Afastar-se do noticiário político cotidiano tem inúmeras vantagens. Na verdade, desconheço desvantagens, mas deixemos isso para outra hora. Voltando ao ponto: uma das vantagens que mais tenho apreciado é a de quando alguma notícia tem força suficiente para vencer minha má vontade e me faz passear pela imprensa e redes sociais para me inteirar do que se passa.
Aconteceu nesta semana com a notícia de que Beto Richa se filiaria ao PL e se tornaria candidato do partido à prefeitura de Curitiba. Confesso que ri. Deixe-me explicar: eu ri por imaginar o ridículo de quem teve a ideia achando que era boa. É tão estapafúrdia e descolada da realidade local aqui dos pinheirais que minha primeira curiosidade foi querer saber: “quem foi o gênio?”
Segundo alguns, a articulação teria partido do deputado federal Filipe Barros, não só por ter feito a ponte entre Jair Bolsonaro e Beto Richa, levando o último ao encontro do primeiro, mas também porque em seu histórico consta ter sido assessor de gabinete, em 2013, do então vereador em Londrina Gustavo Richa, que é primo de Beto Richa. Além disso, seu secretário parlamentar atual é Amauri Escudeiro Martins, cuja relação com Beto Richa é pública e notória, pois foi o secretário do Escritório de Representação do Paraná em Brasília em 2012, nomeado por Richa, então governador.
Os envolvidos na ideia de fazer Beto Richa disputar a prefeitura de Curitiba pelo PL devem ter batido o recorde de velocidade política de abandono de uma ideia idiota
Essas informações circularam, fazendo nascer, naturalmente, a desconfiança de que Barros veria com bons olhos essa aproximação de Richa com Bolsonaro, com o consequente crescimento de seu poder dentro do PL, que é um saco de gatos.
Mas e Bolsonaro? O que poderia ganhar se aproximando de alguém como Richa, muito rejeitado pelos curitibanos e que é visto como um dos que se livraram da Lava Jato pelo ativismo judicial de ministros do STF? Só para efeito de comparação: na última eleição, Richa teve em Curitiba menos de 15 mil votos, enquanto Deltan Dallagnol, concorrendo para o mesmo cargo de deputado federal, obteve mais de 150 mil.
Segundo alguns, assim fez porque com isso forçaria Paulo Martins, o natural candidato do PL ao Senado – caso Sergio Moro seja cassado – a se afastar, abrindo espaço para que Michelle Bolsonaro se candidatasse. E, de fato, se foi isso, estava funcionando, pois imediatamente Paulo Martins anunciou que deixaria a presidência do PL de Curitiba.
Disse que funcionaria, porque o bem bolado desandou rapidinho. Não houve absolutamente nenhum apoio à ideia de Beto Richa como candidato a prefeito. Pior, uniu o saco de gatos do partido, que raramente consegue estar e parecer unido, com o mesmo Paulo Martins anunciando que também se colocava à disposição do partido como candidato a prefeito, criando-se um bate-chapa.
Resultado: devem ter batido o recorde de velocidade política de abandono de uma ideia idiota. Em poucas horas, Richa desistiu de se mudar para o PL, o deputado Filipe Barros gravou um vídeo tentando se explicar, dizendo que estava apenas “cumprindo ordens” de Bolsonaro e que apoiava Paulo Martins como candidato do partido à prefeitura de Curitiba, enquanto Bolsonaro, por sua vez, está (até o momento em que escrevo) calado. Quieto, não como quem estrategicamente sabe a hora de silenciar, mas como quem não tem a coragem de assumir o que queria e o que fez. Ou o deputado Filipe Barros está mentindo ao dizer que seguiu suas ordens?
Enfim, é melhor rir dessa patacoada toda do que gastar a vida se irritando com politicagens. Agradeço aos envolvidos pela diversão da semana. Por algumas horas, senti-me como Sílvio Santos quando apresentava o quadro de pegadinhas em seu programa dominical, assistindo ao que Ivo Holanda aprontava e, aos risos, dizia: “Bem bolado, bem bolado!”
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