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Francisco Escorsim

Francisco Escorsim

Retrospectiva

2023 pelo retrovisor

(Foto: Unsplash)

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De todos esses anos escrevendo por aqui, nunca fiz uma retrospectiva. Por achar mais uma fuga preguiçosa do trabalho do que outra coisa. Mas, neste ano, como comemorei sete anos de coluna, dando inveja às cigarras, decidi me permitir, terminá-lo assim.

Também porque comecei a me preocupar com minha (falta de) memória. Talvez seja consequência dos Covids, sabe-se lá quantos peguei. Alguém aí ainda testa quando fica gripado? Enfim, lembrei que escrevi uma coluna doente, escrevendo como quem toca um tango argentino. Não por acaso revisitei A Montanha Mágica.

A crônica é como uma folhinha de árvore com um leitor atencioso a acarinhá-la enquanto Deus lhe acompanha

Aliás, relendo a coluna do tango, descobri uma leitora me acusando de “esnobismo pretensioso”, que em meus textos não haveria humildade e que os achou confusos, pedindo para eu ser “menos”. Até que tento, minha senhora (presumo que seja uma senhora), até que tento. Mas fico feliz que tenha gostado de algumas “tiradas gaiatas”, já é um “ao menos”. Imagino que se refira a coisas como A Comédia do Direito Achado na Rua, mas, se não for, fica pretensiosamente sendo.

Mas, como todos sabemos, “tiradas gaiatas” se tornaram perigosas. Cancelamento, censura, totalitarismo foram assuntos recorrentes. Já em janeiro dediquei duas das quatro colunas a isso, muito pela censura judicial que inaugurara o ano calando os colegas de jornal Rodrigo Constantino e Guilherme Fiúza, fazendo do jornalismo uma trincheira e da liberdade um feriado. Falei também dos desafios da “nova direita”, que precisava e continua precisando voltar ao futuro, encontrando-a no divã e convidando à sala de aula.

Com Ele nos conduzindo espero continuar por aqui a lhe acompanhar em 2024, leitor de sempre ou de vez em quando

Voltei ao tema da censura, falando sobre a sofrida pelo humorista Léo Lins, retomando várias vezes as barbaridades cometidas por ministros do STF, como Barroso, Dias Toffoli e, especialmente, o “corajoso” Alexandre de Moraes, que nos levam rumo ao totalitarismo, fazendo cair em buracos de coelho e descobrir que no fundo do poço do STF tem um alçapão, desafiando nossa capacidade de compaixão, que só se sustenta em forma de oração. Aliás, sobre compaixão, também falei aqui, comentando sobre uma seita virtual.

Conheci Brasília neste ano, alguma coisa me dá medo ali. Quando descobrir o que é, também descubro o que amei lá. Já o que amo aqui em Curitiba não cabe numa coluna, mas volta e meia tento mapear em nossas profundezas infinitas. Falando em abismo, de outro tipo, escrevi também sobre o Rio de Janeiro, que não é uma Disney. E sobre outra profundeza infinita, o Pantanal, a que fui pela primeira vez, surpreendendo-me, guiado pelos versos de Manoel de Barros.

O que me foi medicinal este ano, tirando minha atenção dos monstros que abundam por aí e que me fazem repetir a pergunta que uma mulher fez a Obama: “o senhor está em paz?” Acho que ninguém está. Dos muitos horrores do ano, este talvez seja o que mais tenha feito surgir a pergunta “onde está Deus?”. E se Ele respondesse? E responde, menos com palavras e mais através de pessoas como Lanny Cordola, Matthew Perry, Paul McCartney, Rita Lee, Tom Verlaine, Warren Zevon, o Fábio, Alceuzinho, meu pai e Sarah & Bernardo. Ainda bem que também há 1.001 maneiras de preparar Neston.

Falando nisso, escrevi sobre os concorrentes ao Oscar: Tár, Os Banshees de Inisherin e Os Fabelmans. Também escrevi sobre o esquecível Nefarious e o inesquecível Cidadão Kane, comentando em conjunto com o seriado Succession. Sobre música escrevi um pouco mais. Não há melhor forma de se refugiar da insanidade. Seja com Paulinho da Viola, Frank Sinatra, Coldplay, Pink Floyd ou com o U2, sobre quem escrevi duas vezes, o que considero um exagero, desculpe.

Deve ser aquela pretensão que a senhora que se pretende humilde falou, mas nesse ano escrevi mais de mim do que em qualquer outro dos sete anos de coluna. Sem outra intenção que não a de possivelmente ajudar outros náufragos existenciais como eu fui. Daí a razão da minha carta para meu eu de 17 anos.

Relendo quase tudo, acho que o que mais gostei de escrever foi uma crônica ainda não linkada, dessas esquecíveis como um copinho de café. Mas às vezes acaba sendo mais do que isso, uma apanhadora de desperdícios. Nesse caso, a crônica é como uma folhinha de árvore com um leitor atencioso a acarinhá-la enquanto Deus lhe acompanha. E com Ele nos conduzindo espero continuar por aqui a lhe acompanhar em 2024, leitor de sempre ou de vez em quando. Agradeço a ambos imensamente (incluindo a senhora, de coração). Até a semana que vem.

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