatórios na cobertura de protestos no país.