Cena do documentário HUMAN Life.| Foto: Divulgação/YouTube
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“Certa aptidão para a morte não é coisa tão rara, mas o que é raro é encontrar homens cujo coração, revestido de uma impenetrável armadura de vontade, esteja pronto para conduzir até o fim uma batalha perdida; a necessidade de paz se torna mais forte à medida que a esperança desaparece, e acaba por dominar a própria sede de viver. Qual de nós já não conheceu qualquer coisa de tal impressão, a lassitude extrema dos sentimentos, a inanidade do esforço, o infinito desejo de repouso? Os que lutam contra forças brutais conhecem bem esse desejo: os náufragos acotovelando-se em chalupas, os viajantes perdidos no deserto, todos os homens que se batem contra as cegas forças da natureza ou a brutalidade estúpida das multidões!"

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Ler Joseph Conrad é sempre impressionante. Daqueles raros autores que nos fazem calar por dentro, levando-nos a uma introspecção mais profunda e transcendente. Este trecho transcrito acima, de Lord Jim, dos seus melhores romances, é apenas um de uma infinidade de outros que poderia citar aqui como exemplo desse “wow” que faz o leitor parar a leitura, desarmar-se diante do que leu e meditar.

E meditando fiquei ao saber da notícia de que mais um país, agora a Argentina, legalizou o assassinato de bebês em gestação, dando o “enésimo” exemplo de que as elites dirigentes do mundo ocidental se descristianizaram, que é o que explica seu completo descolamento da realidade popular e o naufrágio político que só se agrava. E deve piorar muito nos próximos anos, até porque não se vê dos pastores de almas reação maior do que lamentos, cartas abertas e coisas assim. E esta aptidão para conduzir até o fim uma batalha perdida, não se deixando vencer pela lassidão de sentimentos, a inanidade do esforço, o desejo de repouso, quem a possui?

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Jonas Letieri. Aos 26 anos, o surfista que quando menino sonhava em ser profissional do esporte, sofreu um choque de 13.800 volts ao instalar um outdoor no telhado da igreja que frequentava, perdendo os dois braços. Jamais desistiu de viver e hoje, aos 35 anos, mora nos EUA, vivendo como surfista profissional.

Leandro Portella. Aos 17 anos se tornou tetraplégico. Jamais desistiu, fazendo da pintura uma terapia e depois se tornando um pintor profissional participando de exposições pelo Brasil e o mundo, dizendo: “Meus movimentos, deixo todos na minha arte”. Também já foi vereador e ainda milita politicamente lutando por mais direitos à acessibilidade e inclusão de deficientes.

Jean Caetano. Sua mãe tentou abortá-lo do 1º ao 9º mês de gravidez, mas não conseguiu. O bebê nasceu na porta de um hospital, quase que por conta própria. Mas Jean nasceu sem cérebro, com a médica dando 1 a 2 meses de vida. Já se passaram 6 anos desde então e Jean continua vivo, sorrindo em resposta quando falam com ele, sendo cuidado pela Comunidade Jesus Menino, que o acolheu.

“O mistério não se discute, se vive”, costuma dizer Tônio Tavares, fundador desta comunidade que abriga crianças deficientes abandonadas e outras sobreviventes de abortos fracassados. Ele próprio adotou 42 dessas crianças como filhos seus. Tanto sua história, como a de Jean, Leandro, Jonas e muitos outros, são contadas em detalhes no documentário a ser lançado no próximo dia 8 de janeiro, chamado Human Life, dirigido por Gustavo Brinholi e Luiz H. Marques, que gentilmente me permitiram assistir antes, pelo que sou muito grato e louvo a Deus por terem feito este trabalho magistral. Não apenas recomendo, acho obrigatório assistir a quem não queira se deixar vencer pela lassidão, a inanidade e o desejo de repouso diante da morte inevitável.

Quer maior mistério do que a própria vida? É maior até do que a própria morte, que tantos celebram hoje com sua legalização no país vizinho. Porque é como disse São Paulo em carta aos Romanos: "Mas onde abundou o pecado, superabun­dou a graça." Como enxergar esta Graça diante do nevoeiro cerrado de tantos pecados? Pois assista ao documentário e verá isso com clareza. E também aprenderá como ser instrumento desta Graça, como foi e continua sendo o pai de Ana Paula Henkel, a ex-jogadora olímpica de vôlei, hoje comentarista política de renome, cuja história ela própria contou no filme.

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Ana, logo depois de conseguir um ótimo contrato de patrocínio para disputar uma olimpíada próxima, perdeu-o por ter ficado grávida (conforme constava do contrato). Visitou os pais para contar tudo e ao fazê-lo, viu sua mãe cair em prantos, sofrendo e lamentando pelo ocorrido, pelas perdas da filha, pelo futuro completamente modificado desde então. Foi quando o pai interveio, dizendo para sua esposa, não a filha: “Me admira muito você estar chorando desta maneira. Você sabe quantas pessoas neste exato momento no mundo estão chorando como você porque as pessoas estão morrendo, os familiares estão indo embora? E você está chorando desse jeito porque a vida está batendo na porta da minha casa? Eu vou celebrar a vida que está batendo na porta da minha casa. Não quero saber a circunstância, a vida está batendo na porta da minha casa e é ela que eu vou celebrar”.

Que a vida bata à porta da sua alma neste 2021, caro leitor, são meus votos de ano novo. Que Deus nos abençoe e tenha misericórdia.