Silvio Almeida, ministro dos Direitos Humanos que recentemente combateu a opressão do “etarismo”.| Foto: Reprodução/ Twitter
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Recentemente, numa conversa com um amigo, nos questionamos a respeito da possibilidade de rastrear as origens das políticas identitárias no marxismo. Do ponto de vista teórico, defendi que não, Marx surtaria diante dessas “políticas” que mais favorecem a opulência dos ricos. Vale destacar que minha crítica a políticas identitárias não implica uma defesa do marxismo. Confesso que considero os erros de Marx filosoficamente mais instigantes.

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Claro que alguns expoentes das políticas identitárias podem até expressar em suas preocupações por justiça social e toda ladainha ideológica elementos que até lembrem um pouco com o marxismo. Entretanto, o mais difícil seria pensar como um marxista ortodoxo aceitaria que fazer políticas a partir de afetos subjetivos e performáticos possam contribuir com o processo revolucionário e beneficiar a classe trabalhadora. É só dar uma boa espiada, sem muito esforço, nos principais interessados em propagar as identidades como motor da história.

Cá entre nós, um marxista comprometido com a classe trabalhadora parte da premissa de que as condições materiais da sociedade são fundamentais para a organização social. Concorde ou não com suas definições e pressupostos, as aspirações de Marx procuram ser científicas e focadas em aspectos objetivas da realidade social. Em Marx, o que determina a realidade social é a forma como as pessoas interagem na produção material de bens. Portanto, são as relações de produção que dão fundamento e dinâmica ao tecido social.

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O fim da história está no protagonismo revolucionário da ditadura do proletariado. É uma questão que se resolve na tomada de poder dos meios de produção. Noutros termos: na porrada e no paredão. Não com campanhas publicitárias milionárias para “desconstruir o patriarcado” e a “família tradicional”

Fora o mais importante. No marxismo, a ênfase do desenvolvimento histórico e social está na luta de classes. Marx sustenta que a sociedade é dividida em classes antagônicas: a classe trabalhadora, que vende sua força de trabalho, e a classe burguesa, que é a que detém os meios de produção. O fim da história está no protagonismo revolucionário da ditadura do proletariado. É uma questão que se resolve na tomada de poder dos meios de produção. Noutros termos: na porrada e no paredão. Não com campanhas publicitárias milionárias para “desconstruir o patriarcado” e a “família tradicional”.

Ora, isso significa que o critério para pertencer a uma classe social é objetivo. Assim como a luta pela sua libertação. Ou seja, a classe social se define pela relação objetiva de uma pessoa com meios de produção. Ou você detém ou não detém esses meios. Não tem redes de afeto e sororidade. No marxismo, classes sociais são realidades objetivas. No identitarismo, tudo é devidamente vago e performático. Para ser honesto, nunca li um identitário dando uma definição objetiva de “identidade”. É um vale-tudo gramatical. Ou melhor, um niilismo gramatical. Basta o sentimento de se sentir historicamente excluído.

Primeiro que para as políticas identitárias, uma identidade social refere-se a uma construção social e culturalmente produzida que atribui significado e valor a características específicas de uma pessoa ou de um grupo. Essas características podem incluir raça, gênero, orientação sexual, etnia, religião, deficiência, classe social e outras formas de identificação social. Ou seja, qualquer coisa pode ser a representação de identidade social. A identidade social não é fixa, mas moldada por experiências, subjetivamente demarcadas, de sentimento de exclusão.

A ênfase está na experiência de se sentir oprimido por estruturas dominantes. O que dá a sensação de pertencimento é o combate a essas desigualdades estruturais e a discriminação que afetam grupos marginalizados. Esse ponto pode, de fato, parecer marxista. A sociedade está dividida entre opressores e oprimidos. Mas a questão é o critério objetivo que define quem e quem e qual o final dessa história. No marxismo tradicional, por mais vago que seja, o final feliz da história é o comunismo. E no identitarismo?

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No marxismo, classes sociais são realidades objetivas. No identitarismo, tudo é devidamente vago e performático. Para ser honesto, nunca li um identitário dando uma definição objetiva de “identidade”

As políticas identitárias examinam, a fim de subverter, as dinâmicas de privilégio e opressão e buscam criar consciência sobre como certos grupos têm vantagens estruturais enquanto outros enfrentam discriminação e marginalização. Não é bonito? Pois, então, o curioso é que toda essa denúncia tem sido usada para enriquecer ainda mais quem já é rico e manter caladinho quem não aceita ser tratado por um rótulo social.