Domingo próximo será o dia de a esperança desesperada de muitos se desfazer em choro e ranger de dentes. Ainda que esse desfalecimento seja adiado para o segundo turno, virá, tão certo quanto o sol se põe. Já de outros muitos, a mesma esperança desesperada parecerá saciada por breve tempo, até voltarem a sentir a fome de novas ilusões.
Tenho boas lembranças de eleições, independentemente de vitórias ou derrotas. Uma delas, ainda piá de tudo, recordo de ajudar a distribuir mudinhas de pinheiro na feirinha do Largo da Ordem, como parte da campanha a deputado estadual (acho) de um amigo querido da família, daqueles que chamamos de “tio” como se fosse mais tio do que tio de verdade.
Da vida parlamentar de meu avô fui saber através de outros, não políticos, mas ascensoristas, porteiros, taxistas, barbeiros, vendedores de cocada na feira, que mesmo muitos anos depois de ele ter deixado a vida política, até de ter morrido, lembravam dele
Se bem me lembro ele não se elegeu, mas certamente algumas mudinhas foram replantadas, vingaram e, quem sabe?, não estejam entre aqueles pinheiros que avisto da minha janela neste instante? Sabia que leva de 18 a 20 anos para um pinheiro se tornar “adulto”? Como aquelas eleições foram nos anos 80, os pinheirinhos já são pinheirões maduros, impávidos colossos a testemunhar nossas ilusões políticas sendo perdidas, requentadas e perdidas de novo, vezes sem conta.
Mas talvez nenhuma daquelas mudas tenha vingado. Foram descartadas, plantadas em solo errado, pouco cuidadas, enfim, talvez se foram sem nunca ter sido. Como, anos depois, vivi perto demais da política, de políticos, trabalhando em campanhas eleitorais municipais e também em governos, ainda que por pouco tempo, é-me tentador acreditar que nenhuma daquelas mudas vingou.
Mas não consigo, não creio. Eram realmente muitas, centenas. Não é verossímil que ninguém, nenhuma alma eleitora, tenha dedicado alguns minutos de sua vida plantando a muda recebida. Desconfio que esse tantim, como diriam os mineiros, de esperança, não sem a companhia de um pouquim de fé, devo ao meu avô paterno, de quem herdei o nome e foi deputado estadual entre 1962 e 1985.
Lembro de visitar seu gabinete, passear pelos corredores da Assembleia, mas era criança demais para acompanhar suas campanhas, seu trabalho. Quando ganhei idade para isso, ele já estava fora da política, sofria de problemas de saúde decorrentes de um acidente de trânsito e faleceu cedo demais. Lembro do seu velório, do seu enterro, da sua missa de sétimo dia. Vários desconhecidos, mas apenas um único político compareceu, Algaci Túlio, de quem guardo gratidão, que Deus o tenha também. Porque ele lá foi não por cálculo político, nada tinha a ganhar.
Lembrava muito disso quando trabalhei anos depois com políticos. Nesse meio, o que realmente importa? Da vida parlamentar de meu avô fui saber através de outros, não políticos, mas ascensoristas, porteiros, taxistas, barbeiros, vendedores de cocada na feira, que mesmo muitos anos depois de ele ter deixado a vida política, até de ter morrido, lembravam dele quando descobriam qual era meu nome. Durante anos encontrei meu avô na lembrança de pessoas assim, “do povo”, como diriam os candidatos. E é por isso que sei que nem todas aquelas mudinhas de pinheiro foram desperdiçadas.
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