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Conversa à beira-mar sobre o primeiro mês de governo

Foto: Felipe Skroski/Free Images (Foto: )

Com esse calor, falar de política é como tomar cerveja quente na areia da praia, sentado numa piscina regan com água pelo umbigo debaixo de um sol de 37º, sem sombra ou protetor solar, com a turma do guarda-sol vizinho escutando funk e a tal da Jenifer em looping infinito, dançando com coreografia e uivos lascivos. Então se achegue, sirva-se de uma pura “cereais não maltados” e derreta junto comigo.

Completamos um mês de nova era. E aí, como está se sentindo? Muito torturado ou de boa na regan? Eu acho é que não aconteceu nada ainda. Nada digno de nova era, esclareço. Provavelmente com o retorno do Legislativo e Judiciário a coisa engrene. Que coisa? Aí que está. Tente unificar o novo governo numa coisa só e verá que não é possível fazer isso nem juntando apenas o presidente e o vice. Quando um abraça Israel, o outro beija palestinos. Resta saber quem mandará de fato. Aí talvez a coisa ganhe forma.

Quais foram as boas coisas neste primeiro mês? Pensando aqui enquanto descanso as mãos no gelo do isopor, acho que duas merecem destaque. A pronta resposta ao desastre de Brumadinho e a inegável atuação decisiva para que a ditadura de Maduro na Venezuela comece a ruir de fato. O que não significa que as coisas não ficarão piores por lá até a queda definitiva, mas que o jogo virou, virou.

E as más? Além do fato de ter havido poucas coisas boas, há o risco potencial da investigação do ex-assessor de Flávio Bolsonaro e o desconcerto interno que o general Mourão vem deixando muito claro que existe. Ninguém tem aproveitado melhor disso do que a extrema-imprensa, que dia sim, dia também, “informa” que um Fulano de Tal “vê com preocupação” o que o Sicrano de Qual disse ou fez. Com o presidente devidamente recuperado das cirurgias, espero que modere seus postos Ipiranga e unifique a comunicação oficial.

Vai mais uma estupidamente aquecida? Olha que logo eles voltam do mar e ligam o som. Aliás, e a oposição, hein? Tal qual o governo, organizando-se mais do que agindo. A resistência desistente de Jean Willys está aí para provar isso; afinal, o que restou à extrema-esquerda é o controle da narrativa e, se não estão conseguindo se impor no país, ao menos esperam não perder no exterior, onde a fuga do ex-BBB foi mais noticiada do que a tentativa de assassinato do presidente eleito, como o prefeito de Miami comprovou dias atrás ao só descobrir que houve o atentado ao visitar o Brasil, pois nada havia saído na imprensa americana, segundo informou o deputado federal Luiz Philippe de Órleans e Bragança.

Psiu, vem cá, vou falar mais baixo porque tem uns especialistas vindo do mar. É o seguinte: lembra do lema da campanha do Bolsonaro? Isso, conhecereis a verdade e a verdade vos libertará! Acha que com tantas centenárias barragens de mentira represando a verdade desfeita em rejeitos dá para ter esperança de que esse lema seja mesmo verdade um dia? Ou será que só a teremos quando alguma das barragens se rompe, como quando o juiz Sergio Moro retirou o sigilo sobre os áudios escandalosos da tentativa de nomeação de Lula como ministro de Estado? Será que só teremos a verdade assim, em proporções tsunâmicas, ou a nova era será, de verdade, uma nova era? E nem estou falando de corrupção, não, embora isso esteja incluso, claro. Falo de falar a verdade, não de mascará-la com o que for conveniente politicamente ao momento.

Ih, o especialista escutou…

Boa tarde, como vai? É boa essa crocs? Ah, que bom que não pôde deixar de ouvir nossa conversa. Na volta do Congresso a coisa engrena? Disse isso faz pouco. Mas uma pergunta, meu querido, de que coisa você está falando? Aham… Sei… É… Desculpe interromper, parece bem interessante essa sua tese de que Bolsonaro deveria dar ouvidos ao Mourão, mas não quer entrar na regan para ficar mais à vontade? Pega uma lata, relaxa, daqui a pouco a música volta e fica difícil conversar. Ah, tem de ir indo, é? Que puxa. Quem sabe outra hora, então. Abraço.

Peça para um especialista descer de suas crocs que eles fogem como um Jean Wyllys. Onde estávamos mesmo? Ah, sim. Já reparou como usamos a palavra “coisa” para qualquer coisa? Pois é, que coisa. Enfim, melhor esperar o ano legislativo começar para ver em que coisa vai dar. Até lá, é cada coisa que a gente tem de escutar e ler por aí, não?

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