“Ei Odemilson, digo, Escorsin. Fomos 57 milhões de corajosos, honestos, trabalhadores, patriotas que, longe dos isentões como você defenestramos os esquerdopatas do Palácio do Planalto. E estamos mais animados ainda para continuar a limpeza. Nós não temos nome de jornalista nem de ator, nem de comentarista, nós somos a família cristã, nós somos as ‘tias do Zap’. Pessoas como você, sem sangue quente correndo nas veias nós ignoramos. Perdi meu tempo lendo você. Nunca mais!”
“Também me foi tempo perdido. Aliás, fiquei surpreso da Gazeta dar espaço para uma mente tão limitada.”
“Aí prezado, é de Tiagos Leiferts e de Franciscos Escorsim da vida que a esquerda/progressista e hipócrita precisa. Isentões com sua estética limpinha querendo pegar em nossas mãos e nos conduzir ao paraíso terreno. Acabam sempre caindo no colo do PT – partido dos trambiqueiros. Eu pra decidir em quem voto não preciso de firulas pseudas filosóficas e de muito blablá blá. Uso apenas o bom senso e a lógica. Sei separar o joio do trigo, prezado. Ah sim, vou de ‘Bozo’, talquei?”
“Se dê um tiro na cabeça se, ao não escolher um lado, o PT volte a governar o Brasil. Por favor!”
Comentaristas não percebem que a consequência desse berreiro seja justamente o oposto do que gostariam que acontecesse. Em vez de conquistar mais pessoas para seu lado, afasta
“Parabéns pelo texto, Francisco! Delicioso de ler. Você redimiu em algumas inspiradas linhas os milhões que apoiaram e que ainda apoiam Hitler e o Holocausto, Stalin, Mao Tse Tung, Fidel Castro, o Kmer Vermelho, Idi Amin Dada e muitos outros, incluindo Lula. Sim, o nosso voto diz tudo a respeito de nosso caráter.”
“blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá.... texto de m....”
Eis alguns dos comentários que recebi na coluna da semana passada, que podem ser lidos acessando o texto. Colei-os como foram escritos, sem qualquer correção, tampouco identificação de autoria, até porque faz diferença quando são tantos iguais? Era previsível, tediosamente previsível. Um C.Q.D. (Conforme Queríamos Demonstrar) tão fácil de se obter que não foi preciso nenhum esforço.
É claro que esses comentaristas nem perceberam, mas agiram exatamente como Felipe Neto em relação a Tiago Leifert. Se não sabe do que falo, leitor ponderado, leia a coluna da semana passada. Não deixa de ser engraçado, embora provavelmente a comparação os enfureça mais ainda. Mas é um fato. Embora defendam coisas tão diferentes, tornam-se muito parecidos no comportamento contra quem parece pensar diferente.
Mas isso não significa que estou horrorizado com essa reação, nem acho que deveriam ser censurados ou algo assim. Mais me divirto do que outra coisa, acredite. Até porque, assim como defendo o direito de quem prefere silenciar, também defendo o de quem queira ficar gritando transbordando de ira. Se houver excessos, há a via judicial para resolver isso.
O que me interessa aqui é destacar como não percebem que a consequência desse berreiro seja justamente o oposto do que gostariam que acontecesse. Em vez de conquistar mais pessoas para seu lado, afasta. E, se você precisa que eu lhe explique o porquê disso, tenho uma má notícia para lhe dar. A verdade é que essa postura apenas suscita aplausos nos seus iguais, afastando todos os demais. Ou seja, se dependesse dessas torcidas organizadas, o adversário delas vencerá na próxima eleição. E não sei, não, se não será isso que decidirá...
Mas basta não ter essa postura antagonista que um diálogo pode surgir. Graças a Deus houve um comentário, entre os mais de 40, que me ajudará a dar um exemplo disso, assinado como sendo de Andre Passos, a quem agradeço. Reproduzo sem correções, como os outros:
“Seria interessante se o Escorsim escrevesse um artigo explicando objetivamente o porque de ele detestar o presidente/governo Bolsonaro. Nada de razões estéticas, superficiais, do tipo ‘ele é grosseiro’; ‘se comunica mal’; ou de acusa-lo de ‘fobias’. Uma abertura ao debate, permitindo que os leitores saibam o que, afinal de contas, o presidente tem de tão ruim, ao ponto de ficarmos com a impressão, ao término da leitura, de que o autor enxerga equivalência moral, ou mesmo de competência administrativa, entre os candidatos, sendo ambos igualmente ruins. Ficar dizendo que Bolsonaro é feio, chato e bobo, como fazem isentões tipo Tiago Leifert, diz mais do jornalista do que sobre o presidente.”
Este ano é uma escolha fácil para mim, pois o favorito, segundo as pesquisas, considero o pior de todos. Por motivos mais do que óbvios, Lula é meu “ele não”
Faço questão de responder. Qualquer leitor que me acompanha aqui não tem dificuldade para deduzir para que “lado” eu tendo mais. Nas próximas eleições meu voto será pela mesma razão de sempre. Desde que voto para presidente sempre escolhi o que considero o menos pior. Sigo assim. Este ano é uma escolha fácil para mim, aliás, pois o favorito, segundo as pesquisas, considero o pior de todos. Por motivos mais do que óbvios, Lula é meu “ele não”.
Mas, se for preciso relembrá-los, cito o ministro Luiz Fux, presidente do STF, que dias atrás disse: “Ninguém pode esquecer que ocorreu no Brasil, no mensalão, na Lava Jato, muito embora tenha havido uma anulação formal, mas aqueles 50 milhões eram verdadeiros, não eram notas americanas falsificadas. O gerente que trabalhava na Petrobras devolveu US$ 98 milhões e confessou efetivamente que tinha assim agido”.
Portanto, caro Andre Passos, meu artigo da semana passada nada tem a ver com o que penso ou deixo de pensar sobre Bolsonaro e seu governo, muito menos se pode concluir que eu o consideraria moralmente equivalente a Lula (não considero). Aliás, nem sobre Lula é o artigo. Eu falava sobre outra coisa: sobre o direito de alguém se manter distante desse griteiro todo, independentemente de lado. Como eu quero continuar a ficar, inclusive, o que penso ser o desejo da maioria.
Aliás, no próprio artigo tem uma boa pista de que somos maioria. Confira as reações ao texto: a imensa maioria foi de pessoas que se disseram “felizes” ou “inspiradas”, ao menos até o momento. Isso não significa que sejam “isentões”, nem que votarão nesse ou naquele, ou que acham isso ou aquilo dos candidatos. Significa apenas que estão de saco cheio dessas torcidas organizadas.
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