Ando nostálgico. Muito por culpa do meu caçula. Tem 7 anos, nunca assistiu, mas já sabe que adora filmes de terror. Fica fascinado com a capa da refilmagem recente de It e tem em casa a máscara do Jason, o protagonista da franquia Sexta-Feira 13. Eu provoco fingindo querer assistir com ele, mas lhe falta coragem. Ainda bem, porque não deixaria mesmo. Mas brincamos de “Jason” de vez em quando, como eu fazia com meus primos quando piá. Era basicamente a brincadeira de polícia e ladrão com a diferença de que não há polícia nem ladrão, apenas o Jason andante e uma turma tropeçante. Era divertido. É ainda.
Na adolescência não havia semana em que eu não assistisse a uns dois, três filmes, revendo se não houvesse novos. E Sexta-Feira 13 era meu preferido, todos eles, ao menos até o nono da série, que era para ser a última sexta-feira com Jason indo para o inferno. No fim fazem uma referência ao Freddy Krueger que lembro de não ter gostado. Uns dez anos depois, inventaram um filme com os dois que confesso não assisti ainda. Porque sou fiel. Gostava tanto de Sexta-Feira 13 que nunca dei muita bola para as outras franquias famosas da época, como Halloween e A Hora do Pesadelo. Claro que me pelava de medo de Michael Myers e Freddy Krueger, mas nenhum me assombrava mais do que Jason e aquela “musiquinha” terrível que sempre o anunciava.
Enquanto meu pequeno não chega a uma idade em que dá para encarar esses filmes, a que obviamente assistirei junto, vai sendo meu parceiro em outros. Ultimamente começamos a assistir aos filmes da série Missão Impossível. Ia ver sozinho numa dessas tardes de domingo arrastadas, mas logo ele se achegou, deitou na cama ao meu lado e não desgrudou os olhos da tela. Adorou a cena do helicóptero no túnel, que hoje já acho datada, mas na época foi inovadora. Ao menos assim me lembro dela. Estamos na metade do segundo filme da série e a ideia é assistir a todos e, aí, vermos no cinema o que será lançado em breve.
Já meu primogênito não curte filmes de terror, nunca viu graça. Tem 13 anos e, enquanto seu pai com essa idade cometia a besteira de assistir ao Jason, ele prefere histórias de guerra. Bem mais maduro, claro. Estamos assistindo ao excelente documentário The Vietnam War, na Netflix, que mais que recomendo. Depois quero assistir com ele a Band Of Brothers, das melhores coisas que já fizeram na televisão. E, dentre tantas dívidas que tenho com ele, estou para aprender a jogar um game da Segunda Guerra que ele ganhou de presente. Quanto mais memórias nossas juntos, melhor. Sei o quanto isso faz diferença, por menor que ela seja.
Gostaria de ter uma dessas lembranças com meu pai. Tenho várias com futebol, por exemplo, mas com filmes e seriados foi pouca coisa. Lembro mais é de ele ter nos proibido, a mim e meus irmãos, de assistir ao seriado Miami Vice. Embora raramente proibisse alguma coisa, com Miami Vice lembro bem de ele ter sido firme contra. Quando, vários anos depois, assisti a alguns episódios, mais de curiosidade por causa da proibição de antigamente, até entendi a preocupação dele, mas não pude deixar de rir pensando: “Que sorte ele não saber o que tinha nos filmes do Jason…”
Meu pai era um cara fechado. Só fui descobrir que também era fã de cinema e seriados quando começaram a aparecer, no escritório em que trabalhávamos juntos, encomendas de DVDs que ele comprava pela internet, nos primórdios do e-commerce. Não sabia o quanto ele gostava de westerns, especialmente John Wayne, da trilogia de O Poderoso Chefão, dos filmes do Indiana Jones. Quando visito minha mãe não consigo não conferir, ao menos com o olhar, a coleção de DVDs que ele foi montando nos últimos anos de vida. Estão todos lá, menos os do seriado Bonanza, que não consigo devolver. Depois que ele morreu, até assisti com meu filho mais velho a alguns dos episódios, mas não demos sequência. Para ele era tudo muito “parado”, “antigo”, mas para mim o motivo foi outro. Não continuar assistindo foi uma forma de adiar meu adeus.
Sim, eu sei, é besteira, mas é assim que o luto funciona. Você acha que, se se despedir mesmo, irá “abandonar” quem morreu. Acho que chegou a hora de eu terminar de assistir a Bonanza. Até porque, e só agora me dei conta disso, quando terminar ganharei uma daquelas lembranças que gostaria de ter com meu pai. Veja você como são as coisas. Dia dos pais nem chegou e já ganhei um presente. Obrigado, pai.
Boicote do agro ameaça abastecimento do Carrefour; bares e restaurantes aderem ao protesto
Cidade dos ricos visitada por Elon Musk no Brasil aposta em locações residenciais
Doações dos EUA para o Fundo Amazônia frustram expectativas e afetam política ambiental de Lula
Painéis solares no telhado: distribuidoras recusam conexão de 25% dos novos sistemas