“Ciência, ciência, ciência”, é o que respondia o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, quando questionado sobre possíveis tratamentos com medicamentos para a Covid-19. Deixava para os médicos decidirem sobre o uso, mas se recusou a estabelecer protocolos do ministério antes de a “ciência, ciência, ciência” chegar a uma conclusão. Pareceu ser muito prudente e sensato, mas pergunto: as ações recomendadas pelo ex-ministro, em especial os tais distanciamentos sociais, eram embasados em “ciência, ciência, ciência”?
Nesta semana, numa das entrevistas coletivas diárias, apresentou um gráfico de mortes diárias mostrando achatamento da curva nos últimos dias e concluiu que isso seria fruto desse distanciamento e isolamento social iniciados em torno de duas semanas antes. Pergunto outra vez: essa conclusão é baseada em qual evidência da “ciência, ciência, ciência”? Tem algum estudo da “ciência, ciência, ciência” demonstrando isso? Se não tem, seria coisa de quem preza a “ciência, ciência, ciência” rejeitar a hipótese de que a diminuição no número de mortos possa ter se dado pelo uso de medicamentos e tratamentos ainda não recomendados pela “ciência, ciência, ciência”?
Governantes esticam quarentenas como quem aposta no jogo do bicho, sem qualquer critério da “ciência, ciência, ciência” que justifique tais decisões e previsões
E não pergunto isso por mero achismo. Nos famosos hospitais Sírio Libanês e Albert Einstein foram atendidos mais de 700 pacientes com a doença e apenas duas mortes foram registradas, segundo noticia o jornalista Fernão Lara Mesquita em texto recusado pelo jornal O Estado de S. Paulo por sabe-se lá qual razão. Por que nesses hospitais tivemos poucas mortes até aqui? Na reportagem se aponta o uso de um medicamento que funcionou muito bem em mais de 90% dos casos. Um dos médicos responsáveis, Roberto Zeballos, deu entrevista a uma rádio detalhando melhor o tratamento. Por isso, insisto na pergunta: a diminuição no número de mortos não pode ter se dado pelo uso de medicamentos e tratamentos ainda não recomendados pela “ciência, ciência, ciência”, mas que os médicos estariam aplicando?
Enquanto escrevia esta coluna, o ex-ministro participava de uma live aberta no YouTube com especialistas, na qual voltou a dizer que a eficácia de um dos possíveis remédios, a cloroquina, não estaria confirmada pela “ciência, ciência, ciência”, porém palavras depois disse: “medicina é um ramo da filosofia. Ela não é uma ciência das exatas, ela é arte, nós somos uma arte, nós não somos uma ciência”. Ué? Somos, ex-ministro? Lembrei do que disse o médico francês pioneiro na defesa da cloroquina, Didier Raoult, que em entrevista disse: “Mas chegamos a um nível de loucura tal que os médicos que aparecem na tevê não aconselham mais diagnosticar a doença, mas dizem às pessoas para ficarem confinadas em suas casas. Isto não é medicina...”
Não é mesmo. E, aos poucos, médicos de renome (e dignos da vocação) começam a dizer o óbvio, como o respeitado cardiologista Costantino Costantini em entrevista a esta Gazeta do Povo, ao ser perguntado: “Então, por estarmos em uma pandemia, vale a pena ‘pular etapas’ do processo científico e já introduzir o medicamento oficialmente nos protocolos de tratamento?”, respondeu: “Vai esperar? Por que o David Uip, um destacado infectologista do país, não negou que tomou hidroxicloroquina? E o dr. Kalil [Roberto Kalil Filho, diretor do Hospital Sírio-Libanês] admitiu que tomou, e hoje está trabalhando? E tomaram quando? Nos primeiros sintomas”.
Enfim, temos um novo ministro. É cedo para saber se haverá mudança de rumo nas diretivas, mas ao menos espero que isso signifique que começamos a sair desse verdadeiro “teatro do absurdo”, com governantes esticando quarentenas como quem aposta no jogo do bicho, sem qualquer critério da “ciência, ciência, ciência” que justifique tais decisões e previsões enquanto se exige que medicamentos e tratamentos que estão dando resultados só sejam aceitos quando comprovados pela mesma “ciência, ciência, ciência”. Até lá, permanecemos como os personagens da famosa peça teatral de Samuel Beckett, Esperando Godot. Nela, apenas se espera. Nada acontece, apenas se espera. O quê? A chegada do tal de Godot que não se sabe quem é, nem o que faz e que tampouco aparece no fim do drama. Ou vai ver que até apareceu, mas ainda estão aguardando uma prova científica de que chegou mesmo.