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Francisco Razzo

Francisco Razzo

Francisco Razzo é professor de filosofia, autor dos livros "Contra o Aborto" e "A Imaginação Totalitária", ambos pela editora Record. Mestre em Filosofia pela PUC-SP e Graduado em Filosofia pela Faculdade de São Bento-SP.

Racismo

Supremacismo woke

Racismo woke
Para o racismo woke, um bebê que nasça branco é alvo legítimo de ataques. (Foto: Marcio Antonio Campos com Midjourney)

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Confesso que eu não conhecia a cantora Iza. Na verdade, para ser bem sincero, ainda não conheço. Porém, alguns comentários que apareceram na minha timeline do X me chamaram a atenção. Não há outra palavra para descrever o que aconteceu; trata-se de uma onda de supremacistas negros atacando a filha da cantora com o jogador de futebol Yuri Lima: Nala.

O tom de pele mais claro de Nala, em comparação com o da mãe, se tornou o alvo de ataques que variavam entre a ironia e o preconceito explícito. É uma espécie de naturalização do racismo. Sim, é racismo mesmo. Não dá para minimizar e inventar um monte de teorias sobre a impossibilidade do racismo reverso. A recém-nascida foi hostilizada como um pequeno bicho. São ideólogos do supremacismo racial. Não tenho coragem de chamar de “racismo do bem”, então batizei de supremacismo woke.

“A filha da Iza nasceu BRANCA. BRANCAAAA!” e “Nossa! E a menina nasceu branca? Coitada!”. Isso não deixa claro o incômodo racista que questiona o valor de um bebê simplesmente pela cor de sua pele? Sim, esse tipo de racismo reflete a mentalidade supremacista, seja ela branca ou negra, que insiste em avaliar indivíduos com base em uma hierarquia racial que define quem deve ser valorizado.

Uma recém-nascida foi hostilizada como um pequeno bicho por ideólogos do supremacismo racial

Assim como os supremacistas brancos, alguns movimentos de supremacia negra também compartilham a visão de que pureza racial é um valor inquestionável. Todos eles contribuem para a perpetuação de divisões e intolerâncias.

Quando vi, lembrei do filme Tempo de Matar, em que Matthew McConaughey interpreta o advogado Jake Brigance. Em seu discurso final durante um julgamento, ele pede aos jurados que fechem os olhos e imaginem a violência brutal sofrida por uma menina negra. Ele descreve em detalhes o horror da violação sofrida pela garota. É um final de filme brilhante. Depois do discurso, ele conclui: “Agora, imaginem que ela é branca”.

Esse episódio é um reflexo das reações vistas nos ataques a Nala, em que o valor da criança foi destruído simplesmente por ter nascido com um tom de pele diferente do esperado pelos doentes do espírito, isto é, nasceu branca. Imaginem se ela fosse negra e recebesse uma onda de ataques de supremacistas brancos? Claro, dirão que racismo reverso não existe. Então, faça-se de vítima e tudo será permitido. Afinal, esse é o grito de quem, ao reivindicar sua dor, se absolve de todas as suas responsabilidades. O desejo de justiça só disfarça o de vingança. No caso, a vítima se eleva ao papel de juiz e carrasco. Não quer chamar de racismo reverso? Tudo bem, só não chame de amor.

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É possível justificar seu posicionamento racista com uma explicação enviesada sobre a origem do termo “racismo”. Veja o que escreveram: “O racismo foi um termo criado pra nomear o que Hitler fazia com os judeus, que eram BRANCOS… É UM DADO HISTÓRICO MUITO VALIOSO que muita gente não sabe, mas que pode irritar uma galera que adora ser racista gratuitamente, com a pecha de que ‘só porque é branco, pode’”. Claro que isso é coisa de gente ignorante que faz análise etimológica livre. Como se diz por aí: “Fontes: meus delírios”. Porém, reflete bem o espírito de muitos acadêmicos e teóricos críticos raciais.

Essa tentativa de justificar preconceitos através de uma perspectiva enviesada sobre a história do racismo é uma tática comum entre grupos que buscam fundamentar suas ideias de superioridade racial. Eles se alinham com a eugenia, que defende a pureza e seleção racial como forma de estabelecer uma sociedade hierarquicamente superior. A ideia de que certas características físicas determinam o valor de uma pessoa é uma herança direta do pensamento eugenista, que historicamente tentou legitimar a exclusão e a opressão com base em diferenças biológicas.

A lógica dos supremacistas woke é uma variante contemporânea que se esconde sob o manto da justiça social, mas que, na prática, reproduz hierarquias e divisões raciais. Esses grupos afirmam promover a igualdade apenas para reforçar uma nova forma de segregação ao definir o valor dos indivíduos com base em categorias raciais rígidas. Assim, os supremacistas woke se assemelham muito aos supremacistas brancos ao adotar uma perspectiva essencialista da raça. Entretanto, os dois são, em resumo, essencialmente perversos, como todo racista.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

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