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Francisco Escorsim

Francisco Escorsim

Música

As madrugadas (ou sessões-da-tarde) de Taylor Swift

A cantora e compositora Taylor Swift. (Foto: Facebook/página oficial Taylor Swift)

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Estava curioso pelos próximos passos de Taylor Swift depois de folklore e evermore, discos que comentei por aqui. Sempre me interesso quando compositores talentosos fazem de sua arte ferramenta de amadurecimento pessoal. Significa que, se perseverarem, em algum momento expressarão mais do que seus “eus”. Aí, sim, se tornarão realmente memoráveis.

Se com aqueles discos parecia que Taylor se permitiu ser plenamente quem era, ajudada pelas restrições impostas pela pandemia, o que lhes deu um ar de estreia inaugural, o passo seguinte confirmou que era isso mesmo. Começou a regravar os discos anteriores, agora com pleno controle artístico, do jeito que queria e não fez, seja pelas imposições da indústria musical, seja por não ter tido coragem.

Novo disco surgiu apenas semanas atrás: Midnights, que não deixa de ser uma meditação sobre esse revisitar do passado. Segundo a compositora, as músicas do álbum retratam “13 noites sem dormir espalhadas pela minha vida”. Boa sacada, criar companhia a quem passe a madrugada de insônia fritando a mente com alguma obsessão. E quem nunca?

Midnight é um bom disco, com ótimas letras, mas, em comparação com os anteriores, é como uma pausa no amadurecimento de Taylor Swift

No caso de Taylor, suas insônias foram quase somente sobre relacionamentos amorosos, a maioria deles fracassados, com noites repletas de lamúria ou fúria, como se escuta em sete das músicas do disco: Maroon (“And I wake with your memory over me / That's a real fucking legacy to leave”), You’re Own Your Own (“You’re on your own, kid / You always have been”), Midnight Rain (“And I never think of him / Except on midnights like this”), Question...? (“Do you wish you could still touch her? / It’s just a question”), Vigilante Shit (“She don’t start shit, but she can tell you how it ends / Don’t get sad, get even”), Bejewelled (“Don’t put mе in the basement / Whеn I want the penthouse of your heart”), Labyrinth (“‘It only hurts this much right now’ / Was what I was thinkin’ the whole time / Breathe in, breathe through, breathe deep, breathe out / I’ll be gettin’ over you my whole life”).

Mas não somente, há uma velha novidade do amor que deu certo, o relacionamento de seis anos com Joe Alwyn, com madrugadas mais leves e sonhadoras, com o amor sendo cantado em Lavender Haze (“I been under scrutiny / You handle it beautifully / All this shit is new to me”), Snow on The Beach (“My smile is like I won a contest / And to hide that would be so dishonest”), Sweet Nothing (“I find myself runnin’ home to your sweet nothings / Outside, they’re push and shovin’ / You’re in the kitchen hummin’ / All that you ever wanted from me was sweet nothing”) e Mastermind (“And the touch of a hand lit the fuse / Of a chain reaction of countermoves / To assess the equation of you / Checkmate, I couldn’t lose”).

Apenas duas músicas vão além desse tema, embora ainda orbitando em torno dele. Em Karma, há o deliciar-se quando desafetos se deram mal ou erraram sobre ela: “’Cause karma is my boyfriend / Karma is a god / Karma is the breeze in my hair on the weekend / Karma’s a relaxing thought / Aren’t you envious that for you it’s not?”

Por fim, o carro-chefe com a confessional Anti-Hero, das que ela mais gostou de compor, por considerá-la muito honesta, em que discorre sobre vários de seus defeitos, a começar dizendo que tem “essa coisa” de envelhecer, mas nunca ficar mais sábia. Mas isso não parece coerente com quem é capaz de perceber que seu altruísmo é apenas disfarce para seu narcisismo, como canta em verso mais adiante. Taylor pode ser honesta aqui, mas também há muito de jogo de cena. Em outro dos versos ela diz que encara o sol de frente, mas nunca o espelho. Mas olhar-se no espelho é só o que fez em todas as músicas.

Já a escolha do retorno ao gênero pop, em vez do folk dos discos anteriores, enfraquece o poder confessional das letras, pasteuriza as dores e alegrias, trazendo as músicas muito mais para a sessão-da-tarde do que para as madrugadas solitárias. Isso não significa que não seja um bom disco, com ótimas letras, mas, em comparação com os anteriores, é como uma pausa no seu amadurecimento e um deleitar-se vaidoso na liberdade de ser e dizer o que quiser, inclusive seus defeitos. Espero que, nos próximos, Taylor Swift volte a olhar de frente para o sol.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

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