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Logicamente falando, considera-se o melhor argumento aquele que é capaz de oferecer uma conclusão verdadeira a partir do encadeamento consistente, transparente e coerente de premissas verdadeiras. Nesse caso, argumentos podem ser válidos ou inválidos. Eles devem apresentar uma forma lógica, objetiva e independente dos anseios pessoais de quem argumenta.

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A palavra “silogismo” vem do grego e significa, literalmente, “encadeamento” ou “conexão de ideias”. Pode ser traduzida, também, por raciocínio. As regras de inferência de um argumento são objetivas e determinadas pela lógica. Ou seja: não dependem de experiências subjetivas e checagem empírica. Todo argumento, dada a limitada condição humana, está sujeito à revisão crítica.

Um argumento será válido quando a conclusão for inferida rigorosamente das premissas. Por sua vez, será inválido quando não respeitar as regras de inferência. Trata-se, pois, de lógica e não de psicologia. Evitar fundamentar regras lógicas de estados mentais psicológicos é um dos maiores desafios de quem participa do debate público.

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O problema de todo argumento ruim é ser apenas aparentemente válido

Uma curiosidade: todas as premissas podem ser verdadeiras, mas o argumento só tem realmente validade se, e somente se, esse encadeamento apresentar uma rigorosa coerência lógica entre a conclusão e as premissas. Nesse caso, argumentos não são verdadeiros, mas válidos. Verdadeiras devem ser suas premissas – vale dizer que uma “premissa” é a proposição assertiva que compõe um argumento.

Exemplo clássico de um argumento válido:

1. É o caso em que todos os gatos são mamíferos.
2. Jonny é um gato.
3. Logo, Jonny é mamífero.

Levando em consideração que as premissas 1 e 2 são verdadeiras, então a conclusão, premissa 3, necessariamente será verdadeira. Argumentar refere-se a esse movimento de conclusão logicamente justificada. A validade do argumento não tem a ver com a veracidade das premissas.

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A mais clara regra da inferência afirma que, se premissas forem verdadeiras, então a conclusão necessariamente terá de ser verdadeira. A condição para a validade de um argumento é garantida pela regência interna desse encadeamento. Argumentos inválidos não cumprem esse requisito básico. Ou seja, é um argumento inválido quando a conclusão não segue, logicamente, das premissas.

Exemplo de argumento inválido:

É o caso em que a Terra tem uma lua.
Verônica é estudante de Medicina.
Logo, o Palmeiras tem três títulos da Copa Libertadores.

Ainda que todas as premissas fossem verdadeiras, incluindo a conclusão, esse argumento não cumpre o requisito mínimo da coerência lógica: é, portanto, inválido justamente porque as premissas verdadeiras não se relacionam logicamente. Não há uma estrutura lógica interna que as sustentem. Um bom leitor de textos argumentativos será justamente aquele capaz de encontrar e analisar a forma lógica de um texto.

Um exemplo mais sutil:

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Se estiver chovendo, o chão estará molhado lá fora.
É fato de que o chão está molhado lá fora.
Portanto, está chovendo.

Embora mais sutil do que o primeiro exemplo, esse é um típico caso de argumento inválido, pois a conclusão não segue necessariamente das premissas. Essa falácia é chamada de “afirmação do consequente”, e faz parte do grupo de falácias formais non sequitur, isto é, os argumentos são aparentemente válidos em suas estruturas lógicas, porém a conclusão não segue das premissas.

O grande problema de todo argumento no debate público é ser conduzido para o debate erístico, aquele cujo objetivo principal é o de apenas derrotar o interlocutor pelo puro prazer da discórdia

A validade desse argumento só consegue ser fornecida pela força de sua aparência. E esse é o problema de todo argumento ruim: ser apenas aparentemente válido. Porque toda aparência de validade de um argumento deriva não de sua coerência, transparência e consistência lógica, mas do irrefletido hábito retórico, estético, literário e psicológico de aderir a algumas verdades que precisam ser preservadas a todo custo, seja por quais razões forem.

O grande problema de todo argumento no debate público é ser conduzido para o debate erístico. O debate erístico consiste no debate cujo objetivo principal é o de apenas derrotar o interlocutor pelo puro prazer da discórdia. Erístico vem de “eris”, que em grego significa, literalmente, “discórdia”. Diferentemente dos debates movidos pelo interesse genuíno de conhecimento, que devem seguir cada passo do argumento a fim de encontrar a resolução da controvérsia, independente de vitórias ou derrotas pessoais.

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Não é um debate pela discórdia, mas pela verdade, pela consistência, transparência e coerência do que se defende. No próximo texto, abordarei mais detalhes sobre as partes de um argumento.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]