Se você tem mais de 40, até uns 35 anos, creio, é provável que tenha se escandalizado dias atrás com uma notícia que viralizou por todo lado, cuja manchete era: “Quem é o Slash?” Se só soube agora, perdoe. Mas aposto que achou absurdo também que possa existir quem não saiba quem é o guitarrista que participou da apresentação de Ryan Gosling (“quem?” Pois é) na cerimônia do Oscar de 2024.
Pouco importa se você gostava ou gosta de Guns N’ Roses, até se preferisse que Slash nunca tivesse existido, mas o fato é que não tem como não saber quem é. Salvo se você não esteve no mundo nos anos 1990. Pois, então, tenho outra notícia: tem uma pá de gente que não estava mesmo por lá. Seja bem-vindo ao time dos que se descobrem velhos, pouco importando a idade.
Está teimando? Outro sinal de velhice. Façamos um exercício de imaginação, então. Imagine que você estivesse lá pelos 40 anos naquela década de 1990 e, do nada, Mick Taylor apareceu tocando guitarra no Oscar. No dia seguinte, nos jonais: “Quem é Mick Taylor?”. Você ficaria indignado, tenha certeza, achando absurdo que não conhecessem de imediato o guitarrista que foi dos Rolling Stones na sua fase mais criativa, entre o fim dos 1960 e meados dos 1970.
Que “moral” temos para reclamar de as novas gerações não conhecerem as anteriores quando as anteriores tampouco se interessam por conhecer direito as novas, salvo quando inevitável?
Não sabia quem era o Mick antes de eu ter contado, não é? Pois, então, eis como as gerações do século 21 podem perfeitamente nunca terem ouvido falar de Slash. Assim como nós, salvo raras exceções, não conhecemos os famosos do rádio dos anos 1930 (que era a tevê e a internet do mundo à época), para dar outro exemplo. E que dizer dos grandes do século 19? Na peneira do tempo, pouca coisa permanece. A maioria de nós não se tornará passado, desaparecerá.
Além disso, que “moral” temos para reclamar de as novas gerações não conhecerem as anteriores quando as anteriores tampouco se interessam por conhecer direito as novas, salvo quando inevitável? Ou você vai me dizer que sabe quem é Bad Bunny? Eu não fazia a menor ideia, mas fui fazer um teste comigo mesmo, pesquisando os artistas mais escutados na história do Spotify para ver quantos eu conhecia. E lá estava o tal do Bad Bunny no Top 3 do serviço de streaming mais popular do planeta.
Não vou escutar Bad Bunny, porém, porque tudo tem limite, mas entende meu ponto? Esse desinteresse, seja pelo novo ou pelo antigo, faz não só envelhecer precocemente, parando no tempo (pouco importa se no tempo de antes ou no de agora), mas é também o que faz muitos passarem vergonha se descabelando na defesa de uma suposta superioridade “da sua época” sobre as demais. Pode até ser, mas como você pode saber se desconhece as outras para comparar?
E é assim também que outro sinal de velhice precoce aparece, quando até o que lhe parecia horroroso quando jovem – ou horroroso agora que você é jovem (na remota hipótese de um estar a me ler ) – se torna(rá) palatável, até legal, quando você fica(r) velho. Eu, por exemplo, nunca achei que iria gostar de Elton John, por exemplo. Mas já escutou Mona Lisa and Mad Hatters? Coisa fina.
Até me esforço para conhecer coisas novas, não apenas na música, mantendo um coração aberto, que é como se contempla a arte. Tenho me surpreendido mais do que imaginava, sendo grato por conhecer artistas como James Bay e Sam Fender, que não são desconhecidos no mundo, salvo para os “velhos” sintonizados apenas e tão-somente nas Antena 1 da vida ou que só seguem aqueles perfis de rede social com nomes como “Tied to the 90’s” e “Back to the 80’s”.
Enfim, acabei escrevendo como quem fala sozinho (outro sinal de velhice?). A verdade é que, quando li a manchete “Quem é Slash?”, realmente fiquei alguns segundos estupefato, entre o apatetado e o indignado, depois entre o triste e o resignado, escutando cair a ficha da minha velhice. E se você, leitor quarentão, estava até aqui achando que era uma exceção, notou que não precisei te explicar o que significa a expressão “cair a ficha”?
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