Não me considero um bom escritor. Pelo menos no que diz respeito ao estilo, sofro; e, por sofrer, faço de tudo para melhorar a escrita. Não sou professor de produção textual ou técnicas de redação. Minha formação é em Filosofia e Artes. Entretanto, considerando o fato de que lanço ao público as coisas que escrevo, meus alunos sempre me perguntam o que eles precisam fazer para escrever melhor. Então, se você tem um amigo ou um filho no ensino médio, deixo aqui algumas dicas.
A primeira coisa que muita gente esquece é o que significa um texto. Por isso, a dica de ouro deverá ser a mais banal de todas: tomar consciência a respeito do tipo de texto que precisamos melhorar. Eu não sei escrever textos literários. Não que eu não tente, mas não são suficientemente publicáveis. Reconheço minhas limitações. Como não devo nada a nenhum coach, já aviso que não sairei da minha zona de conforto.
Geralmente, uma redação escolar é um texto do gênero expositivo-argumentativo. Escrever uma redação nada mais é do que ser capaz de tomar uma posição diante de um problema e defendê-la de modo argumentativo. Não existe “eu lírico”, mas você pode dar as caras e dizer o que pensa do assunto. Escrever textos argumentativos pertence a uma prática social cujas raízes se confundem com a própria democracia. Não a democracia dos populistas e dos revoltados, não a democracia dos corruptos e hipócritas, mas a do cidadão que é moralmente leal e comprometido com a diferença entre rachadinha, pedra na vidraça, bem comum e vergonha na cara.
Quer escrever melhor? Simples: aprenda a pensar melhor. E pensar melhor não se refere ao falatório popular de “desenvolver senso crítico”
Ora, eu sei, ninguém espera ganhar um Nobel com uma redação escolar; espera-se, no máximo, conseguir boa nota para ingressar numa boa faculdade e, quem sabe, fazer disso hábito de toda a vida. Escrever bem, aqui, quer dizer argumentar bem, participar do debate público de forma a respeitar princípios fundamentais como o da dignidade da pessoa, a propriedade privada e o patrimônio público. Ser consequente não só com os fatos, mas com a lógica e a ética. Ou seja, como entendiam os gregos: ingressar, como adulto, na polis.
Em geral, professores de técnicas de redação ensinam seus alunos a identificar o “tema”, construir a estrutura e apresentar o texto de forma gramatical que cumpra requisitos mínimos de clareza e coerência. Eu gostaria de insistir que o mais relevante para quem deseja aprender a escrever melhor é compreender a natureza do argumento, a forma lógica do pensamento.
Partindo do pressuposto de que há problemas que não são resolvidos com o simples apontamento de fatos, argumentar significa assumir uma posição capaz de justificar racionalmente o porquê de as coisas serem o que são e, assim, propor possíveis correções, sobretudo no âmbito social. Por esta perspectiva, argumentar significa a prática discursiva cujo movimento racional parte de um estado de perplexidade para encontrar um estado de resolução. Não há texto argumentativo que não identifique e proponha solução para um problema. Não há argumento que não confronte posições rivais.
Outra coisa: ler, sem dúvida nenhuma, pode ser importante, mas não basta ler qualquer coisa e de qualquer jeito. Leitura argumentativa complementa a escrita argumentativa.
Todo texto argumentativo tem a seguinte estrutura: uma conclusão substantivamente vinculada à posição defendida; premissas que devem funcionar como justificativas para aceitar a conclusão; e, por fim, a inferência que indica que a conclusão se fundamenta nas premissas. Antes de tudo, trata-se de trabalho lógico muito mais do que citação de dados maquiados com indignação social.
O rigor de um texto provém da validade lógica da inferência; não dos temas e das citações aleatórias de fontes; não dos sentimentos. Tudo o que não estiver contido nessa estrutura deve servir de arranjo estilístico para tornar o texto esteticamente mais agradável e retoricamente mais conveniente. A habilidade de lidar com dados e estatísticas não pode servir de tapa-buraco para a falta de rigor lógico. Escrever melhor não significa expressar nossos sentimentos ou citar frases de efeito de algum sociólogo polonês para – como dizem – encher linguiça.
Quer escrever melhor? Simples: aprenda a pensar melhor. E pensar melhor não se refere ao falatório popular de “desenvolver senso crítico”. Pensar melhor significa ser capaz de sustentar uma tese ou um conjunto de teses mediante a prática discursiva racionalmente justificada. Na prática, entender a função e a forma de um argumento é o caminho promissor para melhorar a escrita, a fala e a civilização. Bárbaros, ao contrário, berram e balbuciam, destroem a memória e os inimigos.