Apoiadores do presidente Donald Trump durante invasão do Capitólio.| Foto: Win McNamee/Getty Images North America/Getty Images via AFP
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E a invasão do Senado americano por apoiadores trumpistas? Acontecia enquanto eu escrevia essa coluna. Fez-me lembrar do Manguinha. Centroavante típico, ou seja, tipicamente ruim, que jogou no Athlético no fim dos anos 80, na época em que o Furacão ventava tanto quanto nevava no Brasil.

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Meu pai era coxa, mas minha mãe era mais athleticana. Resultado: cresci athleticano. E meu pai, bom como era, cansou de me levar ver jogo do Trétis. E olha que era jogo no Pinheirão. Quem é de Curitiba sabe. O único estádio no mundo em que a torcida ficava abaixo do nível do gramado.

Era 1989, início do Torneio da Morte, em que os seis piores classificados do Brasileirão disputavam para ver quem sobreviveria. Quatro cairiam para a Série B. Na estreia, o Trétis pegou o Vitória, no Pinheirão. Lá foi meu bom pai me levar assistir.

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Na pelada infindável nas redes sociais, os adversários ignoram a bola (vulgo: os fatos) e preferem chutar a nuca uns dos outros

Estava no começo do segundo tempo, ganhávamos por 2 a 0, calor de rachar, só queria saber de tomar sorvete, nem ficava mais na ponta do pé para tentar assistir à pelada. Daí teve uma jogada pela esquerda, cruzamento, todo errado como sempre, bola na mão do goleiro. Virei-me para encher o saco do pai querendo mais sorvete e veio o grito da torcida: gol. Como assim? A bola estava com o goleiro!

Que tinha se passado? Atrapalhei meu pai, não sabia também. Perguntamos ao Joaquin Teixeira mais próximo que, rindo e limpando o bigode de cerveja, respondeu: gol de nuca! Só fui entender vendo na televisão. O goleiro quis sair jogando rápido e, no que chutou, a bola bateu na nuca do Manguinha, voltando para se aconchegar no fundo da rede.

Manguinha se virou todo bravo com o goleiro, mas, quando viu que foi gol, ficou com pena e se solidarizou, mal comemorando. Foi a única coisa que testemunhei no estádio, o Manguinha consolando o goleiro. Tem fotos de jornal da época para não me deixar mentir.

Vendo essa confusão toda nos EUA, que não difere em essência da que vivemos por aqui e acontece em várias partes do mundo, não resisti e fui dar uma conferida no Pinheirão das redes sociais, o Twitter. A diferença é que, na pelada infindável nas redes sociais, os adversários ignoram a bola (vulgo: os fatos) e preferem chutar a nuca uns dos outros.

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Deduzo que o vencedor, que serão todos porque são todos também juízes, levará o troféu Dilma Rousseff, gravado com a famosa profecia da impichada: “Não acho que quem ganhar ou quem perder, nem quem ganhar nem perder, vai ganhar ou perder. Vai todo mundo perder”. O que, obviamente, gerará revolta em ambos os times que voltarão à peleja dando voadoras retóricas e assim seguirá esse baile até... até que a briga estoure na realidade e “cancelamentos” de parte a parte sejam levados às últimas consequências?

Vejo aqui na tevê um maluco vestido de cantor do Jamiroquai passeando pelos salões do Capitólio como se fosse um líder de torcida organizada. Aliás, em 89, era de ouro das redes sociais, a turma era toda Lulla-lá nas arquibancadas. Ganhou o Collor. E o Trétis venceu a partida, mas terminou o torneio da morte rebaixado. O que isso pode nos ensinar sobre o que está acontecendo hoje em dia? Não sei. Só sei que sinto saudades do Manguinha. Até do Pinheirão.