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Raça não existe. Com relação à raça, existe estupidez e canalhice. Os mitos racialistas messiânicos, que acreditam na supremacia histórica de uma raça em detrimento de outra, têm origem em pseudociências. E, por serem pseudociência, não descrevem a realidade e muito menos compreendem a natureza humana. Foram deformações da modernidade. Para ser mais preciso, substituem a natureza do homem por fantasias que categorizam o mundo a partir da canalhice de alguns. É o racionalismo cego produzindo seus monstros. Por isso, uma falsa razão, para ser honesto. Noutros termos, tem origem na ignorância. Os efeitos sociais da ignorância sempre são devastadores.

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Hoje, surge um novo dispositivo de controle: Quando você fala, quem fala? Trata-se do tema do “lugar de fala”. A lógica informal já resolveu isso faz tempo. As atuais ciências das relações humanas, infelizmente, não lidam com lógica. Infelizmente, optaram pelas flutuações performativas da experiência social. E grande questão política do combate ao racismo consiste na pergunta: “quem pode falar pelos outros?” Eu não posso. Ninguém mais pode. Só há solidariedade se existir vínculos identitários. Nada de comunhão de pessoas. O sentido do sofrimento humano só tem um significado social: ser parte de uma minoria discriminada.

A teórica indina Gayatri C. Spivak responde: “Essa tradição [de estudo] defende que há diferentes ‘efeitos de verdade’ a depender de quem enuncia um discurso. […] um homem branco rico e mais velho é ouvido com mais atenção e seus argumentos são mais considerados dos que aqueles de uma mulher jovem, negra e pobre […] há uma espécie de contradição performativa, ou seja, embora um homem branco possa estar denunciando o racismo e o machismo, a sua própria enunciação reafirma a hierarquia social”.

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Invalidar uma crença, opinião ou argumento porque não somos simpáticos com a fonte se chama falácia genética

Resumindo: não importa o conteúdo do que você fala, não importa se você denuncia o racismo; a única coisa importante é saber qual lugar você ocupa na hierarquia social quando fala – mesmo contra o racismo. Uma forma de reabilitar pseudociências.

Da minha parte, penso o seguinte: ou somos guiados pela força da violência ou pela força tênue da razão. Não há ambiguidades entre o uso da violência e o uso da razão. Ao contrário do que muitos pós-modernos podem julgar, violência e razão são substâncias que não se misturam. Em vez de falar em “verdades e seus efeitos pragmáticos”, por que não falar primeiro em “validade de uma argumentação”? Por que simplesmente abandonar aquilo que fundamente um discurso? O que determina o valor da fala de alguém a não ser um conteúdo objetivo de que ele está sendo, de fato, racista? A vocação humana para a verdade não pode ser vencida pela deformação da alma de alguns pelo poder.

Uma epistemologia das relações sociais não pode querer dispensar a força da razão por puro capricho. Não há “uma espécie de contradição performativa” no exemplo de Spivak. Há uma falácia que demonstra a invalidade objetiva de quem argumenta olhando apenas para o status social de quem fala. Se um branco rico e mais velho é ouvido com mais atenção e seus argumentos são considerados válidos e verdadeiros por ele ser rico e branco, o problema não é performativo, é lógico. Para ser mais preciso, ilógico.

Racismo se combate com a verdade e não com performances pós-modernas da desconstrução. Invalidar uma crença, opinião ou argumento porque não somos simpáticos com a fonte se chama falácia genética. O erro desse tipo de jogada está em presumir que a fonte de uma determinada argumentação afeta necessariamente a validade do argumento e da conclusão. Se certas figuras históricas são detestáveis para o senso comum, faça de tudo para vincular o argumento a essas figuras. Nada como ser branco, rico e homem para ser detestável. Há figuras históricas cujo efeito psicológico é devastador.

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Nada como denunciar no oponente o fato de ele repetir argumentos propostos por um ditador sanguinário, por exemplo. Não andem de Volkswagen. A origem nazista dessa marca depõe contra a qualidade dos carros. Resumindo a falácia genética: “X é originário de Y, portanto X, agora, deve ter alguns traços em comum com Y”. Se tem um Volkswagen, tem um nazista na garagem.

Negligenciar a verdade em nome do poder é se tornar suscetível aos infernos da subjetividade e do relativismo político. O subproduto do relativismo é o niilismo. E aqui vale tudo. No fim, ganhará o mais forte. E nós voltaremos ao desafio de Trasímaco (personagem importante da República de Platão): “justiça não é outra coisa, e em toda parte, senão a conveniência do mais forte”. Respondendo a primeira pergunta: quando você fala, quem fala? Se não há mais uma força substantiva da razão amparando nossos vínculos sociais, quem fala é convenientemente o mais forte.