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“Não quero esta porta fechada. Acabou!” Quem aí nunca ouviu algo assim de sua mãe durante a adolescência? Não precisa nem dar algum exemplo concreto, automaticamente você deve ter lembrado de um seu. Por essa e outras tantas falas que não há mãe e filhos brasileiros que não se reconheçam com muito da família de Dona Hermínia, a icônica personagem criada e interpretada por Paulo Gustavo, falecido nesta semana que, por ironia do destino, também terá o Dia das Mães.
Segundo o ator, em entrevista a Pedro Bial no ano passado, as mães brasileiras se sentem mais do que representadas em Dona Hermínia, mas realizadas nela, pois a desbocada fala e age como muitas mães gostariam em vários momentos, só não o fazendo por prudência ou receio de serem as “chatas” sem a parte divertida. Como a personagem é mais do que inspirada em sua própria mãe, como as cenas com ela ao fim dos filmes provam, o realismo se torna ainda mais forte.
A morte não consegue fechar a porta da vida. “Não quero esta porta fechada.” E com Dona Hermínia aprendemos a deixar a porta aberta
Realmente, assistir aos filmes da franquia Minha Mãe é Uma Peça é, para a maioria dos brasileiros, como olhar no espelho a relação com sua mãe. Mas com a morte do ator os filmes ganharam mais um sentido, ainda mais medicinal do que já era. Porque em todos a morte se faz presente. Nos dois primeiros, a morte de um sobrinho e de uma tia, enquanto no terceiro temos o próprio medo da morte da personagem, que agora crescerá de significado, assim como clichês que aqui recuperam seu viço, como: “Aproveitem enquanto estamos vivas, porque a única certeza que a gente tem na vida é que a gente vai morrer”.
E como estamos morrendo. Não apenas por causa da pandemia que se arrasta e já levou milhares de mães e filhos, como também dizimou famílias inteiras, mas também por coisas como a ocorrida em Saudades (SC), no mesmo dia da morte do ator, com a chacina brutal e estúpida de três crianças e duas professoras. A vontade que dá diante da realidade atual não é a de agir como na adolescência, se trancando no quarto para jogar videogame, ouvir música ou assistir a qualquer coisa na tevê, anestesiando-se do mundo assustador do lado de fora, também incompreensível?
Mas a morte não consegue fechar a porta da vida. “Não quero esta porta fechada.” E com Dona Hermínia aprendemos a deixar a porta aberta. Nos filmes, todos seguem a mesma fórmula, fazendo das confusões familiares do tempo presente, tornando aparentemente insuportável o convívio, um motivo para voltar ao coração e de lá recuperar o amor embalado nas lembranças do passado. Não há treta em família que não se dissolva ou não ganhe um respiro quando os personagens param e se lembram do passado, seja na memória, seja pelas fotos de infância dos filhos, os vídeos das festinhas de aniversário etc.
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Aproveite a comemoração do Dia das Mães e mergulhe nas fotografias de antigamente e veja se não acontece o mesmo, ainda que tenha perdido muitos entes queridos para a morte. Saudade dói, mas também cura. No primeiro filme, na parte em que se conta a história da morte do sobrinho, dona Hermínia disse algo como: “Quando uma mãe perde um filho, todas as mães sentem como se fosse o seu”. Agora, assistir aos filmes será também lembrar e sentir a dor da mãe de Paulo Gustavo, transformando-os de comédias leves para algo mais profundo. Mas não em uma tragédia. Saudade dói, mas também salva.
A morte do ator, como a morte de personagens nos filmes, torna nosso riso agridoce, sem dúvida, mas por outro lado ganhamos algo que antes não tínhamos. Com os filmes, somos levados não apenas para sentir a dor da morte, mas também para um lugar aonde a morte não chega. Lá, onde a vida está guardada e preservada como um testamento de amor de um filho por sua mãe que por sua vez traz à vida o amor que o espectador tem pela sua mãe. Neste lugar, toda morte dá lugar ao amor, que é toda a vida. E é a isso que chamamos de Saudade.
Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos