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Francisco Escorsim

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Eleições em São Paulo

O “coringamento” da direita

PABLO MARÇAL
Pablo Marçal, o candidato "antissistema" à prefeitura de São Paulo. (Foto: Antonio Milena/ Fotos Públicas)

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“Antes de se entender qualquer fenômeno é preciso descrevê-lo.” Assim comecei a coluna da semana seguinte ao famigerado 8 de janeiro de 2023. Intitulei-a “A ‘nova’ direita: de volta para o futuro”, dando continuidade às descrições e análises que venho fazendo deste fenômeno, o da não mais tão nova direita, desde, pelo menos, 2018. E volto a repetir o que escrevi, porque entendo permanecer não só atual, como esclarecedor:

“A verdadeira ‘nova direita’ estava e ainda está nas grandes manifestações populares de 2013 em diante: uma massa informe cansada de ser tutelada pela classe política, seja de esquerda ou direita, mas incapaz de se expressar direito, não sabendo bem o que quer porque não sabe nem sequer contar a história direito de como chegamos aonde chegamos.”

Depois da revolta tresloucada do 8 de janeiro, fruto de muita frustração, e da perseguição alexandrina que jamais parou ou retrocedeu, pelo contrário, parecia que essa massa informe demoraria a voltar a dar as caras, voltando a engolir a contragosto, em eleições, a centro-esquerda que por décadas ocupou o lugar do que seria uma direita de verdade. A aceitação de Bolsonaro por apoiar Nunes à prefeitura de São Paulo não deixava dúvidas disso, aliás.

O voto em Pablo Marçal não é um voto nele, mas um voto no Coringa que ele parece ser. Sim, Coringa, o do filme de 2019

Entretanto, o surgimento de Pablo Marçal, que não vem fazendo outra coisa a não ser dar voz ao mesmíssimo “saco cheio” contra o “sistema” – discurso que Bolsonaro deixou pelo caminho na tentativa de salvar a própria pele –, recolocou-a no jogo. Terminei aquele escrito de janeiro de 2023 dizendo: “É questão de tempo para que a “nova direita” ressurja de onde nunca saiu: de 2013”. Ei-la ressurgida, mais uma vez.

E isso tem pouco a ver com Marçal. Quanto mais se tentar compreender essa intenção de voto por alguma qualidade sua, menos se entenderá por que tantos votarão nele. Por isso, também, de nada adiantará levantar todos os podres do seu passado, tentando mostrá-lo como um bandido ou picareta meio louco. Terá até o efeito contrário, porque o voto em Pablo Marçal não é um voto nele, mas um voto no Coringa que ele parece ser. Sim, Coringa, o do filme de 2019.

É preciso atentar mais ao eleitor, repito. A mesmíssima frustração que levou aquelas pessoas à revolta do 8 de janeiro segue viva, mais do que antes até. O voto em Marçal é de protesto, sim, inclusive contra a própria direita institucionalizada que se distanciou dessa massa ao tentar sobreviver no sistema de forma pragmática, aceitando o que antes era inaceitável. Ou alguém vai querer convencer que o seu Nunes seria aceito nos caminhões de som das manifestações populares iniciadas em 2013?

Faça o teste e converse com as pessoas, perguntando o que as faz ou faria votar em Marçal. Muitos farão ou fariam menos por escolher alguém de direita ou o menos pior dos candidatos, mas justamente por ser o pior, no sentido de ser aquele que veio estragar a festa, não participar dela. E por que muitos desejariam algo assim? Ora, é a única coisa viável para a direita hoje, aquilo que sobrou: estragar a festa, porque não a deixam participar de fato dela.

É por isso que para Jair Bolsonaro é menos pior que Marçal ganhe, pois terá de passar pela mesma via crucis de negociações políticas para governar, o que fará suavizar o discurso e perder muito do seu encanto. Dentro do sistema não existem Coringas e Batmans, apenas Comissários Gordon – e olhe lá. Mas, perdendo, Marçal se tornará um imenso problema para Bolsonaro, que está manietado e não podendo falar livremente, tornando-se presa fácil para qualquer um que consiga fazer parecer que não tem “rabo preso” com o tal do “sistema”.

No fim das contas, passou da hora de os supostos líderes dessa direita entenderem que o caminho mais difícil é o único viável, qual seja, o de dar forma a essa massa informe, o que significa criar as instituições para tanto, a começar por um novo partido de base, não de caciques. Talvez o próprio Novo possa se tornar isso, já que vem passando por um processo de transfusão de sangue que o aproxima daquela massa, tanto que muitos da direita votarão na sua candidata em São Paulo.

Sem isso, esse processo de coringamento tende a se acelerar e, no futuro, Pablo Marçal parecerá um Robin perto do que surgirá.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

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