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No mais novo documentário da Brasil Paralelo, A Direita No Brasil, o deputado Nikolas Ferreira defendeu que as diferenças na direita brasileira deveriam ser resolvidas “dentro de casa”. Fiquei a perguntar: qual casa? O período analisado no filme foi das manifestações de 2013 ao fatídico 8 de janeiro de 2023. Dez anos depois, que casa a direita construiu para si?
Nenhuma. A prova mais contundente está no fato de não haver um partido a representar os anseios difusos das manifestações populares surgidas em 2013, a não ser legendas de aluguel a abarcar os alinhados conforme a circunstância do momento.
Até há alguns think tanks, a maioria existentes antes disso, mas nenhum conseguiu de fato se tornar essa “casa”, abrigando suas várias correntes. O mais próximo disso, parece-me, é a própria Brasil Paralelo, surgida em 2016, e este documentário dá mostras disso, embora ainda esteja distante de conseguir reunir todos os representantes da direita. O MBL, por exemplo, só aparece no documentário através de um ex-membro rompido com a organização, Fernando Holiday.
Dez anos depois das manifestações de 2023, que casa a direita construiu para si? Nenhuma
A realidade é que a casa da direita é a rua, onde foi parida, e seu único teto é o mundo do intercâmbio virtual das redes sociais e apps trocadores de mensagens como WhatsApp e Telegram. Daí porque suas diferenças, sua roupa suja, só podem ser lavadas na frente de todos, o que significa dizer que nunca são de fato lavadas, com as diferenças sendo nutridas em microbolhas cheias de memes e mitadas significando ressentimento e inclemência. Vide Nando Moura.
Mas o documentário da Brasil Paralelo traz uma novidade alvissareira. É a primeira vez – e me corrijam se estiver errado – que vejo perspectivas diferentes sendo apresentadas sem outra pretensão que não a de permitir que sejam conhecidas, consideradas e debatidas. Isso é raro, para não dizer inédito, na nova direita. Da atuação de Jair Bolsonaro à importância de Olavo de Carvalho, muito é (re)avaliado, fazendo do documentário uma espécie de divã no qual a nova direita começa a se autoanalisar.
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Antes tarde do que nunca. Que seja um sinal de amadurecimento real, com a retórica não mais sufocando a dialética absolutamente necessária para que os opostos, que não se atraem, ao menos possam se compreender.
Falando em compreender, o leitor já deve estar até cansado de ver minha foto nos anúncios do mais novo curso gratuito para assinantes ofertado pela Gazeta do Povo. É mais uma modesta contribuição para tentar entender o momento que vivemos. Comecei a expressar os frutos desse trabalho em 2016, dando uma palestra sobre como as ideias de esquerda e direita pautaram e pautam nosso imaginário sem que percebamos. A partir do início de 2018, aqui neste espaço, rascunhei a história antecedente ao surgimento da nova direita – a primeira de várias colunas você pode ler aqui.
Durante o governo Bolsonaro segui, como um observador no escritório, registrando o que me parecia mais relevante para que essa história possa ser melhor contada e compreendida no futuro, como nas colunas sobre as Conferências de Ação Política Conservadora (CPACs) de 2019 e 2021 – pela coluna de 2021 você encontra os links para as de 2019. Findo o governo, logo depois do 8 de janeiro, escrevi sobre o futuro da nova direita.
A casa da direita é a rua, onde foi parida, e seu único teto é o mundo do intercâmbio virtual das redes sociais e apps trocadores de mensagens como WhatsApp e Telegram
Agora, com o curso sobre conservadorismo que a Gazeta me solicitou e com que muito me honrou, por consequência desse trabalho, tento demonstrar que o ponto de partida para entender o conservadorismo não está na política, na ideologia etc., mas na própria condição humana em que o conservar e progredir são fenômenos inerentes. A partir disso, fazemos o passeio pela origem política do conservadorismo como tal, passando pelas referências à história do conservadorismo brasileiro até chegarmos ao momento presente, que impõe a todo pretenso conservador reconhecer que sua tarefa está mais em restaurar o que foi perdido.
Agradeço imensamente os feedbacks que tenho recebido de quem fez ou está fazendo o curso. Pelo retorno, acho que consegui atingir meu objetivo. E a quem queira saber mais sobre o que penso sobre conservadorismo, escrevi uma coluna esclarecendo qual conservadorismo me interessa.
Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos
