Com licença, meu patrão, minha patroa, um segundinho da sua atenção! Poderia, por gentileza, clicar aqui antes de continuar a leitura? É rápido, mais seguro que o Telegram e, para entender o que segue, é preciso parar uns segundos diante desta obra de M.C. Escher, o famoso artista gráfico criador de imagens com efeitos de ilusão de ótica. Parou, olhou? O que viu primeiro: anjos ou demônios? E, se só viu um, volte lá. Conseguiu ver o outro agora?
Não é interessante, como podemos nos enganar ou sermos enganados dependendo da perspectiva da qual partimos ou nos colocam para olhar o mundo? Pois então, esse “escândalo” todo com as supostas mensagens hackeadas de procuradores do MPF e o ex-juiz Sergio Moro tem tudo para ser uma tentativa de criar esse “efeito Escher”. Claro que, naqueles cuja perspectiva na qual se encontram antes de ler essas mensagens já definiu como as julgará, essa tentativa é vã. Ou seja, quem defende “Lula Livre” a qualquer custo obviamente só enxergará nas mensagens demônios tramando demonices. De outro lado, os defensores irrestritos da Operação Lava Jato só verão anjos trabalhando contra demônios. Mas naqueles capazes de enxergar tanto os possíveis anjos quanto os alegados demônios, sendo capaz de formar opinião pela realidade apresentada, não conforme aquela desejada, aí a tentativa pode funcionar.
Em alguns casos, especialmente dos famosos extremistas da moderação, já funcionou. Mas deixemos essa gente que sofre de ilusão de ótica diferente, chamando de prudência e ceticismo o que é covardia e covardia. Para quem tem prudência de verdade, o simples fato de que tais mensagens não terem sido divulgadas na íntegra e estarem desacompanhadas de alguma imagem de tela do aplicativo em que teriam sido trocadas, algum print, qualquer coisa original que permita conferir sua autenticidade, é motivo mais do que razoável para simplesmente não tirar nenhuma conclusão e esperar.
A conclusão do site militante de esquerda vem antes das informações que diz possuir
Mas é justamente nessa espera que o “efeito Escher” está sendo criado. As primeiras mensagens foram apresentadas apenas com trechos transcritos de supostas conversas, recortadas do contexto original e embaladas numa estética sensacionalista recheada de retórica pseudojornalística para tentar fazer parecer que a reportagem em si seria a “prova” do que se apresentou. Mas não é, nem pode ser. Por que, então, não mostrar os documentos originais? E por que não mostrar tudo de uma vez?
A resposta parece ser uma só: porque interessa menos a verdade do contido neste material do que a conclusão que se quer que os leitores tirem dele. Basta ler as “reportagens” para se perceber que a conclusão do site militante de esquerda vem antes das informações que diz possuir. O título da “reportagem” é: “Série de reportagens mostra comportamentos antiéticos e transgressões que o Brasil e o mundo têm o direito de conhecer”. Portanto, ainda que tais conversas sejam todas reais e verdadeiras, o tal site militante está a construir uma ilusão de ótica tentando controlar a forma como quer que sejam lidas e, consequentemente, compreendidas. Como? Destacando os demônios da imagem de Escher na esperança de que ninguém veja os anjos que também estão ali. E estão.
Ainda que no mundo das tecnicalidades jurídicas as conversas possam servir para anular algo, para o cidadão comum, o tal do povão, o que se divulgou até agora revela “polícia pegando bandido” e mais nada. Será preciso um esforço gigantesco para fazer parecer o contrário, de que se trata de um imenso conluio de agentes do Estado perseguindo inocentes. E é esse esforço que vem sendo tentado.
Notem que é tão crucial para esse intento o controle do material original, não se dando acesso a ninguém, que o responsável pelo site, Glenn Greenwald, tentou fazer com que a Rede Globo, cuja credibilidade jornalística é incomparável à do seu site militante, noticiasse esse material sem nem sequer saber antes do que se tratava! É algo tão absurdo, surreal, que a própria rede de televisão veio a público informar em nota oficial esse fato, muito revelador das intenções do sujeito, explicando por que recusou trabalhar com Glenn Greenwald: “Não haveria como assumir qualquer compromisso de divulgação sem conhecimento do que se tratava”.
Para Glenn Greenwald, interessa menos a verdade do contido no material que a conclusão que se quer que os leitores tirem dele
Tendo o controle total do que podemos conhecer dessas supostas conversas, aí começa a construção da ilusão de ótica, começando pelo recorte selecionadíssimo de poucas mensagens (em comparação com o que o próprio site alega ter em mãos) divulgadas no último domingo, dia 9, sem o contexto donde foram retiradas. Com isso, tentou-se criar a “primeira impressão”, aquela que supostamente fica no imaginário. Somente três dias depois, na quarta, dia 12, que as mesmas mensagens foram publicadas agora num contexto maior. Mas aí, neste contexto, os trechos antes recortados perdem força, pois o tom e a pouca informalidade com que Sergio Moro conversava com o procurador Deltan Dallagnol, o coordenador da Operação Lava Jato, revelam uma distância incompatível com a suposta proximidade promíscua que aqueles trechos soltos sugeriam.
Daí porque, no mesmo dia, precisavam de outra “bomba” de maior impacto, soltando outro trechinho sem contexto supostamente envolvendo o ministro Luiz Fux, do STF. E assim parece que será daqui por diante. Ao soltarem as mesmas mensagens num contexto maior que provavelmente diminui (quando não elimina) o efeito que tentam criar, publicam também outro trechinho selecionadíssimo de outra conversa, na esperança de que isso, aos poucos, vá “fazendo a cabeça” dos leitores.
Ainda que, ao fim dessa pantomima, comprove-se eventual irregularidade segundo a lei, nem de longe parece existir o conluio entre autoridades em que o site tenta induzir o leitor a acreditar. Se as conversas tivessem sido divulgadas na íntegra desde logo, ficaria quase impossível criar essa narrativa do site militante, muito menos controlá-la, algo que já vem se tornando difícil, pois há suspeita inclusive de que forjaram algumas das conversas, segundo procuradores que teriam sido hackeados.
Enfim, enquanto seguir assim, sem termos acesso ao material do qual o site militante diz estar retirando os trechos de conversas que lhe interessam, estamos assim: de um lado, a Operação Lava Jato, cujos resultados falam por si; de outro, um site capitaneado por um estrangeiro que quer nos convencer de sua credibilidade na base do “la garantia soy yo”.