Ray Bradubry, conhecido autor de ficção científica, como o famoso Fahrenheit 451, trabalhava onde e quando podia. Em suas palavras: “Eu consigo trabalhar em qualquer lugar. Escrevia em quartos e salas de estar quando vivia com meus pais e irmãos em uma pequena casa em Los Angeles. Trabalhei na minha máquina de escrever na sala, com o rádio ligado e meus pais e irmãos falando ao mesmo tempo. Mais tarde, quando quis escrever Fahrenheit 451, fui à Ucla [Universidade da Califórnia] e encontrei um sótão que era uma sala de máquinas de escrever em que, se você inserisse 10 centavos na máquina, você comprava 30 minutos do seu uso”.
Anthony Trollope, autor inglês de inúmeros romances, como As Crônicas de Barsetshire, trabalhava nos correios. Como arranjava tempo para escrever? Acordava às 5h30 da manhã e escrevia até as 8h30, com o relógio na sua frente. Ele exigia de si250 palavras a cada 15 minutos. Se terminasse uma novela antes das 8h30, pegava uma folha em branco e começava outra. Depois das 8h30, parava e passava o dia trabalhando nos correios. Além disso, caçava duas vezes por semana. Sob esse regime produziu 49 novelas em 35 anos.
Se você é daqueles que acha que não tem tempo para nada, responda a duas perguntas: será que você tem algum objetivo nesta vida? Se tem, será que realmente o quer?
Haruki Murakami, premiado escritor japonês, autor de Kafka à Beira-Mar, dentre outros, trabalha assim: “Quando estou trabalhando em um romance, me levanto às 4 da manhã e trabalho por cinco a seis horas. Na parte da tarde, eu corro 10 quilômetros ou nado por 1.500 metros (ou faço ambos), e então leio um pouco e ouço alguma música. Vou para a cama às 9 da noite. Eu mantenho essa rotina todos os dias, sem variação”.
Mas você pode estar pensando que nenhum deles teve mulher e filhos para cuidar. Então conheça como era a rotina de Alice Munro, a famosa contista canadense: “Eu tinha filhos pequenos, não tive nenhuma ajuda. Foi na época em que não havia máquinas de lavar louças, se você consegue acreditar nisso. Não havia como eu conseguir tempo. Não podia olhar adiante e dizer ‘isso vai me levar um ano’, porque pensava que a cada momento algo aconteceria e tomaria todo meu tempo. Então eu escrevia aos pedacinhos com uma expectativa de tempo limitado”. E ela ganhou o Prêmio Nobel de 2013 assim.
“Ah, mas são artistas, gente diferente, criativa”, você pode estar pensando. Mas não é isso que os fez realizar algo na vida. Substitua todos e qualquer um por um vestibulando, concurseiro, estudante que precisa trabalhar para pagar estudos, e veja se não fazem sacrifícios semelhantes ou até maiores para conseguirem o que querem. Ou aqueles que acordam bem cedo ou vão bem tarde depois do trabalho para fazerem academia, nadar, correr, tudo porque querem estar bem de saúde ou serem “fitness”.
O que explica conseguirem tempo para fazer o que querem é justamente possuírem um objetivo claro que realmente desejam alcançar, realizar. Ou seja, se você é daqueles que acha que não tem tempo para nada, responda a duas perguntas: será que você tem algum objetivo nesta vida? Se tem, será que realmente o quer? Dificilmente alguém que responde “sim” a ambas as perguntas tem problemas de inação e nunca culpa a falta de tempo, mas faz o possível para aproveitar o pouco tempo que possui. Agora, se respondeu “não” a qualquer uma delas, então você poderia ter todo o tempo do mundo que ainda assim não arranjaria tempo para nada.
E ter objetivos nem é tão difícil assim. Mas, enquanto não os define, tome um emprestado desde já: comprometa-se a fazer o melhor possível nas coisas que tem para fazer. Todos os dias. Isso talvez não lhe traga um objetivo na vida, mas certamente lhe ensinará como terá de realizá-lo. E a sensação diante de algum dever cumprido da melhor forma possível vale mais do que parece. Como dizia Hemingway, outro que tinha uma rotina firme de trabalho, depois que fez um bom serviço: “Quando você para, está vazio e ao mesmo tempo preenchido, do mesmo jeito que você fica depois de fazer amor com alguém que você ama. Nada pode te machucar, nada pode acontecer, nada significa nada até que no próximo dia você faz isso de novo”.
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