Já fui a um show do Terra Samba. Fato venéreo, como diria o Paulinho Gogó. Foi em 1998, meu último ano na faculdade de Direito. Para comemorar, fui com um grupo de amigos a Maceió. Lá chegando, descobrimos que haveria o show – e apresentado pelo Fernando Vanucci, aquele que no mesmo ano apareceu comendo uma bolacha durante um programa esportivo na Globo e logo depois seria demitido por isso. Para os mais jovens que não o conheceram, Vanucci era como um ministro da Educação, com a diferença de que quando não havia notícias relevantes a dar ele comia bolachas, não corria passar vergonha por vontade própria.
Lembrei desse evento justamente por assistir ao vídeo publicado pelo ministro da Educação atual, em que aparece com um guarda-chuva para falar que estaria chovendo fake news no MEC. Que dizer? Que quero entender o que leva alguém a se prestar a esse papel ridículo, mas acho que, tendo ido a um show do Terra Samba, coisa que tampouco entendo como e por que até hoje, melhor deixar para lá.
Mas ouso uma recomendação: acompanhar os últimos acontecimentos à luz da sabedoria terra-sambista torna tudo, ao menos, divertido. Esse vídeo mesmo do ministro, por exemplo. Assista sem o som e, no lugar, escute a clássica Banho de Chuveiro e me diga se não faz mais sentido: “Eu quero uma pequena, uma loirinha geladinha / Pra baixar essa quenturinha, que mexeu com minha pressão / Vem de bandinha, vem, se ligue e entre nesse samba / Venha quebrar com o Terra Samba num banho que eu vou te ensina..a..ar.”
Não só divertido, também dá sentido ao que vem acontecendo. Pegue a última confusão envolvendo Olavo de Carvalho. Nem sei direito do que se trata, parece ter a ver com a teoria de que a Terra seria plana. Pois, se escutassem Tá Tirando Onda, saberiam que é tudo uma bobajada, pois que interessa isso quando sabemos que a terra samba?: “Filosofia é a sua terapia / Ficar na dela / Não gosta de agonia / Tá tirando onda / Tá tirando ondinha / O Terra Samba é coisa da Bahia”.
E o Rodrigo Maia proibindo os veículos de comunicação da Câmara dos Deputados de chamarem o Centrão de Centrão? É, meu amigo, parece que as manifestações de domingo passado funcionaram, não é mesmo? E como não funcionariam? Quem tem centrão tem medo! Então, para quem está com o centrão na mão, sugiro o hit Na Manteiga: “Esfregue as mãos / Bote na nuca / Vai na Manteiga / Manteiga! / Manteiga! / Manteiga! / Manteiga! /Manteiga! / Manteiga! (2x)”.
Aliás, tive um desses momentos naquele show do Terra Samba. Sério, eu fui mesmo a esse show. Ainda tinha a desculpa da juventude, releve. Era como o MBL antes dos cargos públicos, sem medo de enfrentar as ruas. Enfim, a certa altura tocaram – e jamais me esquecerei disso – uma de suas canções mais famosas, Deus é Brasileiro. Estourou, então, um fake arrastão que obrigou a mim e um amigo a subirmos desesperadamente pelas arquibancadas lotadas, abrindo caminho por entre senhoras de idade e crianças pequenas que demoraram demais a se levantar. Faltou-lhes a articulação política, aí já viu, o centrão passa por cima mesmo. Até hoje ecoa em meus ouvidos, durante o griteiro daqueles minutos, os versos imortais: “Oh Oh Oh! Ai, meu Deus! Eu só quero entender! (4x)”
Felizmente, era zoeira de uma gente bronzeada que decidira que havia chegado a hora de mostrarem seu valor. Pena que a polícia não tenha entendido, vindo logo atrás casseteteando todo mundo que estivesse pela frente sem discernir os poucos arruaceiros da imensa maioria que apenas assistia ao show tranquilamente. Mais ou menos como os juízes de manifestação fizeram com quem foi às ruas no dia 26. Teve um que chamou todo mundo de neonazista. Acho que está querendo virar ministro da Educação, só pode. Aposto que se dançasse Marcha a Ré nada disso teria acontecido: “Engate a ré é é é! / Engate a ré! / Sambe na pontinha do pé”
Falando em marcha a ré, e a manifestação de quinta, 30, pedindo Lula Livre na educação? Deu ruim, né? Muito menor que a anterior e também que a do dia 26? Estou vendo aqui as imagens, o esforço de boa parte da imprensa para tentar fazer parecer maior é comovente. Sugiro assistir escutando os versos profundos e imortais, dignos das teses de mestrado que abundam nas faculdades de humanas, de Tô Fraco: “Tô fraco, tô fraco, tô fraco / Tô fraco, tô fraco, tô fraco / Tô fraco, tô fraaaacô”.
Confesse, fica divertido se informar assim sobre esses fatos, não fica? E tem a vantagem de pouco importar se você é de extrema-esquerda, extrema-direita ou do extremo-centro. Pois lembre-se que curtir o Terra Samba não é nada mau, só entrar no clima e liberar geral. Permita-se, em pouco tempo você estará cantarolando Carrinho de Mão padá padá padá bá e nem percebendo. E se der briga? Aí é só colocar para tocar Mão na Cabeça que tudo se acerta: “Essa mãozinha / Veja onde passa / Essa mãozinha / Pega, estica, leve e traz / Não deixa a sua mão parada de bobeira / Pega, estica, leve e traz / Com a esquerda e com a direita nessa quebradeira”.