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Francisco Razzo

Francisco Razzo

Francisco Razzo é professor de filosofia, autor dos livros "Contra o Aborto" e "A Imaginação Totalitária", ambos pela editora Record. Mestre em Filosofia pela PUC-SP e Graduado em Filosofia pela Faculdade de São Bento-SP.

Futebol

O Brasileirão não pode parar

O Beira-Rio, estádio do Internacional, em Porto Alegre, em foto de 7 de maio. (Foto: Isaac Fontana/EFE)

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Parar ou não parar o Brasileirão? Reconheço que o tema é delicado. Mas gostaria de argumentar contra qualquer possibilidade de paralisação do campeonato brasileiro de futebol. Digo desde já que não argumentarei segundo uma lógica puramente economicista. Não se trata apenas de cálculos e planilhas. Deus me livre! Acredito em princípios humanitários genuínos.

As consequências da tragédia no Rio Grande do Sul afetaram significativamente os clubes de futebol da região. Além dos prejuízos diretos, como danos a estádios e infraestruturas, houve uma paralisação de atividades que impactou o calendário de jogos e treinamentos. Portanto, infelizmente, essas equipes serão prejudicadas ao longo do campeonato. O que fazer?

A CBF decidiu adiar por 20 dias os jogos de todas as equipes do Rio Grande do Sul, ao todo são 42 partidas em várias categorias e divisões. Os jogos afetados incluem clubes como Grêmio, Internacional e Juventude na Séries A, fora outras divisões. A paralisação geral do Brasileirão não deverá acontecer.

O que importa não é o futebol, mas o potencial para ajudar as vidas que já foram impactadas

Os presidentes de Flamengo, Palmeiras e São Paulo – Rodolfo Landim, Leila Pereira e Julio Casares, respectivamente – se reuniram para discutir apoio aos clubes gaúchos afetados pelas enchentes no Rio Grande do Sul. Eles expressaram solidariedade e ofereceram suas infraestruturas para alojamento, treinos e jogos de Grêmio, Internacional e Juventude. Além disso, sugeriram que a CBF utilize a Granja Comary para ajudar. A iniciativa reflete um movimento de unificação do futebol brasileiro em resposta à crise. Os três clubes publicaram a seguinte nota oficial:

Na condição de representantes de Flamengo, Palmeiras e São Paulo, os presidentes Rodolfo Landim, Leila Pereira e Julio Casares se reuniram na manhã desta terça-feira (07) para discutir novas ações de apoio aos clubes gaúchos neste momento difícil na história do Rio Grande do Sul. As três agremiações se solidarizam e lamentam profundamente a tragédia provocada pelas fortes chuvas no estado. Além das ações já realizadas e de outras que serão promovidas, os três clubes decidiram colocar suas infraestruturas à disposição de Grêmio, Internacional e Juventude. Desse modo, estas equipes, fortemente impactadas pelas consequências do desastre natural, poderão utilizar as nossas instalações para alojamento, treinamentos e jogos, se assim desejarem. O Flamengo disponibiliza o CT George Helal (Ninho do Urubu); o Palmeiras oferece a Academia de Futebol, o Allianz Parque e a Arena Barueri; o São Paulo propõe acolhimento no CT de Cotia e no MorumBIS. Da mesma maneira, os três clubes creem fortemente que a CBF, em seu papel de entidade máxima do futebol nacional, possa disponibilizar a Granja Comary como mais um local de abrigo aos clubes gaúchos, entre outras formas de apoio. Temos certeza que o futebol brasileiro se unirá cada vez mais pelo povo do Rio Grande do Sul.

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Além dessa atitude, o Palmeiras anunciou que doará a renda total do jogo contra o Athletico-PR às vítimas das chuvas no Rio Grande do Sul. Os jogadores também vestirão uma camisa com um QR Code para incentivar doações durante a partida.

Pessoalmente, considero a atitude desses três grandes clubes admirável, ao colocarem de lado disputas de ego. O futebol, por vezes, proporciona isso.

Infelizmente, a vida humana é marcada por tragédias. Não se pode simplesmente parar um campeonato inteiro, que sustenta milhares de pessoas, devido ao prejuízo esportivo de três equipes. Mas não quero dar a impressão de indiferente. O que importa não é o futebol, mas o potencial para ajudar as vidas que já foram impactadas; e, para apoiar esses jogadores e todas as pessoas envolvidas, é crucial continuar as atividades, gerando ainda mais receita moral e econômica. Insisto, não se trata de ignorar as dificuldades dessas equipes, mas sim de apoiá-las usando a visibilidade que apenas o futebol proporciona.

O campeonato deve continuar justamente para mobilizar e sensibilizar torcedores a respeito do que o futebol proporciona. Isso exige uma virtude chamada solidariedade, que não pode ser imposta

Parar o campeonato não auxiliaria as vítimas da tragédia, pois, além de afetar a receita dos clubes, impactaria um ecossistema econômico inteiro que o Brasileirão sustenta. A interrupção geraria consequências econômicas incalculáveis. Sem jogos, sem receita. Entendo que esse argumento pareça meramente econômico, mas vai além. Há um capital moral que deve sustentar a decisão de continuar os jogos.

Sem receitas, não haveria mobilização possível. A paralisação também prejudicaria não só jogadores, a Rede Globo e patrocinadores, mas também pequenos comerciantes informais como os vendedores de churrasquinho e pipoca. Bares e restaurantes próximos aos estádios, entre tantos outros serviços, também sofreriam.

Para não desestabilizar todo esse ecossistema, o campeonato deve continuar. E deve continuar justamente para mobilizar e sensibilizar torcedores a respeito do que o futebol proporciona. Isso exige uma virtude chamada solidariedade, que não pode ser imposta. O que Palmeiras, São Paulo e Flamengo fizeram foi um apelo genuíno ao exercício dessa solidariedade. Hoje, eles mostraram que o esporte ainda é uma força capaz de despertar o que há de melhor em nós.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

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