Não sei se é assim para você também, leitor socialmente enredado, mas ando me distanciando cada vez mais das redes sociais. Ao menos como ambiente social. Para mim, sempre que entro no Twitter parece que desavisadamente fui parar no meio de uma briga de torcidas na rua e sem policiamento. Já no Facebook é como se fosse uma briga de escola. Só no Instagram não é assim, porque ali ninguém briga, é como estar no shopping. Talvez seja por isso que seja a rede social que mais vem crescendo nos últimos tempos, especialmente no Brasil.
Durante anos usei rede social como tal, ou seja, como meio de contato com amigos, bate-papo e distração. Com o tempo, fui usando mais para trabalho, já que boa parte do que faço é pela internet e depende de redes sociais para divulgação, mas hoje é praticamente só para isso. Lá por 2009 minha preferida era o Twitter. Hoje, só entro lá como aqueles mineiros que foram recolher material nuclear em Chernobil depois da explosão. Posso ter toda a proteção possível para evitar os insanos, ficar por poucos minutos apenas, mas sei que mesmo assim isso já me matou.
No Facebook não é muito diferente, embora menos enlouquecedor. Para quem gosta de escrever ali é muito mais agradável e convidativo, por isso aos pouco acabei abandonando o Twitter. Mas aí chegaram esses tempos bicudos em que as empresas criadoras das redes assumiram o papel de editoras de conteúdo de seus usuários e começaram a censurar, punir e transformá-los em inimigos. Pessoalmente, não tive problemas com isso, salvo com um post, um só, bastante antigo, que o Facebook deletou e avisou que era por infringir sei lá que regra inventada muito depois de o post ter sido publicado.
Chegaram esses tempos bicudos em que as empresas criadoras das redes assumiram o papel de editoras de conteúdo de seus usuários
Enfim, a consequência é óbvia: tanto Facebook quanto Twitter passaram a desestimular a liberdade de expressão e alimentaram muito mais do que curaram o ambiente intoxicado de ódio que diziam querer evitar e combater. Nesse contexto o Instagram cresceu e acho muito inverossímil que não tenha acontecido justamente porque sua estrutura praticamente inviabiliza o griteiro de surdos das outras redes. Ainda bem.
Nesta semana fiquei com saudades de quando o Twitter e o Facebook não eram o que são hoje. Precisava encontrar algo muito antigo no meu perfil do Facebook. Quem tem conta por lá sabe que é mais fácil desmatar a Amazônia do que encontrar qualquer coisa de anos atrás. E assim fui “passeando” pelo passado, o que não deixou de ser uma experiência interessante de autoconhecimento. Os tempos mudam, alguns interesses também, surgem outros focos de atenção, mais amigos, os trabalhos que vão ficando pelo caminho, os planos de vida alterados pelas circunstâncias, enfim, por ali fica até fácil de fazer um belo exame de consciência de quem você se tornou, ao menos até aqui.
Uma das coisas mais legais foi clicar nos links que compartilhei, para ver o que tinha me interessado. Fiquei feliz com o resultado, seriam coisas que eu compartilharia hoje também, mas, mais do que isso, percebi que quase sempre eram coisas que encontrava nas próprias redes sociais e que longe de despertar raiva, tensão, como hoje acontece, haviam me feito sorrir, alegrar, escapar das dificuldades do dia a dia. Ao contrário de hoje, quando entrar no Twitter e Facebook parece mais um mergulho dentro do Congresso Nacional ou de algum apocalipse qualquer. Deus me livre!
Dou um exemplo. Em 2012, quase nada postei sobre política e dentre as várias coisas legais que compartilhei, ao menos legais para mim, estava a história de Paco e Tommy Torres. Tommy é um músico porto-riquenho que já compôs músicas para Alejandro Sanz e Ricky Martin e era relativamente famoso à época quando, pelo Twitter, um sujeito chamado Paco começou a lhe mandar mensagens pedindo ajuda para conquistar a garota por quem se apaixonara e que era fã de Tommy. Foram vários tweets, mas, como não obtinha resposta, resolveu escrever uma carta e enviá-la, creio que pelo inbox do Twitter mesmo. Eis a carta:
“Querido @tommy_torres: Não sei se você realmente lê estas cartas, mas não perco nada por tentar. Escrevo para pedir-lhe algo que para mim é questão de vida ou morte. Não pense que exagero, é a verdade. Há uma garota que, não imagina como, mas não sai da minha cabeça. Ela fica encantada com suas canções e ao que parece você é para estas coisas muito eloquente e portanto pode imaginar o que quero pedir... O problema é que quando estou com ela não me saem as palavras! E quem sabe você não poderia me ajudar a dizê-las, de uma forma bem poética, que eu morro por ela. E que isso de romantismo não se me dá tão fácil quanto para você. Anda, me dá umas linhas bonitas que arranquem mil suspiros dela. Porque a verdade a ser dita é que a amo e nada mais... Não sei se isso bastará. Espero sua resposta e ajuda. Obrigado. @paco----Santiago”
Passaram-se os dias e nada de resposta, então Paco enviou outra, dizendo: “Senhor @tommy_torres: Não me deu resposta. Eu que pensava que era boa gente… Pode ser que esteja muito ocupado, mas tenho que insistir que me ajude a conquistar minha garota. Mando em cópia minha carta anterior caso não a tenha visto. @paco---- Santiago”
Mas na verdade Tommy havia lido tudo e estava preparando não apenas uma resposta, mas atendendo ao pedido de Paco. Tommy compôs a música Querido Tommy, em cuja letra usa a própria carta de Paco, acompanhada de sua resposta, dizendo: “Paco amigo: desculpe pelo atraso. Espero que você não se importe de eu ter copiado sua história aqui. No amor não sou especialista, não sei de onde tirou isso e nada poderia estar mais longe da verdade. Não confunda palavrório com sentimentos. Metáforas são apenas palhas do intelecto. Se me pergunta o que dizer à sua garota, somente diga que você morre por ela. Não me ocorre melhor maneira, que isso de romantismo é apenas um jogo de xadrez. Quando se trata de sentimentos, não há nada como sermos diretos. Diga que a ama e nada mais. Seguramente, bastará.”
O sucesso foi imediato, viralizando pelas redes sociais. Fui atrás para saber se Paco havia dado retorno a Tommy, mas nas poucas entrevistas do músico em que foi perguntado sobre isso, disse não saber o que houve com Paco e se conseguiu ficar com a tal garota. À época nem desconfiei que pudesse ter sido uma jogada de marketing, mas, mesmo que tenha sido, foi uma bela jogada. Ao menos me fez escutar a música à época e agora de novo e, ao escutá-la, sorrir, escapando um pouco dessa maluquice que estamos vivendo nas redes sociais, razão suficiente para compartilhar o vídeo mais uma vez. Seguro bastará? Espero que sim, sinceramente.
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