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Em encontro para bajulação diplomática, Lula recebeu Nicolás Maduro. Tudo com muito amor, pompa e circunstância. Socialismo para os outros, o bom e do melhor para nós, companheiro! Olhando a cena, lembro-me do final de Revolução dos Bichos: “as criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já se tornara impossível distinguir quem era homem, quem era porco”. Um encontro desses confunde mesmo a gente.
Claro que o nosso presidente não perdeu a oportunidade para fazer belos discursos em nome da democracia e da amizade que unem esses dois estadistas. Tudo dentro do cerimonial e dos conformes.
A última vez que Nicolás Maduro esteve no Brasil foi em 2015, quando participou da cúpula do Mercosul realizada em Brasília. Advinha quem governava o país? Dilma Rousseff, aquela que em 2017 fez comparou a situação de Maduro com o Iraque antes do assassinato do ditador Saddam Hussein:
“Não vou culpar o Maduro só. Ali tem um conflito, querida. É que nem o que fizeram… Você lembra o que fizeram com o Saddam Hussein? Lembra? Lembra do que fizeram? Fizeram o seguinte: O criminoso era o Saddam Hussein. Mataram-no da forma mais bestial possível. Quando fizeram isso, destamparam e saíram da Caixa de Pandora todos os monstros possíveis. A ponto de armas iraquianas financiarem a invasão do Mali. Não é invasão. O rolo terrorista do Mali. De onde sai o Isis (Estado Islâmico)? O exército islâmico saiu de onde? Saiu do fato de que os EUA acharam que havia uma posição democrática ali. E não tinha”.
Não tentem explicar, a habilidade oratória de Dilma só poderá ser compreendida pelas futuras gerações, gente da posteridade que passou a infância assistindo a dancinha no TikTok. Vamos voltar a Lula, sempre mais cristalino no quesito bajular os amiguinhos e improvisar sábias palavras em nome da democracia.
Diante de Maduro, Lula enfeitou algumas palavras de consolação, luta e amizade:
Se eu quiser vencer uma batalha, eu preciso construir uma narrativa para destruir o meu potencial inimigo. Você sabe a narrativa que se construiu contra a Venezuela, de antidemocracia e do autoritarismo. [...] Está nas suas mãos, companheiro, construir a sua narrativa e virar esse jogo para que a gente possa vencer definitivamente e a Venezuela volte a ser um país soberano, onde somente o seu povo, através de votação livre, diga quem é que vai governar aquele país. É só isso que precisa ser feito e aí os nossos adversários vão ter que pedir desculpas pelo estrago que fizeram na Venezuela.
As críticas ao regime do Maduro não implicam preconceito contra o povo venezuelano. Lula sabe disso, mas uma mentirinha retórica em nome do amor e da democracia é pragmatismo.
Em sua conta no Twitter, aplicou o dito acima a fim de construir nova narrativa: O preconceito com a Venezuela é muito grande. Na campanha, havia muitos discursos contra a Venezuela. Diziam que o Brasil iria virar Venezuela, enquanto, na verdade, só queremos que o Brasil seja Brasil.
Lula sabe que não faz muito sentido falar em preconceito contra um país. Geralmente, preconceito e xenofobia são dirigidos a um povo. Mas no caso da Venezuela, o problema não é o povo, mas o regime de Nicolás Maduro. Ora, as críticas ao regime do Maduro não implicam preconceito contra o povo venezuelano. Lula sabe disso, mas uma mentirinha retórica em nome do amor e da democracia é pragmatismo.
Em março deste ano, o Conselho de Direitos Humanos da ONU recebeu um relatório da Missão de Apuração dos Fatos sobre a Venezuela. Neste documento, há relatos de repressão, ameaças e até assassinatos de pessoas que confrontaram o governo. Segundo o relatório, os grupos perseguidos são de líderes sindicais e organizações não-governamentais. Além disso, canais que se colocaram contra o presidente Nicolás Maduro e o governo da Venezuela foram fechados e impedidos de se manifestarem contra o regime.
Marta Valiñas, que integra a Missão Internacional Independente de Apuração de Fatos na Venezuela, diz que “encontrou motivos razoáveis para acreditar que as autoridades e as forças de segurança venezuelanas planejaram e executaram desde 2014 graves violações dos direitos humanos”. Mas tudo isso, segundo Lula, não passa de narrativas e de preconceito contra a Venezuela. Como Lula deixou bem claro, a situação em que se encontra a Venezuela, toda crise política, social e econômica, é de responsabilidade dos... adversários da Venezuela.
E esses adversários, bradou Napoleão, pedirão desculpas pelo estrago que causaram à prosperidade da Granja Solar.