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20th Century Fox/Divulgação
20th Century Fox/Divulgação| Foto:

Tenho poucas certezas nesta vida. Uma delas é que o melô da imprensa durante o governo Bolsonaro será Qualquer jeito (não está sendo fácil), da Kátia, aquela cantora cega, mas não tanto quanto boa parte da grande imprensa atualmente. Tem até jornalão que já deixou de ser informante para ser “diz leitor”. Mais “qualquer jeito”, impossível.

Quem quiser saber do governo que se inicia daqui algumas horas será obrigado a seguir seus agentes diretamente pelas redes sociais. Toda informação relevante foi dada através delas até agora e trocentas notícias da imprensa foram desmentidas por ali também. Então, esta é a primeira dica para acompanhar o governo novo: toda e qualquer notícia na imprensa tem de ser conferida e confirmada nos perfis do presidente, ministros, assessores, até das suas cheerleaders, se duvidar. Dica que parece óbvia, bem sei, mas em tempos de cegueira dizer que a grama é verde não é mais óbvio, não.

Se isso é bom? É claro que não. É como se informar apenas pela Voz do Brasil. Mas quando isso se torna fonte de informação mais confiável do que a imprensa em geral, é o que resta, ao menos por enquanto. A segunda dica é para entender um pouco do conservadorismo bolsonarista: assista aos filmes da franquia Duro de Matar.

 Jair Bolsonaro é como John McClane, que age mais por intuição, sabendo o que e como fazer no momento, mas sem uma estratégia clara, muito menos entendendo a fundo o que está se passando. Vai aprendendo conforme a necessidade de sobreviver. Bolsonaro parece ter escolhido essa linha de ação, talvez por ser a única de fato, delegando muito do seu poder para vários “postos Ipiranga”, como Paulo Guedes e Sergio Moro, dentre outros. Escolheu para si ser protagonista nas crises, confiando na sua antifragilidade que o tornaria capaz de não apenas geri-las, mas transmutá-las em ouro. Até aqui, tem funcionado muito bem.

Sua maior aliada e adversária será sua família, como também é a de John McClane. Em todos os filmes a história gira em torno do clã McClane, com John sempre lidando com alguma treta familiar. Nos três primeiros é com sua esposa, em idas e vindas até o divórcio final. No quarto e quinto o problema é a relação com os filhos. Consegue momentaneamente resolver todas e tudo, por causa do seu heroísmo de momentos, mas basta não estar nas situações de vida e morte para que as coisas se compliquem entre eles.

Neste sentido, Bolsonaro parece estar se dando melhor do que o herói da ficção. Ao menos até aqui, embora em menos de dois meses já tenha sido obrigado a gerenciar crises envolvendo seus filhos políticos. Carlos se afastou da equipe de transição por divergências com integrantes; Eduardo, o “garoto” que precisa sempre ser orientado, quase ajudou a rachar o PSL antes de existir um PSL, ainda que a responsável maior tenha sido Joice Hasselmann naquele caso; e agora o senador Flávio, por causa do ex-assessor com movimentação financeira pra lá de suspeita, que também envolveu a futura primeira-dama e o próprio presidente. O que mais virá por aí? Porque virá, tão certo quanto um novo filme da franquia Duro de Matar (desta vez sem Bruce Willis, aliás).

Mas a semelhança mais significativa entre Bolsonaro e McClane é outra. No quarto filme da franquia, o protagonista disse porque acabava se obrigando a assumir responsabilidades para as quais não estava obrigado a tanto, tampouco preparado para isso: “porque não tem ninguém mais para fazer isso neste momento. Acredite, se houvesse eu o deixaria fazer”. Isso se encaixaria em vários dos discursos e entrevistas de Jair Bolsonaro, como quando disse que “o Brasil está numa situação um tanto quanto complicada, com crise ética, moral e econômica. Tenho certeza que não sou o mais capacitado, mas Deus capacita os escolhidos”.

Jair Bolsonaro já se demonstrou ser duro de matar em vários sentidos, mas infelizmente apenas sobreviver não será suficiente daqui por diante. Que Deus o abençoe e capacite, portanto, pelo bem de todos nós.

Desejo a todos os leitores um abençoado ano novo. Até 2019.

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