Quais você faria? É evidente que, se Ele apareceu, a dúvida sobre Sua existência se desfez. Não se trata mais de ter ou não fé no que não se vê porque Ele está aí, ó, na sua frente, aguardando você. Estaria sorrindo?
Estamos no Advento, tempo de as perguntas serem refeitas e as respostas renovadas. Acho que é por isso que costumo recordar de Segatashya, o menino ruandês pagão, nunca batizado, que só sabia de Jesus ouvindo outros mencionar, mas nunca leu a Bíblia ou foi a uma igreja, muito menos tendo feito uma oração na vida. A ele Jesus teria aparecido em 1982, em carne, osso e respostas.
O menino era de uma família muito pobre, iletrada, jamais tinha ido à escola e, de repente, apareceu aquele sujeito se dizendo Deus, cujo tom da pele “é difícil descrever (...), pois não há na Terra uma cor que lhe seja comparável. Parece-se com o bronze, como a pele de um homem ruandês, mas não é negra. É uma pele lisa e vibrantemente viva. Sua pele fulgurava como um sol brilhante dentro de seu corpo”.
Jesus precisou se apresentar, se explicar, educá-lo minimamente a seu próprio respeito. O menino a tudo ouvia, atento e arguto, enchendo o professor de perguntas, como: “Jesus, você nos diz para amarmos nossos inimigos… Mesmo quando nossos inimigos nos prejudicam e parecem maus e pecadores. Mas Deus não travou uma luta contra Satanás e o jogou no inferno? Você nos diz que Satanás é o nosso maior inimigo e que devemos lutar contra ele e suas tentações. Você poderia explicar como, por um lado, você diz para amarmos nossos inimigos e, por outro, parece tão óbvio que você odeia Satanás?”
Fico a me perguntar se não tenho alguma pergunta que não faço por medo de descobrir quão pouca é minha fé, usando-a mais como disfarce de minha covardia para não ser inteiramente honesto com Cristo
Quando Jesus explicou a história da guerra no Céu e a queda de Satanás, lá foi o menino com ousadia e alegria nas pernas: “Sendo assim, Senhor, me parece que todo o problema no qual vive o homem agora começou há muito tempo, lá no Céu. Como Deus pode culpar o homem por arruinar o mundo por causa de seus pecados quando foi realmente culpa do Céu ter deixado Satanás vir a este mundo e vaguear pela Terra como se fosse dono dela?”
Era óbvio que chegaria a vez de Adão e Eva: “Como você é o Todo-Poderoso, você já devia saber quando os criou que eles eram fracos e que pecariam cedo ou tarde – você não pode negar isso, Jesus! Então por que você fez isso? Por que criar dois pecadores que acabariam trazendo sofrimento e miséria a todos os homens que nascessem depois deles? Honestamente, acho que isso foi um erro”.
Como o menino não era nada bobo, depois de essas perguntas grandiosas terem sido respondidas, espertamente pediu: “Se eu realmente estiver em apuros e precisar de ajuda rapidamente, quem de vocês, lá em cima no Céu, tem o maior poder e pode me ajudar mais depressa?” Ao que Jesus devolveu com docilidade: “Oh, meu filho! Que perguntas você ousa me fazer!” Muitas outras o menino fez, recebendo resposta de tudo. Se quiser saber quais foram, leia O Menino que conheceu Jesus, de Immaculée Ilibagiza, publicado pela Ecclesiae.
Até onde consegui me informar, as aparições de Jesus a Segatashya não estão reconhecidas (ainda?) pela Igreja Católica, embora façam parte do mesmo contexto daquelas reconhecidas aparições de Maria a três jovens ruandesas profetizando a guerra civil em Ruanda, que aconteceria em 1994, ceifando a vida de 800 mil pessoas. Immaculée também contou essa história em Nossa Senhora de Kibeho, igualmente publicado pela Ecclesiae. Ela foi uma das sobreviventes do massacre, contando sua história em Sobrevivi para Contar, editado no Brasil pela Civilização Brasileira, cuja leitura também recomendo.
Mas de toda a história de Segatashya, não são suas perguntas e as respostas de Jesus que mais me impressionam, e sim outra coisa que veio antes de tudo isso, que ele revelou em resposta a uma pergunta do psiquiatra que fez parte da comissão que o investigou. O menino, então, contou da primeira vez que Jesus lhe procurou, chamando apenas com uma voz que vinha do alto: “Ele me perguntou se eu poderia transmitir uma mensagem dele e meu coração respondeu por mim – meu coração disse sim! E foi assim que aconteceu. Eu perguntei quem ele era e ele me contou que era Jesus”.
“Meu coração respondeu por mim…” É isso que me comove, porque me faz entender a realidade do Advento. Quando medito sobre isso, fico a me perguntar se não tenho alguma pergunta que não faço por medo de descobrir quão pouca é minha fé, usando-a mais como disfarce de minha covardia para não ser inteiramente honesto com Cristo. Mas se o Advento é um advento, não é à toa que me lembro desse menino nessa época. Não deixa de ser Jesus aparecendo para mim também. Não em carne e osso, tampouco com uma voz nítida, mas como uma resposta do meu coração dizendo um sim convicto, convidando-me a entrar e permanecer. Quem sabe um dia as perguntas se tornem desnecessárias e eu consiga dizer: “vivo, mas já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim” (Gálatas 2,20).
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