Estava aqui assistindo a uma entrevista do CEO da AtlasIntel, o único instituto de pesquisa que conseguiu razoavelmente acertar nas eleições presidenciais norte-americanas. O sucesso ocorreu, segundo ele, porque a empresa seria a única a utilizar uma metodologia que daria mais peso ao mundo virtual, especialmente das redes sociais.
Trocando em miúdos, seria a única que faz pesquisas mais pela internet do que por telefone ou na rua. Até aqui isso era visto com desconfiança, tanto pelos demais agentes do setor quanto pelo público em geral, considerando o mundo virtual ainda incapaz de refletir uma vontade mais geral da população ou mais facilmente manipulável. Não mais.
Eis mais um exemplo de uma longa lista de mudanças significativas que a internet causou. A que teve um impacto simbólico mais significativo me parece ter sido o aparecimento do Uber, que não causou apenas um apocalipse no sistema institucionalizado dos táxis, como revelou (ajudando a acelerar) uma mudança mais profunda na forma de viver, não apenas se deslocar. Até a indústria automobilística foi afetada, pois o comportamento das novas gerações já difere muito das anteriores, não vendo mais na propriedade de automóveis um bem necessário como antes.
A lista de mudanças significativas que a internet causou é bastante longa
Fenômeno semelhante aconteceu, acontece e acontecerá em outros setores, não parecendo possível resistir ou impedir as mudanças. Mesmo aqueles que oferecem uma resistência maior que a dos táxis cedo ou tarde capitularão ou desaparecerão. E, quanto mais demoram, mais perdem. A indústria musical é um bom retrato disso. Já não sobrevive de venda de discos e segue brigando com os streamings, que pagam bem menos. E, com a inteligência artificial a criar músicas novas com facilidade, a tendência é de os músicos dependerem cada vez mais de shows para sobreviver.
No cinema, a capacidade de adaptação talvez seja maior, até pela experiência de ter passado por algo parecido quando surgiu a televisão. Nos primórdios da tevê, os grandes estúdios proibiam os seus atores e atrizes de fazerem trabalhos televisivos, por medo da concorrência. Tiveram de ceder, assim como a tevê com a internet – caso, por exemplo, da antes todo-poderosa Rede Globo, que já não mantém exclusividade (porque não consegue mais) de boa parte do seu casting.
Em outros setores a nova realidade simplesmente se impôs, com eventual resistência sendo inútil. Bancos diminuem consideravelmente suas agências físicas. Compras? Cada vez mais on-line, e a quantidade impressionante de imóveis comerciais à venda ou locação nos grandes centros das cidades revela um problema de ocupação imobiliária que em breve deverá passar por mudanças também. Shopping centers, aliás, se tornam gradativamente lugares para lazer, gastronomia e serviços.
Com a pandemia, é bom lembrar, a necessidade de implantar o trabalho remoto acelerou o processo em outros setores, revelando a desnecessidade atual de muita coisa. Na educação superior ficou claro que vários cursos universitários podem perfeitamente acontecer à distância, sem necessidade de um câmpus. Há conjuntos de prédios que se tornaram verdadeiros “elefantes brancos” das grandes universidades, sem serventia.
No jornalismo, quem aceitou antes a realidade da mudança inevitável mais ganhou do que perdeu. Esta Gazeta do Povo, por exemplo, creio ter sido o primeiro (se não for o único ainda) dos grandes jornais do país a se tornar inteiramente digital. Resultado: passou de um jornal regional, o maior do Paraná, a um dos maiores jornais de alcance nacional. Se duvida, pesquise os números de assinantes, de acessos etc.
Com o desenvolvimento muito veloz da inteligência artificial, é apenas questão de tempo para que você seja obrigado a mudar muito mais do que pensa
Não somente isso: o jornal abriu espaço para quem não vinha do circuito tradicional de jornalistas, abrindo-se a quem vinha da internet. Eu mesmo sou prova disso. Ou seja, esta Gazeta do Povo é um case que deveria ser estudado e até imitado por seus concorrentes que, porém, parecem preferir ignorá-la, fingindo que deixou de existir. Não à toa padecem de uma crise de credibilidade imensa e que só aumenta quanto mais tratam as redes sociais como inimigas, ao contrário deste jornal.
E, se você pensa que mudanças assim lhe afetam apenas indiretamente, melhor se espertar. Com o desenvolvimento muito veloz da inteligência artificial, é apenas questão de tempo para que você seja obrigado a mudar muito mais do que pensa. A começar pelo seu trabalho. O que fazer? Parece que Alan Watts, o filósofo meio maluco beleza da contracultura dos anos 1960, tem razão quando disse: “A única maneira de entender a mudança é mergulhar nela, mover-se com ela e entrar na dança”.
P.S.: este texto não foi escrito por inteligência artificial.
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