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Francisco Razzo

Francisco Razzo

Francisco Razzo é professor de filosofia, autor dos livros "Contra o Aborto" e "A Imaginação Totalitária", ambos pela editora Record. Mestre em Filosofia pela PUC-SP e Graduado em Filosofia pela Faculdade de São Bento-SP.

Jornalismo

O dólar e as fake news do amor e da democracia

Dólar câmbio
Jornalismo chapa-branca se junta ao governo para inventar fake news sobre os motivos da alta do dólar. (Foto: Thomas Breher/Pixabay)

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Não sou economista e quero deixar isso claro. Não pretendo me intrometer em assuntos que não domino. Meu foco aqui é outro: quando a construção de narrativas – ou a disseminação de fake news – se torna conveniente. Para uma parte da imprensa, é interessante manter-se alinhada à defesa do governo. Ou seja, uma coisa é certa, há interesses em jogo.

Penso que a jornalista Daniela Lima, da GloboNews, foi um tantinho longe demais no quesito “defesa apaixonada do governo” ao atribuir a alta do dólar a memes e fake news. Não demorou nada para tratarem o comentário dela como a mais pura verdade.

O ministro da Secom, Paulo Pimenta, chamou a alta do dólar de “operação criminosa” da “indústria da fake news”. Disse que os autores dos posts deveriam ser “identificados, punidos e responsabilizados”. É curioso como a retórica de “combate às fake news” vira pretexto para silenciar opositores. A ameaça de punição aqui não é contra informações falsas, mas contra qualquer crítica que escape à narrativa oficial. Criminalizar memes e postagens é um passo perigoso, porque transforma opiniões – ainda que exageradas ou satíricas – em alvo de censura. No fundo, é uma tentativa de blindar o governo de uma discussão que deveria ser pública: sua responsabilidade na gestão econômica.

O mercado reage a riscos, não a patriotismos feridos. Se há desconfiança, é porque o governo envia sinais de instabilidade

No X, influenciadores alinhados com o governo compraram a tese. Lázaro Rosa, com mais de 200 mil seguidores, que se intitula “ativista pela democracia”, escreveu: “Sim, os ‘operadores do mercado’ foram ‘influenciados’ por fake news. Esse é o nível do tal ‘mercado’ que vem boicotando o nosso país”. Ora, a ideia de que o mercado teria interesse em boicotar o próprio país é risível. Investidores buscam lucro, não vingança. O mercado reage a riscos, não a patriotismos feridos. Se há desconfiança, é porque o governo envia sinais de instabilidade. A narrativa de sabotagem serve apenas para desviar o foco: enquanto uns falam em “boicote”, o governo foge da sua responsabilidade em criar um ambiente econômico confiável. Só isso.

Um jornalista da Globo, que tem quase 50 mil seguidores em seu perfil no X, chamou a alta do dólar de “ataque especulativo”: “ATENÇÃO: O dólar está sob ataque especulativo. Investidores estão agindo contra a moeda do Brasil para LUCRAR com a desvalorização do câmbio”. Isso aqui é convenientemente vazio. Não precisamos ser economistas para entender isto: todo movimento de mercado envolve especulação; é assim que ele funciona. Investidores não “atacam” moedas por birra ou esporte – eles querem grana. Ganância é um problema bem diferente de burrice. Jogar a culpa em especuladores é pura malandragem para encobrir a incompetência do governo. A desvalorização do real não é produto de um complô, mas de uma gestão que prometeu picanha pra pobre e entregou pé de galinha. O mercado não ataca o Brasil; ele se defende do que o Brasil está se tornando.

O que vimos aqui foi a análise econômica ser substituída por slogans: especuladores malvados, investidores conspiradores, memes malignos. Conhecemos esse roteiro. O fato é que quem acredita que o mercado reage a boatos infantis ignora deliberadamente como funciona a lógica do mercado e, por isso, não entende a alta do dólar. Simples: a alta do dólar é resultado da falta de confiança. O governo Lula insiste, e seus aliados insistem em criar uma informação mais conveniente a suas irresponsabilidades fiscais. A sinalização é clara para os investidores: há risco. Mercado reage a risco, não a fofocas de WhatsApp.

Portanto, o dólar sobe porque o governo falha em oferecer previsibilidade. Memes divertem, não derrubam moedas. Culpar boatos é subestimar a inteligência do público e, pior, ignorar a dimensão da crise que o próprio governo está criando. Se há um ataque especulativo, como dizem, o alvo é o governo – não o real. E isso acontece por uma razão simples: quem tem capital para investir sabe exatamente quem transformou a picanha em artigo de luxo.

A acusação contra as notícias falsas funciona como uma notícia falsa. Ao acusarem as redes sociais, livram-se de prestar contas das suas ações. São as fake news do amor e da democracia. Essas estão liberadas. E sabem o que é mais irônico de tudo isso? A Daniela Lima terminar a fala dela com a seguinte alegação: “Pode parecer absurdo, e de fato é, mas aqui trazemos a informação verdadeira para vocês”.

Enfim, vamos esquecer tudo isso um pouco e lembrar da única coisa que importa: um Feliz Natal do Senhor, meus caros leitores!

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

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